A primeira coisa a
dizer sobre a Ordem de Melquisedeque é que este tema é algo alienígena nos
credos do Cristianismo; e, mais ainda, que não se tem nenhum interesse em
pensar em suas implicações, visto que isto desconstruiria um sistema que foi
desenvolvido durante pelo menos 1700 anos de história da igreja como
instituição.
Se fosse falar no assunto
na defensiva, teria que provar que Deus tem na Ordem de Melquisedeque sua
“justificativa” teológica para ser livre como Deus, derramando Sua Graça onde
bem entenda, e sem dar explicações. Mas ainda é uma tentativa de “pedir
licença” e rogar por clemência aos doutores da ortodoxia e senhores da verdade.
E mais: ainda é também uma confissão muito forte acerca do poder inquisitorial
dos doutores e escribas do Cristianismo; os perpétuos neuróticos da
verdade-cartilha; e supostos guardiões do “Santo Graal da Doutrina”.
Desse modo, a fim de
também simplificar ao máximo este texto e fazê-lo também sucinto, apenas
descreverei o que creio sobre a Ordem de Melquisedeque, conforme mencionada nas
Escrituras. Melquisedeque aparece do nada, sem antecedentes e sem explicações.
Abraão encontra com ele e se verga diante dele, e lhe paga o dízimo de tudo
quanto tinha consigo. Melquisedeque abençoa a Abraão. Então, assim como veio,
ele vai, sem deixar vestígios.
Mais tarde, séculos depois disto,
Melquisedeque aparece nos Salmos, quando, também do nada, se diz que o Senhor
jurou que Seu Enviado seria feito Sumo Sacerdote, segundo a Ordem de
Melquisedeque. Somente isto e nada mais. Até a Carta aos Hebreus. É nela que
Melquisedeque volta como nunca antes.
Agora ele é aquele que em Cristo tem seu Sumo
Sacerdote. Jesus se torna Sumo Sacerdote de uma nova ordem sacerdotal, a qual
não era étnica, pois não era judaica. Nem era levitica, posto que Jesus não era
da tribo de Levi, mas de Judá; não tendo, portanto, qualquer relação com o
sacerdócio anterior, o qual tinha na Ordem Levitica, da tribo de Levi, um dos
doze patriarcas de Israel, os representantes humanos do culto que se prestava
ao Deus de Abraão.
Do mesmo modo se pode
dizer que ela nem tampouco se condicionava à informação histórica, carregada de
esperança redentiva, que viajava como fé, mas também como especulação teológica
e fixação de tradição em Israel. Jesus sendo Sumo Sacerdote segundo uma ordem à
qual o próprio Abraão — pai do povo da revelação escrita — se curvava, é
apresentado na Carta aos Hebreus como Aquele que TAMBÉM abençoa a Israel e
todos os que conhecem a informação da Escritura; porém, que não se condiciona
nem à geografia, nem à história registrada como sagrada, nem à informação, nem
a qualquer fronteira, de qualquer que seja a natureza, estando Suas mãos sobre
todos os que Ele mesmo desejar, e com a mesma liberdade com a qual abençoou a
Abraão.
A Carta aos Hebreus diz que esse Melquisedeque
é semelhante ao Filho de Deus, sem principio de dias e sem fim de existência;
sendo superior a tudo quanto era relativo a Abraão, visto que é o maior quem
abençoa o menor. Assim, Melquisedeque não é explicado, mas apenas afirmado. De
fato, ele paira sobre a História, é um pingo de peso explosivo num Salmo, e
arrebenta tudo e todas as ordens, quando relativiza a mais importante de todas,
a que procedia de Abraão.
Ora, o mistério de
Melquisedeque é algo que ecoa o Cordeiro imolado antes de tudo, antes de
qualquer ato criador de Deus. Desse modo, pode-se dizer que o espírito da Carta
aos Hebreus acerca de Melquisedeque, é aquele que o apresenta como uma
manifestação do Cristo Eterno, o qual não foi feito Cristo, no Jesus Histórico;
mas sim, sendo o Cristo Eterno, se mostrou como tal em Jesus, na História.
Talvez seja por esta razão, também, que Jesus disse que Abraão viu os Seus dias
e regozijou-se.
O Jesus Histórico não
fez surgir o Cordeiro e nem a Ordem de Melquisedeque. Pelo contrário, se diz
que Jesus é Sumo Sacerdote “segundo” a Ordem de Melquisedeque; assim como se
diz que o Cordeiro foi imolado antes de tudo; antes de haver mundo. Jesus é a
Encarnação de tudo o que Nele preexistia como Cordeiro Eterno, como o Cristo de
Tudo e Todos, como o Sacrifício da Ordem de Melquisedeque (que manifesta na
História a invasão livre do eterno, se revelando aos homens, e derramando Graça
de todas as ordens); e como Jesus; o Cordeiro de Deus; o Cristo; ou Cristo
Jesus; ou apenas o Cristo; ou ainda o Cristo de Deus; ou simplesmente Jesus
Cristo — que é o que se diz Dele; enquanto Ele mesmo se define como Filho do
Homem, o Caminho, a Verdade, a Vida, o Pão da Vida, a Porta, o Bom Pastor, o
Noivo, e Aquele que é Um com o Pai (entre outras autodefinições).
As implicações de tal
realidade é que são insuportáveis para a religião, pois, virtualmente acaba com
ela, com seus poderes de representação, com suas certezas, com seus dogmas; e,
sobretudo, com seu poder dela “administrar” a graça de Deus aos homens. A Ordem
de Melquisedeque é a Ordem da Nova Jerusalém, na qual os povos são curados, e
todos trazem ao Cordeiro as belezas dos povos. É em razão da Ordem de
Melquisedeque que Jesus diz que muitos virão de todos os quadrantes da Terra,
gente de todas as gerações, e tomarão lugar à mesa com Abraão, Isaque e Jacó.
É também por tal razão que o Evangelho deixa
claro que a maior fé que Jesus vira, não viera de dentro de Israel, mas de um
pagão de fora: o Centurião Romano. Assim como é pela mesma razão que a mulher
que dá um “ santo banho” em Jesus é uma mulher de fora de tudo, uma siro-fenícia.
O problema atual é
que a humanidade entende a Ordem de Melquisedeque, mas já não entende a ordem
de Levi, conforme a Bíblia, posto que tal coisa, para a humanidade, tiveram no
Judaísmo e, sobretudo, no Cristianismo, os seus representantes históricos, o que
fez com que um sentimento de repudio se espalhasse pela Terra em relação a tudo
quanto possa carregar tais “representações”. Ora, quando digo que este é o
problema, não quero, todavia, universalizá-lo; afinal, ainda há bilhões que não
passam sem um bom paganismo judaico-cristão.
O que afirmo é que as
mentes que desejam alguma forma de espiritualidade não vinculada à religião,
assim sentem por não conseguirem mais tolerar a mensagem e o resultado
histórico do que o Cristianismo produziu, tanto como religião, como também como
potestade ideológica e política. Esses, de fora, os pós-cristãos, todavia,
quando ouvem acerca de tal Ordem superior à religião, conseguem entender o
Evangelho em sua maior largueza de percepção. Por esta razão essa tal “Era
Pós-Cristã” é um problema para o “Cristianismo”, mas não significa nada para o
Evangelho. Mas como disse no inicio, o problema não é dizer que Jesus é Sumo
Sacerdote segundo a Ordem de Melquisedeque. O problema são as implicações dessa
compreensão, as quais, sendo levadas a sério, acabam com os poderes da
religião. E quem, na “igreja”, deseja tal coisa?
Fonte: http://www.caiofabio.net/
Pastor, conheci o seu blog há dois ou três anos através do Genizah e fico muito satisfeita com tudo o que eu leio.Muito mesmo.O que me entristece é que parece que cristãos esclarecidos, como o senhor, só estão nos blogs e nunca nas igrejas.Nas igrejas em que frequentei só vi fundamentalismo, corrupção e até mesmo coisas que lembram cultos de religiões afros, por isso estou afastada de igrejas já há algum tempo(embora sempre tenham várias pessoas tentando me levar de volta, mesmo eu sendo uma pessoa correta e conhecendo mais a Bíblia do que muitas delas.É muito complicada essa questão.
ResponderExcluirNáy