segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O MOVIMENTO PENTECOSTAL ONTEM E HOJE

“Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?” Gálatas 3:3. Essa frase do Apóstolo Paulo aos gálatas, bem pode ser aplicado nos nossos dias.

A teologia pentecostal foi formulada por pregadores sem sofisticação acadêmica, limitados na tradição e história do pensamento cristão. Pensadores modernos, preocupados com a racionalidade da fé, foram confrontados por pregadores que reivindicavam dons sobrenaturais que os tornavam habilitados a compreender a Bíblia. Revelações angelicais, profetas e videntes se tornaram comuns.

O pentecostalismo alastrou-se como uma das mais expressivas forças da cristandade no século 20, exatamente por não ser um movimento de teólogos. A experiência com Deus ganhou força conclusiva, obrigando a razão moderna a se dobrar diante da percepção intuitiva, muitas vezes sensorial, que aquecia o coração. Como o pentecostalismo transferiu a fé para a emoção, a vitalidade da igreja do Serviluz, composta em sua maioria por mulheres, é garantida na celebração da vida dignificada.

Os pentecostais afirmam que a experiência com Deus, o encontro místico, transforma. O êxtase pentecostal, tão malcompreendido pelos tradicionais, expressa significados que fogem à razão. A presença de Deus é fonte de vida e de sentido. Destes encontros, o servente da construção civil, a empregada doméstica, o subempregado, se descobrem eleitos de Deus. Cada pessoa capacitada pelo Espírito “sai pelo mundo como mensageira do Senhor”. Anuncia que todos podem ter seus nomes no livro da vida. O batismo no Espírito Santo desperta competência, agilidade e paixão.

Dessa forma, o pentecostalismo mostrou-se um dos segmentos mais ativos, desinstitucionalizados e eficazes do cristianismo nos últimos cem anos. A presença de Deus pode ser sentida, percebida, celebrada, mas sempre como poder para o serviço. A experiência que busca renovação consagra para a missão. Fazer a vontade de Deus autoriza o empreendedorismo. O Espírito Santo lidera, não uma organização, mas pessoas que se sentem revestidas de virtude.

Infelizmente, a teologia da prosperidade aburguesou o movimento. Desfigurado, estou certo que os pioneiros pentecostais nunca pactuariam com a mensagem que gere cobiça. Aliás, denunciariam que o mundo entrou na igreja e que os pentecostais precisam ser renovados. (Ricardo Gondim).
No entanto, nas novas expressões do protestantismo, com seu “crescimento” fragmentado, o velho coronelismo, o antigo espírito oligárquico, o clássico patrimonialismo, o mítico sebastianismo (com seus taumaturgos) do “mundo” cultural político brasileiro fez um caminho inverso: quando nosso Estado nacional e nossa sociedade civil procuravam superá-lo, ele adentrou, avassaladoramente, às novas (e algumas velhas) igrejas e se instalou. A vanguarda protestante foi substituída pelo atraso, ou pela vanguarda do atraso. Se nossos partidos políticos têm vida curta, são carentes de ideologia e programas, centrados, na prática, em um caudilho carismático (Vargas, Prestes, Plínio, Ademar, Brizola, Lula...), nossas novas grandes e pequenas “denominações” começam a girar em torno de nomes, que quando falecem afetam suas instituições (de Melo, MacAlister), ou que estão vivos e ativos (Miranda, Oliveira, Macedo, Soares, Santiago, Hernandes, Milhomens, Rodovalho, Garcia etc.), descendo também ao âmbito local, com os “donos”, caciques, barões, denominados bispos, arcebispos, missionários, apóstolos ou pastores, em um sem-número de igrejas-feudos ou igrejas-empresas. Parafraseando o rei absolutista francês, cada um pode dizer: “A denominação sou eu”, ou “a igreja sou eu”, “essa é a ‘minha’ igreja”, “esse é o ‘meu’ povo”. Em uma inversão em relação ao passado, o dirigente não se subordina à instituição ou às normas; antes, estas vão ao seu reboque, casuisticamente. O poder é vitalício (e, às vezes, hereditário), e seu “espírito” vai atingindo antigas instituições, pela prática de reeleições ilimitadas. Os cidadãos recuam ao “status” de súditos, manipulados, alienados, inclusive como eleitores “de cabresto” dos “candidatos oficiais” nas eleições para os cargos públicos.
Como poderemos superar essa manifestação de atraso e voltar a ser vanguarda? (Robinson Cavalcanti).


Fonte: Revista Ultimato n° 319 – julho/agosto de 2009.

15 comentários:

  1. Caro Pr. Juber Donizete,
    Graça e Paz!

    Parabéns pela postagem!

    Uma retrospectiva realista da trajetória e situação das instituições pentecostais na atualidade!

    Só Deus nessa causa meu amigo!

    Um abraço!

    Pr. Carlos Roberto

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  2. Pr. Carlos,

    Obrigado pelas palavras meu irmão. Nós que somos de uma denominação considerada pentecostal clássica, e a acampanha pelos últimos 20 anos ou mais, temos visto esta trajetória descendente, no sentido espiritual, mesmo crescendo numericamente. Um olhar mais atento em outras denominações, ve-se elementos também preocupantes.

    Só Deus na causa mesmo!

    Abraço.

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  3. Pr. Juber ;

    A paz do Senhor!

    Lamentavelmente estamos vivendo um verdadeiro cataclisma na igreja brasileira , especialmente na nossa denominação Assembleia de Deus.
    Infelizmente estamos vendo os tronos e imperios que estão ruindo e o grande problema é que estão com os olhos fechados, ou não querem exergar mesmo, pois é muito conviniente.
    Pr. Juber não sei se estou ficando criterioso demais ou as coisas estão tomando umrumo que pode ser bem maléfico no final.
    Espero que não corramos o mesmo erro da Europa que está tão mergulhada na obscuridade , e outrora fora um celeiro para tantas coisas, inclusive de missionários.
    Ouvi uma vez o saudoso Pr. Valdir Nunes Bícego dizer:" A Assembléia de Deus é um grande gigante só que estamos dormindo....temos que nos cuidar se entrarmos em sono profundo estamos fadado ao verdadeiro fracasso".
    Sera que já não está acontecendo?

    Bela Postagem,em Cristo,

    Marcos

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  4. Amado Pr. Juber, Graça e Paz!

    Infelizmente, a teologia da prosperidade está saindo das fronteiras do neopentecostalismo e avança pela Assembléia de Deus, já que o seu vice-presidente está promovendo esta famigerada teologia. É um fato muito preocupante.

    Lembro-me que Paulo avisou que nos últimos dias, viveríamos tempos difíceis.

    Nunca na sua história, a igreja evangélica brasileira, precisou tanto de profetas que denunciem estas perversões. Graças a Deus, você, Pr. Juber, é um deles.

    Parabéns pela postagem!

    Um abração!

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  5. Pr. Marcos Serafim,

    Obrigado pela participação que só enriqueceu esta postagem. E realmente as coisas estão tomando um rumo perigoso. A Assembleia de Deus que no início, seus pastores viviam de modo simples, os crentes evangelizavam a todos. Mas o tempo passou, a denominação se institucionalizou e hoje copia modelos de igreja/empresa e consequentemente pastores/empresários das neopentecostais. Há informações que nas duas últimas eleições da CGADB, foram movimentados milhões de reais. Esse dinheiro não foi aplicado em evangelismo, missões ou obras sociais e sim em objetivos políticos e de poder. Uma denominação dividida em "capitanias hereditárias". Mas tem uma coisa: os impérios humanos caem de uma hora para outra, basta uma pedra sem auxílio de mãos se abater sobre os pés de barro, dessa estátua, que tudo vai ao chão. O Senhor está vendo tudo, e segundo o apóstolo Pedro, o juízo começa pela casa de Deus.

    Grande abraço.

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  6. Marcos Wandré,

    Obrigado pela carinho meu prezado. Silas Malafaia é contraditório. Nos anos 90, ele atacou Caio Fábio e defendeu Edir Macedo. Falava contra o G12. Hoje aparece em fotos abraçado a Renê Terra Nova, um dos expoentes brasileiros do G12, traz gurus americanos da teologia da prosperidade para falar em eventos juntamente com o trio Malafaia/Jabes/Linhares. E como você bem lembrou ele é o atual 1° Vice-Presidente da Convenção. Aí fica difícil.

    Abraço.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Vida Graça e Paz,PR J.D.

    Muito triste,mas ai esta os__________________________________________eis o machado na raiz das arvores, e aonde ela cair ai ficara,

    que todos se arrependam, tal vez aja esperaça, para a arvore, cortada,

    Um forte abraço, também orando por voce Pastor,
    C-13, II-Coríntios
    Exortações e Sudações
    8 Porque nada podemos contra a verdade, senão pela verdade.
    9 Porque nos regozijamos de estar fracos, quando vós estais fortes; e o que desejamos é a vossa perfeição.
    10 Portanto, escrevo estas coisas estando ausente, para que, estando presente, não use de rigor, segundo o poder que o Senhor me deu para edificação, e não para destruição.
    11 ¶ Quanto ao mais, irmãos, regozijai-vos, sede perfeitos, sede consolados, sede de um mesmo parecer, vivei em PAZ; e o Deus de amor e de paz será convosco.
    12 Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo.
    13 Todos os santos vos saúdam.
    14 A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. Amém.
    Nele, que nos ama sempre, Jô

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  9. Josué,

    Em meio a tudo isso, Deus tem os seus "sete mil que não dobraram os joelhos a baal".

    Obrigado péla participação.

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  10. Juber,

    vir aqui é sempre descobrir que jamais posso parar !...vc é bom mesmo qdo escreve !

    Parabens

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  11. Excelente postagem Pastor, parabéns!

    Se não tomarmos cuidado com o que lemos e aprendemos nas igrejas, iremos nos tornar adeptos de criacionices, modismos e invencionices que chegam disfarçados de verdadeiro pentecostalismo.

    Algumas dessas invencionices já entram em muitas igrejas discaradamente, antes eram cheias de sutilezas, agora são como um rio que corre sem destino certo.

    Que possamos seguir fiel ao que aprendemos de Deus atravéz de nossos pais, os pioneiros, que apesar de serem falhos, eram simples e fieis ao própósito que Deus lhes chamou.

    Deus abençoe sempre!

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  12. Juber,

    Sinto sua falta lá pelas bandas do Cinco Solas.

    Bela postagem!

    Em Cristo,

    Clóvis

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  13. Alice,

    Bondade sua, cara poetisa. Obrigado pela visita e participação sempre amável.

    Abraço.

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  14. Matias,

    No meio pentecostal, as invenções são maiores, devido a desculpa de ser uma "revelação" de Deus. Ou seja, é querer justificar uma opinião ou desejo pessoal, naquela velha artimanha de dizer que foi "Deus quem lhe falou". Em muitos lugares por esse Brasil, as visões, sonhos ou profecias dos profetas de igreja, tem mais valor do que a Bíblia para os crentes. Aí abre espaço para todo tipo de surto e loucura.

    Abraço.

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  15. Clóvis,

    É que a coisa anda meio corrida, mas esta semana ainda, dou uma passada lá.

    Abraço e obrigado pela participação.

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