quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Teologia pentecostal em debate - Paulo e Lucas não estavam de acordo?

Tenho lido muito do que tem sido escrito recentemente sobre a teologia pentecostal, principalmente no Brasil, pois há materiais sobre o assunto já algumas décadas em outros idiomas. Destaco aqui as obras recentes lançadas pelos também blogueiros assembleianos, Gutierres Siqueira e o Pr. César Moisés Carvalho. 

Billy Graham - O Poder do Espírito Santo;
John Sttot - O Batismo e a Plenitude do Espírito Santo;
John Macarthur - O Caos Carismático
Caio Fábio - Espírito Santo o Deus que a habita em nós;
Gordon Fee - Comentário exegético de I Coríntios

Quantas pessoas que conheci na minha caminhada cristã, que eram pessoas de uma fé modelo,  pessoas de oração, faziam o bem ao próximo, vida familiar exemplar, bom testemunho com todos, evangelizavam como ninguém e partiram desta vida sem falarem em línguas. Os que eram do sexo masculino foram impedidos de serem consagrados ou ordenados ao ministério porque não eram "batizados com Espírito Santo" com a evidência de falarem línguas. 

Ao mesmo tempo em que canso de verem pessoas que são o inverso das pessoas que descrevi acima mas como falam em línguas são classificados pela igreja como batizados com Espírito Santo. Também já vi congressos e pregadores fazendo "batismo com Espírito Santo" em massa! 

Quero finalizar dizendo que falo em línguas desde os meus 14 anos, estou com 52 agora. Os irmãos pentecostais fazem e fizeram um trabalho espetacular na história da evangelização desse país. Amo as Assembléias de Deus, me sinto honrado em fazer parte da história dessa denominação no Brasil, mas acredito que já passou da hora de revermos alguns conceitos que por terem sido ensinados pelos pioneiros viraram "Talmude inquestionável". 

Sou carismático, continuísta. Creio na manifestação dos dons espirituais conforme o Novo Testamento ensina e não conforme esquemas doutrinários que sendo repetidos nos últimos 100 anos. 


terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Augustus Nicodemus fala de "êxodo pentecostal" para as igrejas reformadas e gera polêmica

Os reformados precisam se preparar para receber as centenas e centenas de irmãos pentecostais e neopentecostais que descobriram a fé reformada pela internet

O teólogo presbiteriano Reverendo Augustus Nicodemus Lopes publicou um post em seu perfil do twitter que gerou uma repercussão muito grande. A fala do pastor reformado foi sobre a saída de centenas de pentecostais e neopentecostais de suas igrejas para as igrejas de teologia reformada após estes conhecerem a teologia pregadas por estas últimas.

 Nicodemus alerta os líderes reformados que se preparem para receber esses irmãos vindos do pentecostalismo e do neopetencostalismo, pois se preocupa com a possibilidade deles se decepcionarem caso não encontrem em seu destino uma comunidade preparada para lidar com seus anseios.

 "Os reformados precisam se preparar para receber as centenas e centenas de irmãos pentecostais e neopentecostais que descobriram a fé reformada pela internet e estão vindo cheios de expectativa e esperança para as suas igrejas. Senão a desilusão deles será grande", escreveu Nicodemus.

O post do reverendo rapidamente gerou uma onda de comentários. Alguns de apoio ao seu alerta, outros de testemunhos desses membros que migraram das demais correntes teológicas para o reformismo e, por fim, de outros líderes e teólogos que não gostaram das palavras do líder presbiteriano.

 Críticas

 O pastor Robson Aguiar chamou de "prepotência" as palavras de Nicodemus. Para ele, ao assim se manifestar, o reverendo estaria fazendo "proselitismo calvinista."

 "A decepção será grande. Essas pessoas saem do movimento pentecostal pensando em encontrar uma igreja perfeita, e não encontraram. E o motivo deles irem e por ouvir suas pregações, as do Hernandes e Héber Campos, mas nem todos os pastores possuem esse nível.", escreveu outro internauta.

 Para outro fiel, o desejo do pastor deveria ser "que as igrejas pentecostais e neopentecostais que julga estarem em desacordo com a doutrina bíblica corrigissem seus erros, não que fossem esvaziadas."

 Pentecostais comentam

Líderem pentecostais comentaram a fala de Nicodemus. O pastor e escritor José Gonçalves, teólogo, escritor assembleiano e Membro da Comissão de Apologética da CGADB, diz que o post traz "de forma subliminar a supremacia da teologia reformada e a "problemática" da práxis pentecostal".

"Em que sentido os reformados precisam se "preparar" para receber pentecostais? Somente se enxergamos os pentecostais como um grupo inferior ao reformado ou ate mesmo subalterno. A imagem é de imigrantes, pessoas desorientadas, confusas e sem rumo em busca de asilo. Seriam os reformados, que se consideram o primeiro mundo da teologia protestante, o porto seguro dos pobres advindos do terceiro mundo, os pentecostais? Se este for o caso seria bom lembrar que a teologia protestante, da qual os reformados se acham os legítimos herdeiros e, por isso mesmo parecem querer patenteá-la, não é e nunca foi cem por cento pura. Nem mesmo cem por cento bíblica! Se há problemas dentro da comunidade pentecostal, da mesma forma dentro do arraial reformado", alertou Gonçalves. Confira o texto na íntegra (aqui)

Ele ainda mostra que mesmo com a polêmica provocada pelas palavras de Augustus Nicodemus, é necessário uma autocrítica pelos líderes pentecostais, pois tal "êxodo" não acontece por acaso.

"O texto demonstra consciência do arrefecimento da experiência pentecostal. Há um pentecostalismo sem pentecostes. Em muitos contextos pentecostais a experiência se sobrepõe a palavra de Deus e não apenas a teologia. A Bíblia é usada para justificar práticas bizarras. Muitos líderes são mestres em inventar modismos para prender os incautos."

Um alerta "profetizado"

O comentário de Augustus Nicodemus é o resultado de algo que já tem se notado nos últimos anos e preocupado alguns pastores de vertente pentecostal, pois realmente muitos fieis estão tomando conta da teologia reformada, principalmente pela internet, e com isso tendo um sentimento de que suas comunidades estão aquém no quesito da exposição e interpretação bíblica.

 O teólogo assembleiano Gutierres Siqueira comentou, ainda no início de novembro, sobre esse problema gerado por esse suposto "conhecimento" adquirido por estes fieis, o qual ele chamou de "novo gnosticismo".

 "Fico incomodado quando vejo alguns jovens usando uma linguagem de conversão ao abraçarem a chamada Teologia Reformada. Alguns dizem: "Saí das trevas!". Outros dizem: "Encontrei a luz!". Ou ainda: "Finalmente fui liberto!"", alertou Siqueira.

Gutierres diz fez ainda outro alerta para estes que se dizem impactados ao tomarem conhecimento das doutrinas da graça ensinadas pela fé reformada.

 "É bem provável que esses jovens sejam hoje apenas pessoas que sabem explicar melhor a doutrina da justificação ou a doutrina da santificação, mas a salvação, vale destacar, não é um assentimento intelectual. Muitos ignorantes da doutrina da justificação serão justificados, outros conhecedores profundos dessa mesma doutrina nunca serão. Vamos tomar cuidado com esse novo gnosticismo que diz acreditar na suficiência de Cristo, mas no fundo se acredita justificado pela informação doutrinária que detém.", finalizou.

Fonte: https://www.jmnoticia.com.br/noticia/augustus-nicodemus-fala-de-exodo-pentecostal-para-as-igrejas-reformadas-e-gera-polemica/20263


terça-feira, 27 de outubro de 2020

Ed René e a "atualização da Bíblia"


Meu comentário: Se o Ed René ao dizer que a Bíblia precisa ser atualizada ele queria dizer que era a interpretação da Bíblia, então não vejo motivo para tanta gritaria que houve nas redes sociais a sua declaração. Se no entanto, ele queria dizer que é o texto da Bíblia que precisa ser mudado ou adaptado, aí já vejo um sério problema.

O que eu quero dizer é que  a interpretação da Bíblia vem sendo atualizada há muito tempo. Ed René não inventou a roda. Começando no tempo da própria Bíblia. Vejamos:

No livro de Hebreus: "Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança que está confirmada em melhores promessas. Porque, se aquela primeira fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para a segunda". Hebreus 8:6,7

E mais: "Dizendo Nova aliança, envelheceu a primeira. Ora, o que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar".Hebreus 8:13.

Isso significa que há textos que não são imutáveis. Eles foram inspirados, mas tinham uma data de validade, não podiam ser aplicados em qualquer tempo. 

Quando Jesus disse:  "Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo.  Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno. Mateus 5:21 e 22. 

"Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;

"Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus"; Mateus 5:38,39 e 43 e 44.

O que Jesus fez uma reinterpretação do texto ou uma heresia? Jesus na verda ele ressignificou o texto.

Um exemplo de mudança dentro do próprio Velho Testamento: a questão dos eunucos:

A Lei era dura em relação aos eunucos. Eles nem podiam entrar na Congregação do Senhor (Deut. 23:1). Nesse mesmo capítulo a Lei exclui também da comunidade os bastardos e estrangeiros.

"E não fale o filho do estrangeiro, que se houver unido ao Senhor, dizendo: Certamente o Senhor me separará do seu povo; nem tampouco diga o eunuco: Eis que sou uma árvore seca.
Porque assim diz o Senhor a respeito dos eunucos, que guardam os meus sábados, e escolhem aquilo em que eu me agrado, e abraçam a minha aliança:
Também lhes darei na minha casa e dentro dos meus muros um lugar e um nome, melhor do que o de filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará.
E aos filhos dos estrangeiros, que se unirem ao Senhor, para o servirem, e para amarem o nome do Senhor, e para serem seus servos, todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem a minha aliança", Isaías 56:3-6.

O que ocorreu ali? Simplesmente a partir de Isaias, o texto de Deuteronômio foi flexibilizado, foi adaptado a uma nova realidade.

Todas passagens acima, mostram uma atualização dentro da própria Bíblia. Agora imagine em dois mil anos de história do cristianismo, quanto textos tiveram uma interpertação mudada com o tempo e a circunstância?

Nos últimos 2000 anos da história do Cristianismo, o que mais a gente viu foi a interpretação da Bíblia sendo atualizada. Temas como escravidão, direitos das mulheres, direitos humanos em geral já foram objeto de muita interpretação. A Bíblia já foi usada para justificar a escrividão, sexualidade (não só para o uso de procriação), o silêncio das mulheres, a proibição do uso de anticoncepcionais. Depois a mesma Bíblia foi usada como base para os direitos humanos.

Mais recentemente a gente anda vendo novas interpretações sobre as mulheres poderem pregar/ensinar, serem ordenadas ao ministério. A homoafetividade hoje está no centro dos debates. A pergunta é como a igreja vai lidar com eles? 

O que eu sei é que a questão homoafetiva é um dos grandes desafios da igreja daqui para frente. Como a igreja lida com os homossexuais? Eles estão entre nós? Como são tratados? Lendo especificamente os 4 evangelhos qual a importância e o que Jesus disse? O que ele quis dizer em Lucas 10:12, Mateus 10:15, Mateus 11:23, Mateus 19:1-12?

O noso grande problema é defendar as causas que os apóstolos como Paulo e o próprio Jesus não devenderam e querer falar onde Deus não falou.

Jesus e Paulo viveram numa sociedade judaica mas dentro dum contexto grego-romano, cujos costumes sociais estão registrados na história, na arte, na arqueologia. Quem já viu a série "Roma" da HBO, que foi elogiada pelos historiadores, viu um mundo sem a influência do cristianismo, como era. Em Romanos 1, Paulo mostra o contexto dos seus dias. O culto a Apolo, Afrodite, Baco eram célebres na época. A história dos Césares estão aí para ser lidas. Mas isso não foi bandeira de causa nem para Jesus nem para Paulo. Simplesmente falavam o evangelho que produzindo vida, transformação.

Gosto muito de uma frase que eu li há alguns anos atrás: A Palavra de Deus é absoluta, mas sua interpretação é relativa.


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

De 'grave depravação' a acolhimento, como a Igreja Católica vem mudando sua posição junto aos LGBT

  


,EDISON VEIGA

Para uma instituição milenar como a Igreja Católica, 17 anos não são muito tempo. Pois em 3 de junho de 2003, o Vaticano publicou um documento chamado "Considerações Sobre os Projetos de Reconhecimento Legal das Uniões Entre Pessoas Homossexuais."

 Eis a conclusão: "A Igreja ensina que o respeito para com as pessoas homossexuais não pode levar, de modo nenhum, à aprovação do comportamento homossexual ou ao reconhecimento legal das uniões homossexuais. O bem comum exige que as leis reconheçam, favoreçam e protejam a união matrimonial como base da família, célula primária da sociedade. Reconhecer legalmente as uniões homossexuais ou equipará-las ao matrimônio, significaria, não só aprovar um comportamento errado, com a consequência de convertê-lo num modelo para a sociedade atual, mas também ofuscar valores fundamentais que fazem parte do patrimônio comum da humanidade. A Igreja não pode abdicar de defender tais valores, para o bem dos homens e de toda a sociedade."

 O texto, aprovado pelo então papa João Paulo 2º (1920-2005), foi assinado pelo homem que ocupava o cargo de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal alemão Joseph Ratzinger — dois anos depois ele sucederia João Paulo 2º, assumiria o nome de Bento 16; dez anos depois, ele renunciaria e abriria espaço para a eleição do argentino Jorge Bergoglio, o atual papa Francisco.

 

Na última quarta-feira (21), foi com certo espanto, não pouca polêmica e um sentimento de acolhimento por parte de muitos excluídos que o mundo reagiu a algumas frases do documentário Francesco, do cineasta americano de origem russa Evgeny Afineevsky, lançado em festival na Itália. Em um trecho de 20 segundos do filme, Francisco diz, em espanhol:

 "Os homossexuais têm direito a estar em família, são filhos de Deus. Não se pode expulsar uma pessoa de sua família ou tornar a vida impossível para ela. O que temos que fazer é uma lei de convivência civil, para serem protegidos legalmente."

 Ao usar a expressão "lei convivência civil", muito possivelmente o sumo pontífice estava se referindo a modelos de legislação de união estável — pois na legislação da Argentina, o termo é literalmente "união convivencial". De acordo com especialistas ouvidos pela reportagem, o papa demonstrou cautela em não equiparar a união dos homossexuais a dos heterossexuais.

 "Precisamos comparar o que foi divulgado ao que ele realmente quis dizer no vídeo, gravado em espanhol. Na tradução em inglês da declaração, aparece 'civil union law', sendo que na verdade, em espanhol, ele diz: 'fazer leis de convivência civil para que estas pessoas sejam cobertas legalmente'. Na legislação brasileira, por exemplo, existe essa distinção entre união civil e convivência ou união estável", afirma a vaticanista Mirticeli Medeiros, pesquisadora de história do catolicismo na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

 "Pode ser que ele tenha tratado do tema de maneira mais abrangente, não focando propriamente no aval ao quesito união civil, como foi divulgado. Ou talvez tenha evitado usar o termo união civil, que pode ser facilmente nivelado a casamento, justamente para não correr o risco de ferir os princípios da instituição que governa."

 "Francisco não faz uma classificação jurídica clara", acrescenta ela. "Só pede que essas pessoas sejam protegidas e amparadas pela lei. Isso é o mais importante. A doutrina católica rejeita qualquer tentativa de igualar o contrato formal entre pessoas do mesmo sexo ao casamento entre homem e mulher."RETERS

'Eles são filhos de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deve ser excluído ou forçado a ser infeliz por isso', disse o papa Francisco sobre a união civil de homossexuais

 Mas entre a frase publicada por Ratzinger e a dita por Bergoglio, evidentemente, há uma mudança clara.

 Conforme ressalta o vaticanista Filipe Domingues, doutor pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, "desde os tempos de Argentina", o hoje papa já defendia que a Igreja "fosse mais aberta a união civil de pessoas do mesmo sexo".

 

"Ele fala em um caminho do meio entre não reconhecer nada e entre aceitar um casamento. Entende a necessidade de que essas pessoas tenham direitos legais reconhecidos, ou seja, herança, compartilhamento do plano de saúde, enfim, tudo o que está ligado a uma união estável", diz, à BBC News Brasil. "Mas o matrimônio ele segue afirmando que deve ser constituído entre um homem e uma mulher para, conforme a Igreja, o bem dos cônjuges e a geração de filhos, essas são as duas principais finalidades do casamento."

 Outros documentos

Em outubro de 1986, já prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Ratzinger publicou uma carta com orientações aos bispos do mundo sobre o "atendimento pastoral das pessoas homossexuais". No documento, ele trata a homossexualidade — chamada por ele de homossexualismo — como um "problema (…) cada vez mais objeto de debate público".

 "A teologia da criação, presente no livro do Gênesis, fornece o ponto de vista fundamental para a adequada compreensão dos problemas suscitados pelo homossexualismo. Na sua infinita sabedoria e em seu amor onipotente, Deus chama à existência toda a criação, como reflexo da sua bondade", diz o texto. "Cria o homem à sua imagem e semelhança, como varão e mulher. Por isto mesmo, os seres humanos são criaturas de Deus chamadas a refletir, na complementariedade dos sexos, a unidade interna do Criador. Eles realizam esta função, de modo singular, quando, mediante a recíproca doação esponsal, cooperam com Deus na transmissão da vida."

 Ratzinger afirma que "optar por uma atividade sexual com uma pessoa do mesmo sexo equivale a anular o rico simbolismo e o significado, para não falar dos fins, do desígnio do Criador a respeito da realidade sexual". "A atividade homossexual não exprime uma união complementar, capaz de transmitir a vida e, portanto, contradiz a vocação a uma existência vivida naquela forma de autodoação que, segundo o Evangelho, é a essência mesma da vida cristã. Não quer dizer que as pessoas homossexuais não sejam frequentemente generosas e não se doem, mas quando se entregam a uma atividade homossexual, elas reforçam dentro delas mesmas uma inclinação sexual desordenada, caracterizada em si mesma pela autocomplacência", prossegue.

 "Como acontece com qualquer outra desordem moral, a atividade homossexual impede a autorrealização e a felicidade porque contrária à sabedoria criadora de Deus. Refutando as doutrinas errôneas acerca do homossexualismo, a Igreja não limita, antes pelo contrário, defende a liberdade e a dignidade da pessoa, compreendidas de um modo realista e autêntico", afirma o documento.


,EDISON VEIGA

Legenda da foto,

'A questão da necessidade de acolher aos homossexuais, mas mantendo o ensinamento do matrimônio entre homem e mulher já vem desde o pontificado de São João Paulo II', diz o sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto

 O então prefeito da Congregação orienta que os ministros da Igreja se esforcem para que os homossexuais não se "desencaminhem" sob argumentos de normalização social e critica correntes católicas que, já naquela época, procuravam acolher essas pessoas.

 "Tenta-se reunir sob a égide do catolicismo pessoas homossexuais que não têm a mínima intenção de abandonar o seu comportamento homossexual", escreve ele, afirmando que "a prática do homossexualismo" estaria "ameaçando seriamente a vida e o bem-estar de grande número de pessoas".

 Em conversa com a BBC News Brasil, o coordenador do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto atenta que "a legalização do casamento homossexual em vários países, particularmente entre as décadas de 1990 e 2000, tornou a questão ainda mais difícil" para o Vaticano.

 

"A questão da necessidade de acolher aos homossexuais, mas mantendo o ensinamento do matrimônio entre homem e mulher, já vem desde o pontificado de São João Paulo 2º", afirma. "Ele já insistia que o casamento e a constituição da família aconteciam entre um homem e uma mulher, mas que não poderia haver qualquer discriminação contra a pessoa do homossexual. Pelo contrário, deveria haver uma preocupação explícita da comunidade cristã em acolher aos homossexuais."

 Neste contexto, muitos bispos — entre eles o argentino Bergoglio — eram partidários ao reconhecimento de uma união civil homoafetiva, desde que não fosse equiparada ao matrimônio entre homem e mulher. Ribeiro Neto, entretanto, acredita que o que está em jogo não é teologia, mas sim uma questão político-cultural sobre as interpretações do matrimônio.

 Na oração do Angelus de 9 de julho de 2000, o então papa João Paulo 2º dedicou-se brevemente ao tema. Citou o "Catecismo da Igreja Católica", destacando que os "atos de homossexualidade são contrários à lei natural". "Um número não desprezível de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais. Eles não escolhem a sua condição de homossexuais; essa condição constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza", leu ele, recomendando em seguida para que todos evitassem discriminá-los injustamente.

 Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé entre 1968 e 1981, o cardeal croata Franjo Šeper (1905-1981) publicou em 1975, sob o papado de Paulo 6º (1897-1978), "A Pessoa Humana: Declaração Sobre Alguns Pontos de Ética Sexual". A questão dos homossexuais é abordada nos quatro capítulos do item 8 do documento.

 Šeper apresenta-os em dois grupos. Aqueles "cuja tendência provém de uma educação falseada, de uma falta de evolução sexual normal, de um hábito contraído, de maus exemplos ou de outras causas análogas" são abordados como de comportamento transitório "ou pelo menos não incurável".

 Os demais, segundo o documento, seriam os "outros homossexuais que são tais definitivamente, por força de uma espécie de instinto inato ou de uma constituição patológica considerada incurável".

 Para este grupo, o cardeal afirma que "alguns concluem que a sua tendência é de tal maneira natural que deve ser considerada como justificante, para eles, das relações homossexuais numa sincera comunhão de vida e de amor análoga ao matrimônio, na medida que eles se sintam incapazes de suportar uma vida solitária".

 O cardeal pede acolhimento pastoral aos homossexuais e que sua "culpabilidade" seja julgada "com prudência". Mas, encerra o capítulo com a condenação católica, lembrando que nada lhes pode "conceder uma justificativa moral".

 "Segundo a ordem moral objetiva, as relações homossexuais são atos destituídos da sua regra essencial e indispensável. Elas são condenadas na Sagrada Escritura como graves depravações e apresentadas aí também como uma consequência triste de uma rejeição de Deus", pontua.

 "Este juízo exarado na Escritura Sagrada não permite, porém, concluir que todos aqueles que sofrem de tal anomalia são por isso pessoalmente responsáveis; mas atesta que os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados e que eles não podem, em hipótese nenhuma, receber qualquer aprovação."

 Outro documento a abordar a questão foi o "Família, Matrimônio e 'Uniões de Fato'", assinado pelo então presidente do Conselho Pontifício para a Família, o cardeal colombiano Alfonso López Trujillo (1935-2008), em julho de 2000.

Logo na introdução, o texto critica as "certas teorias" de ideologia de gênero. "Deste modo, qualquer atitude sexual resultaria como justificável, inclusive a homossexualidade, e a sociedade é que deveria mudar para incluir, junto ao masculino e ao feminino, outros gêneros, no modo de configurar a vida social", pondera Trujillo.

O corpo doutrinário do Vaticano, a Congregação para a Doutrina da Fé, já afirmou que 'o respeito pelas pessoas homossexuais não pode levar de forma alguma à aprovação do comportamento homossexual ou ao reconhecimento legal das uniões homossexuais'

 O texto critica os movimentos jurídicos ao redor do mundo de equiparação das uniões estáveis ao matrimônio e frisa que, no caso primeiro, havia inclusive o reconhecimento às uniões homossexuais. "É preciso recordar aos parlamentares a sua grave responsabilidade de opor-se a isto, posto que os legisladores, e em especial os parlamentares católicos, não poderiam cooperar com o seu voto para este tipo de legislação, porque contrária ao bem comum e à verdade do homem, e, portanto, verdadeiramente iníqua", ressalta.

 Um item do documento é chamado de "Maior gravidade da equiparação do matrimônio às relações homossexuais". "A verdade sobre o amor conjugal permite compreender também as graves consequências sociais da institucionalização da relação homossexual: torna-se patente quão incongruente é a pretensão de atribuir uma realidade conjugal à união entre pessoas do mesmo sexo. Opõe-se a isto, antes de mais nada, a impossibilidade objetiva de fazer frutificar o matrimônio mediante a transmissão da vida, segundo o projeto inscrito por Deus na própria estrutura do ser humano", defende.

 

"Igualmente, se opõe a isto a ausência dos pressupostos para a complementaridade interpessoal querida pelo Criador, tanto no plano físico biológico como no eminentemente psicológico entre o homem e a mulher. O matrimônio não pode ser reduzido a uma condição semelhante a de uma relação homossexual; isto é contrário ao sentido comum."

"No caso das relações homossexuais que reivindicam ser consideradas união de fato, as consequências morais e jurídicas alcançam uma especial relevância", escreve. "As uniões de fato entre homossexuais além disso constituem uma deplorável distorção do que deveria ser a comunhão de amor e vida entre um homem com uma mulher, que se empenham ao dom recíproco de si e se abrem à geração da vida. Todavia é muito mais grave a pretensão de equiparar tais uniões ao 'matrimônio legal', como promovem algumas iniciativas recentes. E se isto ainda não bastasse pretende-se tornar legal a adoção de crianças no contexto das relações homossexuais aliando-se a tudo um elemento de grande periculosidade."

 "Não pode constituir uma verdadeira família o vínculo entre dois homens ou entre duas mulheres, e muito menos se pode atribuir a essa união o direito de adotar crianças sem família", sentencia o documento. "Recordar a transcendência social da verdade sobre o amor conjugal e, por conseguinte, o grave erro que seria o reconhecimento ou inclusive a equiparação do matrimônio às relações homossexuais não supõe discriminar de modo algum estas pessoas. É o próprio bem comum da sociedade a exigir que as leis reconheçam, favoreçam e protejam a união matrimonial com base na família que se viria deste modo prejudicada."

 No Sínodo dos Bispos realizado em outubro de 2005, já no papado de Bento 16, o cardeal Trujillo manifestou-se preocupado com uma "coerência eucarística dos políticos e legisladores". Em um dos trechos, disse que eram "bem conhecidas as posições ambíguas de legisladores acerca do divórcio, das uniões de fato, as quais ao menos implicitamente constituiriam uma alternativa ao matrimônio, embora tais uniões sejam simplesmente uma 'ficção jurídica', 'moeda falsa posta em circulação'". E prosseguiu: "pior ainda quando se trata de 'casais' do mesmo sexo [aspas da transcrição oficial do Vaticano]".

 E Francisco?

Não foram poucas as vezes em que papa Francisco demonstrou no mínimo uma empatia ao se referir aos LGBT. Na volta de sua primeira viagem internacional como sumo pontífice, respondendo a jornalistas no voo do Brasil à Itália, ele disse que "se uma pessoa é gay e procura Jesus, e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?". "O catecismo diz que não se deve marginalizar essas pessoas, devem ser integradas à sociedade. Devemos ser irmãos", acrescentou.

RNão foram poucas as vezes em que papa Francisco demonstrou no mínimo uma empatia ao se referir aos LGBT. Mas ele é enfático ao defender que o matrimônio, como sacramento, só pode ser contraído por heterossexuais

 "Está clara a sua preocupação com os homossexuais, desde o início do pontificado. Francisco quer promover a dignidade dessas pessoas pois. De acordo com sua visão religiosa, eles 'são filhos de Deus' e merecem o devido respeito, como qualquer outra pessoa", afirma a vaticanista Mirticeli Medeiros, pesquisadora de história do catolicismo na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

 Mas Francisco é enfático ao defender que o matrimônio, como sacramento, só pode ser contraído por heterossexuais. "Casamento só existe entre homem e mulher", afirmou o papa, em entrevista concedida em 2017 ao sociólogo francês Dominique Wolton. Na exortação apostólica "Amoris Laetitia", documento publicado em 2015, o papa enfatizou que "não existe fundamento algum para assimilar ou estabelecer analogias, nem sequer remotas, entre as uniões homossexuais e o desígnio de Deus sobre o matrimônio e a família".

Em 2018, a sigla LGBT foi usada pela primeira vez em um documento oficial da Igreja — no caso, o "Instrumentum Laboris" que serviu para nortear as discussões da Assembleia do Sínodo dos Bispos ocorrida naquele ano. Uma mudança e tanto para uma instituição que sempre se dirigiu a tais populações como "pessoas com tendências homossexuais".

 Medeiros acredita que a frase de Francisco no documentário deve ser vista como mais um avanço. "O pontífice toca em um tema que é tabu para a Igreja, isso não se pode negar", comenta ela. "O foco do papa é o ser humano, a promoção de sua dignidade. Ele pede claramente que essas pessoas tenham acesso às garantias, aos benefícios sociais previstos em lei, como qualquer cidadão."

 Para o vaticanista Domingues, a novidade do posicionamento de Francisco está na menção à família. "Ele coloca o 'fazer parte de uma família'. Não fala em 'formar família', mas fala em 'fazer parte de uma família'. Isso é novo. Nunca esta questão tinha sido falada dessa forma por um papa antes", analisa.

 "Comparando com os últimos papas, o que se vê é uma mudança de linguagem a respeito da questão dos homossexuais. Hoje há uma abordagem mais pastoral e não se fala sobre a homossexualidade como algo intrinsecamente ruim", complementa Domingues. "Francisco muda a abordagem, muda o olhar. Não muda o ensinamento em si nem o conteúdo, mas muda a ênfase. Ele olha para a realidade e se propõe a ir ao 

 Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-54643498

 

 

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Ortodoxia e heresia

 

A palavra ortodoxia significa interpretação, doutrina ou sistema teológico implantado como único e verdadeiro pela igreja/religião; dogmatismo religioso.

ortodoxia (com o minúsculo) significa conformidade com os princípios de qualquer doutrina geralmente aceita, em contraste com as doutrinas divergentes, que são consideradas falsas e rejeitadas como heterodoxia. A doutrina predominante prevalece sobre as doutrinas divergentes, domina a percepção pública e, assim, define efetivamente a norma, ou seja, a doutrina "correta". [Mas a visão predominante às vezes pode ser derrubada por uma "revolução copernicana", de modo que a visão que prevalecia anteriormente dá lugar a um novo consenso, que se torna a nova ortodoxia.

O termo "Ortodoxo", com O maiúsculo, é comumente aplicado como denominação distinta a dois grupos específicos de igrejas cristãs conhecidas como Igrejas Ortodoxas, assim chamadas mesmo por aqueles que questionam a sua reivindicação de serem exclusivamente ortodoxas.

Já heresia, significa: interpretação, doutrina ou sistema teológico rejeitado como falso pela igreja. Também pode ser interpretada como, teoria, idéia, prática que nega ou contraria a doutrina estabelecida por um grupo.

 

Sim, ortodoxia é muito importante e a apologia no combate as heresias também.

O problema é quando surge o aparecimento da agenda emocional oculta atrás daqueles juízos cansativos, rasos e repetitivos. As razões nunca se afastam muito da mais dissimulada inveja, e que se oculta atrás da “ortodoxia” que se pretende passar como “defensora da verdade de Deus”.

 Ao final, todavia, se descobre por detrás de todas as grandes disputas pela “verdade” que o que há é, quase sempre, mentira; as motivações, quase nunca são nobres, mas brotam dos porões da própria mesquinhez humana.

 E é na ortodoxia de palavras retas, ditas em nome de Deus, que se escondem as grandes heresias. Muitas vezes, nós, os cristãos, somos os mais ardorosos defensores práticos das leis do carma, das teologias simplistas de causa e efeito imediato, de justiças baseadas em aparências e, sobretudo, em acusações que nada mais são que uma tentativa velada de fazer duas coisas: uma é dizer a Deus: “Poupa-me, pois, eu defendo a Tua causa”, a outra é: “Se algo de mal me acontecer também, que todos, de antemão, saibam que não foi por nenhuma rebelião minha contra Deus”.

 Desde sempre a vereda é a mesma: Caminho, Verdade e Vida. Em Cristo, isto tem sua plena encarnação. Mas, esse é um princípio universal para a alma de todo homem: o único caminho é o da verdade e é somente a verdade que realiza aquilo que se pode chamar de vida.

 Em Cristo, isto nos leva ao Pai. Na vida, nos leva, mesmo que perplexamente, ao Pai também. Isto porque não há uma única verdade que se encarne em Cristo que também não seja um princípio de vida para toda e qualquer alma.

 A igreja-comunidade tem que ser sadia e inimiga de divisões. O apóstolo  Paulo fala para notar se praticam a divisão. Prestem atenção os que são maníacos, obsecados, esses que são detalhistas e que estão sempre procurando dividir.

 Quanto a isso nós temos de abrir os olhos porque a nossa herança protestante nos ajuda a produzir divisões. Clodovis Boff (teólogo católico, irmão de Leonardo Boff), brincando um pouco conosco, diz que somos fragmentados dessa forma porque nossa herança protestante concentrou-se na ênfase da verdade e, em função disso, a gente vai se esfacelando.

 Entretanto, a Igreja Católica é inclusivista. É uma “igreja-galinha”, segundo Boff. Ela abre os espaços e chama a todos os pintainhos, até de cores diferentes, para debaixo de si, porque, historicamente falando, a ênfase está na unidade.

 Essa é uma verdade tremenda. Quando a Reforma Protestante levantou-se, carregando os pendões da absolutização da verdade e da sã doutrina, nos resgatamos, por um lado, toda nossa saúde doutrinária ou pelo menos o básico dela. Mas, por outro lado, nos acirramos a essa obsessão pelo perfeccionismo doutrinário, de forma que fomos nos esfacelando e fragmentando no curso da história.

 A idéia do sacerdócio individual, universal e direto com o Pai, por meio de Cristo, através de nosso acesso direto às Escrituras acabou por promover, a partir de diferentes interpretações das mesmas a proliferação de verdades diferentes, de hermenêutica diferentes.

E como a cabeça protestante está centrada na verdade, tudo aquilo que não for exatamente de acordo com a sua cartilha teológica, necessário é, que se faça expurgo.

Seria ingenuidade nossa querermos pregar um inclusivismo que não pergunta pelas questões básicas da verdade. Porém, eu creio que é hora de abrirmos nossos olhos para não ficarmos nem com o nosso “diletantismo pela verdade”, tampouco com o “inclusivismo católico”, que não questiona alguns conceitos básicos e fundamentais.

 Mas nessa dialética, é hora de brotar uma síntese de uma igreja que afirme coisas básicas a serem preservadas. Eu pergunto pela natureza de Deus: se Ele é triúno, infinito. A natureza infinita de Deus significa simplesmente que Deus existe aparte de, e não é limitado pelo tempo ou espaço. Infinito significa simplesmente "sem limites". Quando nos referimos a Deus como "infinito", geralmente usamos termos como onisciência, onipotência, onipresença para referir-nos a Ele.se é pessoal; pela natureza de Cristo, se Deus estava em Cristo, sua divindade; pela sua obra vicária na cruz, na ressurreição; pela Palavra, como revelação verbalizada proposicional de Deus para minha orientação na caminhada da história.

 Depois disso, eu entendo que vem a doutrina da unidade e que dividir por qualquer coisa abaixo dessas questões é dividir por qualquer coisa abaixo dessas questões é dividir por coisas menos importantes. Dividir por causa do batismo, da escatologia pré-milenista, pós-tribulacionista, pré-tribulacionista, dispensacionalista, pela eclesiologia, pela forma de governo, pelo carismatismo, tudo isso é ridículo porque são coisas que estão abaixo da necessidade de preservar a unidade do espírito no vincula da paz!

 Além do que nos adverte, quanto a ilusão e ao engodo das palavras sutis de tais pessoas, porque nenhum assunto é mais sutil, mais liso e aparentemente correto do que aqueles que promovem divisões.

 Lembro de ter ouvido há um tempo atrás uma frase que nunca esqueci: “Eu quero um sopro do Espírito que nos une e não um que nos divide”.

 Outras frases interessantes são: a ortodoxia é a heresia que venceu. E ainda, a ortodoxia de hoje pode ter sido heresia no passado e vice-versa.

 

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Bolsonaro diz, em culto da Assembleia de Deus, que próxima indicação ao STF será de um pastor

 



O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou na noite desta segunda-feira (5) em São Paulo que a próxima indicação dele ao Supremo Tribunal Federal (STF) deve será um pastor evangélico.

Ele participou de um culto de ações de graça pelo aniversário do pastor José Wellington Bezerra da Costa, presidente das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus do Brasil, no bairro do Belenzinho, Zona Leste de São Paulo.

No evento, Bolsonaro chamou de “precipitado” quem o criticou por não ter indicado um ministro evangélico para a vaga de Celso de Mello, que deve deixar o STF na próxima terça-feira (13), para se aposentar.

"Vamos ter no STF um ministro terrivelmente evangélico. Agora mais ainda. Alguns um pouco precipitados achavam que devia ser a primeira vaga, que acabei de indicar. A segunda vaga, que será [indicada] em julho do ano que vem, com toda certeza, mais que terrivelmente evangélico, se Deus quiser nós teremos lá dentro um pastor”, afirmou.

"Imaginemos as sessões daquele Supremo Tribunal Federal começarem com uma oração. Tenham certeza de uma coisa: isso não é mérito meu. É a mão de Deus", completou Bolsonaro.

Além do presidente, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro também esteve no evento que ocorreu na Igreja Assembleia de Deus – Ministério do Belém.

Estiveram presentes ainda o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, desembargadores e outras autoridades.

O indicado de Bolsonaro para a vaga de Celso de Mello foi o desembargador Kassio Nunes Marques, de 48 anos, de acordo com publicação do “Diário Oficial da União” na última sexta-fera (2). A indicação já havia sido anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro um dia antes na internet.

Marques é, atualmente, desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que tem sede em Brasília.

Assista o culto:

Fonte: G1 via Folha Gospel, via Point Rhema.

Salmos: Leitura Terapêutica - Pr. Juber Donizete

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Missionários dekasseguis: como imigrantes brasileiros espalham o Evangelho no Japão

igreja cristã Sola Japan

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Igreja cristã Sola Japan, que se dedica à evangelização de imigrantes e dekasseguis

De segunda a sexta-feira, a paulista Megume Uehara trabalha como operária em uma fábrica em Hamamatsu, na província de Shizuoka, a cidade com a maior concentração de imigrantes brasileiros no Japão. Nos fins de semana, a jovem de 28 anos viaja a Aichi, a província vizinha, para "pregar a palavra". Megume é missionária da igreja cristã Sola Japan, que integra desde 2014.

A primeira missão foi em Kikugawa (Shizuoka), em 2016. "Hamamatsu já tinha sido bastante evangelizada e, na época, ficávamos debaixo de chuva ou de sol de 40 graus, mas as portas não se abriam mais, os outros não paravam para nos ouvir nas ruas ou nas suas casas. Oramos a Deus para pedir uma cidade nova para evangelizar. E descobrimos Kikugawa", lembra.

Megume e outros missionários viajavam para a cidade às noites de sexta-feira para bater às portas das casas de brasileiros e convidá-los a participar da igreja. Ao longo dos sábados, eles organizavam "células", pequenas unidades para estudar a Bíblia. Nas manhãs de domingo, realizavam cultos. "A igreja de Kikugawa se estruturou e reuniu muitos discípulos. Foi a hora para nós, missionários, partimos para outra cidade", diz.

"Missionários não ficam pulando de galho em galho. Temos nossa casa e nosso pastor, mas estamos sempre prontos para sair da nossa geografia e ajudar na construção de novas igrejas", define Megume que, entre idas e vindas do Brasil, já conta 20 anos no Japão. A missão atual é em Okazaki (Aichi), que hoje reúne cerca de 50 fiéis — entre eles, 5 japoneses.

Igrejas como a Sola Japan se dedicam à evangelização de imigrantes e dekasseguis (descendentes de japoneses que migram para trabalhar temporariamente no país), mas almejam atingir japoneses no futuro. 

Megume
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"Missionários não ficam pulando de galho em galho. Temos nossa casa e nosso pastor, mas estamos sempre prontos para sair da nossa geografia e ajudar na construção de novas igrejas", define Megume

"Nosso foco é o Japão, mas é impossível ganhar os japoneses se não tivermos um exército forte. Nós precisamos de aliados, como diz a Bíblia. E os aliados são os jovens brasileiros, que já dominam a língua japonesa e que, um dia, vão conversar de igual para igual sobre o amor de Jesus com os japoneses", aposta.

Igrejas cristãs tiveram um boom silencioso nas últimas décadas no Japão, um arquipélago historicamente budista e xintoísta — as duas religiões abrangem mais de 90% da população. Proibido entre 1614 e 1873, o cristianismo conta com cerca de 1,9 milhões de fiéis hoje, o que representa apenas 1,1% da população do país.

Segundo o Shukyo Nenkan de 2019, o relatório religioso anual da Agência de Assuntos Culturais do país, há 84 mil organizações xintoístas (46,9%), 77 mil budistas (42,6%) e 4,7 mil cristãs (2,6%) ativas. Também há 14 mil organizações de outras religiões (7,9%), não identificadas nominalmente. Tampouco há distinções entre igrejas cristãs católicas e evangélicas.

Boom

Oficialmente, o número de instituições cristãs não teve alteração expressiva — em 2009, eram 4,3 mil organizações ativas (2,4% do total), uma diferença de 400 unidades diante de 2019. Extraoficialmente, entretanto, o movimento migratório dos dekasseguis impulsionou um fenômeno de novas igrejas evangélicas brasileiras, fora do radar das estatísticas japonesas.

Em 1997, estimava-se 75 grupos evangélicos brasileiros no Japão, segundo dados da Igreja Metodista Livre citados em artigos acadêmicos. Em 2002, eram 200. Em 2007, eram 441, de acordo com a revista evangélica Mensageiro da Paz, sem contar movimentos neopentecostais como a Igreja Universal.

Segundo o sociólogo Masanobu Yamada, professor da Universidade Tenri (Nara), muitas igrejas brasileiras não foram oficialmente registradas como instituições religiosas devido à burocracia japonesa — o cadastro não é obrigatório, mas pode ser necessário para a aquisição de imóveis, por exemplo. Por volta de 2008, estimava-se cerca de 500 novas igrejas evangélicas brasileiras no arquipélago. "Não eram oficialmente reconhecidas, mas os membros as consideravam como tal", diz o sociólogo, que desde 1996 estuda religiões japonesas no Brasil e religiões de dekasseguis no Japão.

Missionários da Sola Japan
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Igrejas cristãs tiveram um boom silencioso nas últimas décadas no país, um arquipélago historicamente budista e xintoísta; acima, missionários da Sola Japan

Na década de 1990, os primeiros dekasseguis brasileiros eram majoritariamente católicos não-praticantes.

Instalados no arquipélago, eles não se aproximaram das maiores religiões japonesas (budismo e xintoísmo) por não dominarem o idioma, entre outros motivos. Paulatinamente, porém, eles se converteram a igrejas evangélicas brasileiras que iniciaram missões no país, como Assembleia de Deus e Igreja Universal, o que impulsionou o surgimento de novos pastores e a multiplicação de igrejas independentes.

De acordo com o sociólogo Rafael Shoji, co-organizador do livro Transnational faiths: Latin-Americanimmigrants and their religions in Japan (Routledge, 2014), as igrejas evangélicas estrangeiras se firmaram ao redor das regiões periféricas e bairros brasileiros operários, especialmente os conjuntos residenciais conhecidos como danchi.

"Igrejas pentecostais têm muito mais sucesso no Japão devido a uma oferta otimizada e relativamente grande para o atendimento de demanda de uma religiosidade étnica, na ausência de instituições sociais brasileiras e redes de assistência", diz Shoji, em estudo publicado na Rever - Revista de Estudos da Religião, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Ao valorizar ideais de comunidade e família, as igrejas contribuíram para a construção de uma identidade dos dekasseguis dentro do Japão, fora das fábricas.

Sergio Akira Kawamoto e Keila Kawamoto
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Sergio Akira Kawamoto e Keila Kawamoto assumiram em 2007 como pastores da Missão Apoio de Toyohashi

O sociólogo investigou a presença de igrejas pentecostais nas províncias de Aichi, Shizuoka, Gifu e Ishikawa, durante temporada de pesquisa na Universidade Nanzan, em Nagoia (Aichi). Entre 2004 e 2008, identificou 313 instituições voltadas a brasileiros: 47% delas evangélicas e neopentecostais, 25,6% de novas religiões japonesas, 20,8% de católicas e as demais budistas, espíritas ou umbandistas. Entre as evangélicas, as mais fortes são Assembleias de Deus (24%), Igreja Universal (10%) e Missão Apoio (10%).

Missão Apoio (acrônimo de Assistência e Preparação de Obreiros Interligados na Obra) é um dos maiores exemplos de expansão do "pentecostalismo dekassegui". Fundada pelo pastor brasileiro Claudir Machado em 1993, a unidade foi idealizada especialmente para prestar assistência a imigrantes no Japão.

Da fábrica à igreja

Missão Apoio é a casa do paranaense Sergio Akira Kawamoto, 35 anos, desde 2000 radicado no Japão. "Lembro até hoje: desembarquei no dia 3 de agosto; no dia 5 já comecei a trabalhar em uma fábrica, uma jornada diária de 8 horas mais 4 de zangyo [hora extra, em japonês]. Eu tinha 15 anos, tinha deixado amigos, estudo, tudo para trás no Brasil. Era revoltado. Voltava para casa depois do trabalho e chorava de raiva, pensando 'que vida que eu estou vivendo?'", conta.

Nas noites de sexta-feira, uma vizinha costumava bater à porta do apartamento de Sergio, convidando-o para participar de reuniões religiosas no prédio deles em Toyohashi (Aichi). Um dia, ele aceitou. "Nunca mais saí. Eu me encontrei. Estudei a Bíblia, fiz cursos, retiros." Sergio e Keila (a jovem missionária) se casaram e tiveram três filhas tempos depois. Para muitos imigrantes, a igreja se torna a família no Japão.

Núcleos religiosos, diz a antropóloga Regina Yoshie Matsue, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), se tornam o espaço por excelência de socialização dos imigrantes. "É onde eles podem desfrutar da companhia de seus pares, fazer network de apoio social para trocar informações sobre empregos e facilidades, dividir experiências e frustrações do dia a dia na fábrica", exemplifica. Para Matsue, autora de estudos sobre religiões de dekasseguis, durante o mestrado e o doutorado na Universidade de Tsukuba (Ibaraki), a adesão às religiões é um tipo de resposta na busca por identidade e inquietações psicológicas e sociais dos imigrantes, como os choques culturais entre Brasil e Japão.

Sergio Akira Kawamoto
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"Eu me encontrei. Estudei a Bíblia, fiz cursos, retiros", diz Sergio Akira Kawamoto

Em 2007, o pastor da Missão Apoio de Toyohashi voltou para o Brasil — e Sergio e Keila assumiram como pastores. Status de pastores, obreiros e missionários variam entre as instituições. Sergio se define nos três termos, considerando-se pastor, missionário (por cumprir missões) e obreiro (por dedicar-se à "obra de Deus").

No início, Sergio conciliava o trabalho na fábrica e na igreja. Depois, passou a se dedicar integralmente à Missão Apoio, onde hoje também é tesoureiro. "Voltava do trabalho pesado de construção de navios e precisava escolher entre jantar ou ir conduzir estudos bíblicos na casa de alguém. Foram meses e anos assim."

"Mas pastor também é humano. Uma hora muitos pastores precisam desacelerar, talvez diminuir a carga para o teiji [a jornada básica de 8 horas] ou poder contar inteiramente com os dízimos."

Desde que assumiram a Missão Apoio de Toyohashi, Sergio e Keila estão tentando atrair fiéis novos nipônicos. A ideia surgiu por volta de 2013, quando um jornalista japonês questionou quantos japoneses costumavam frequentar a igreja. Hoje, os cultos das manhãs de domingo, em português, reúnem cerca de 70 participantes; nos cultos da tarde, em japonês, são 20.

Na igreja de Claudemir Fortunato, 52 anos, e Sueli Yoshii Fortunato, 52, o culto é feito em português, com tradução simultânea para o japonês. Integrante da Assembleia de Deus Cristã Água Viva (Adcav), em Suzuka (Mie), Missionário Fortunato, como é conhecido, quer formar novos discípulos, principalmente jovens brasileiros, bolivianos e peruanos. "Quero cumprir minha missão aqui no Japão e voltar ao Brasil. É minha verdade hoje, mas depende de Deus."

Desde 1998 no Japão, Fortunato começou a atuar como missionário há 8 anos, no templo, nas ruas e de porta em porta. A inspiração, diz, surgiu do Evangelho de Mateus, capítulo 28, versículos de 15 a 20. "Jesus está conversando com os apóstolos e diz: 'Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações'."

De karaokê a centro cristão

O pastor paulistano Guenji Imayuki, 52 anos, também lembra a frase do Evangelho de Mateus ao justificar suas motivações missionárias. Imayuki trabalhou durante 7 anos com descendentes de japoneses no Brasil.

Depois, foi convocado para trabalhar no Japão. Desde 2015 no arquipélago asiático, ele é missionário overseas (além-mar), uma categoria da Igreja Adventista Do Sétimo Dia (Iasd) que envolve um contrato inicial de cinco anos, prorrogável por mais cinco.

Em 2017 foi inaugurado o Centro Cristão Tokai, em Kakegawa (Shizuoka), em um antigo ponto de entretenimento e karaokê. Ali, Imayuki pretende treinar imigrantes brasileiros para evangelizar japoneses.

"É a expectativa, mas a realidade é mais difícil do que nós imaginamos", relata. "Toda igreja que tem mais de 30% de imigrantes é difícil, pois dificilmente os nativos vão aderir. Primeiro, precisamos alcançar e treinar os imigrantes brasileiros. Depois, a partir deles, pretendemos alcançar os japoneses." Nos encontros aos sábados, a unidade de Kakegawa reúne cerca de 80 participantes; entre eles, apenas 2 japoneses.

Com seu primeiro templo no Brasil fundado em 1896, a Igreja Adventista é bastante estruturada e, no Japão, inclui instituições como dez escolas elementares, asilos, cursos de enfermagem e teologia, hospitais em Tóquio, Kobe e Okinawa.

"Nossa filosofia não é só o Evangelho, é o estilo de vida", comenta.

Igrejas japonesas são vistas como sombrias e sérias, enquanto igrejas internacionais são consideradas mais amigáveis. No treinamento, diz Imayuki, a ideia é enfatizar a assertividade e a expressividade brasileiras, mas equilibrando-as com a cultura japonesa, mais reservada.

Segundo o pastor, há dois focos principais dos adventistas antes de conquistar os japoneses: despertar o interesse de jovens brasileiros e de outros estrangeiros asiáticos presentes no arquipélago, como filipinos, nepaleses e vietnamitas. "É preciso trabalhar a mentalidade desses jovens: eles precisam conhecer a cultura japonesa, mas manter a identidade deles. É difícil professar a fé nesse país. É um longo caminho."

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54066196