Elas ocupam um enorme espaço na televisão aberta, chegando a milhões de lares brasileiros todos os dias. As três mais conhecidas e salientes têm nomes parecidos — Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus e Igreja Mundial do Poder de Deus. Esses nomes apontam para objetivos ousados e ambiciosos. Seus líderes máximos adotam, respectivamente, os títulos de bispo, missionário e apóstolo. Elas são o fenômeno mais recente, intrigante e explosivo do “protestantismo” tupiniquim. Trata-se das igrejas neopentecostais, denominadas por alguns estudiosos “pentecostalismo autônomo”, em virtude de seus contrastes com os grupos mais antigos desse movimento.
É difícil categorizá-las adequadamente, não só por serem ainda recentes, mas porque, ao lado de alguns traços comuns, também apresentam diferenças significativas entre si. A Igreja Mundial investe fortemente na cura divina. Seu apóstolo garante que ninguém realiza mais milagres do que ele. Seu estilo é personalista e carismático. Caminha no meio dos fiéis, deixa que as pessoas recolham o suor do seu rosto para fins terapêuticos, às vezes é ríspido com os auxiliares. O missionário da Igreja Internacional é simpático e bonachão; parece um pastor à moda antiga. É também polivalente: prega, canta, conta piadas, anuncia produtos e serviços. Controla com rédea curta o seu pequeno império. Todavia, nenhuma dessas igrejas vai tão longe na ruptura de paradigmas quanto a IURD. Dependendo do ângulo de análise, parece protestante ou católica. Seu carro-chefe é a teologia da prosperidade. Defende sem pejo a ética da sociedade de consumo. Seu líder está entrando na lista dos homens mais ricos do país.
Uma avaliação simpática e honesta das igrejas neopentecostais aponta para alguns aspectos que precisam ser reconsiderados a fim de que elas se tornem genuínos instrumentos do evangelho de Cristo.
O problema hermeneutico
Uma grave deficiência dessas novas igrejas está, na maneira como interpretam a Bíblia. A Bíblia se torna um joguete, uma peteca lançada para lá e para cá ao sabor das conveniências. Tomam-se diferentes declarações, episódios e símbolos bíblicos e, sem esforço algum de interpretação, passa-se diretamente para a aplicação, muitas vezes de uma maneira que nada tem a ver com o propósito original da passagem. O que é ainda mais grave, os textos bíblicos são usados de modo mágico, como se fossem amuletos ou talismãs, como se tivessem um poder imanente e intrínseco. A Bíblia é encarada prioritariamente como um livro de promessas, de bênçãos, de fórmulas para a solução de problemas, e não como a revelação especial na qual Deus mostra como as pessoas devem conhecê-lo, relacionar-se com ele e glorificá-lo.
Uma nova linguagem
Na sua releitura da Bíblia, os neopentecostais por vezes criam uma nova terminologia, muito diferente dos conceitos bíblicos tradicionais. Privilegiam-se expressões como “exigir nossos direitos”, “manifestar a fé”, “declarar a bênção”, todos os quais apontam para uma espiritualidade antropocêntrica, ou seja, voltada para as necessidades, desejos e ambições dos seres humanos, e não para a vontade e a glória de Deus. Alguns dos temas bíblicos mais profundos e solenes redescobertos pelos reformadores do século 16 são quase que inteiramente esquecidos. Não mais se fala em pecado, reconciliação, justificação pela fé, santificação, obediência. O evangelho corre o risco de ficar diluído em uma nova modalidade de auto-ajuda psicológica, deixando de ser “o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”.
O conceito de fé talvez seja aquele que esteja sofrendo as maiores distorções. No discurso de muitas igrejas do pentecostalismo autônomo, a fé se torna uma espécie de poder ou varinha de condão que as pessoas utilizam para obter as bênçãos que desejam. Deus fica essencialmente passivo até que seja acionado pela fé do indivíduo. É verdade que Jesus usou uma linguagem que aparentemente aponta nessa direção (“tudo é possível ao que crê”, “vai, a tua fé te salvou”). Mas o conceito bíblico de fé é muito mais amplo, a ênfase principal estando voltada para um relacionamento especial entre o crente e Deus. Ter fé significa acima de tudo confiar em Deus, depender dele, buscar a sua presença, aceitar como verdadeiras as declarações da sua Palavra. O objeto maior da fé não são coisas, mas uma pessoa — o Deus trino.
Fundamento questionável
A teologia da prosperidade, que serve de base para boa parte da pregação e das práticas neopentecostais, é uma das mais graves distorções do evangelho já vistas na história cristã. Essa abordagem teve início nos Estados Unidos há várias décadas, sob o nome de “health and wealth gospel”, ou seja, evangelho da saúde e da riqueza. No neopentecostalismo, essa se torna a principal chave hermenêutica das Escrituras. Tudo passa a ser visto dessa perspectiva reducionista acerca do relacionamento entre Deus e os seres humanos. O raciocínio é que Cristo, através da sua obra na cruz, veio trazer solução para todos os tipos de problemas humanos. Na prática, acaba se dando maior prioridade às carências materiais e emocionais, em detrimento das morais e espirituais, muito mais importantes.
Tradicionalmente, as maiores bênçãos que o homem podia receber de Deus incluíam o perdão dos pecados, a reconciliação, a paz interior e, num sentido mais amplo, a salvação. Dentro da nova perspectiva teológica, as coisas mais importantes que Deus tem a oferecer são um bom emprego, estabilidade financeira, uma vida confortável, felicidade no amor e coisas do gênero.
Conclusão
O neopentecostalismo representa um grande desafio para as igrejas históricas e pentecostais clássicas. Esse movimento tem encontrado novas formas de atrair as massas que não estão sendo alcançadas pelas igrejas mais antigas. Nem todos os grupos padecem dos males apontados atrás. Muitas igrejas neopentecostais são modestas, evangelizam com autenticidade e não se rendem à tentação dos resultados rápidos, dos projetos megalomaníacos e dos métodos incompatíveis com o evangelho. O grande problema está nas megaigrejas e seus líderes centralizadores, ávidos de fama, poder e dinheiro. Estes precisam arrepender-se e voltar às prioridades da mensagem cristã, buscando em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, para que então as demais coisas lhes sejam acrescentadas.
• Trecho do artigo publicado na Revista Ultimato, edição nº 312, de Maio-Junho/2008, por Alderi Souza de Matos, doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil. Fonte: Revista Ultimato, www.ultimato.com.br/
SEJA BEM VINDO. Este blog nasceu da vontade de poder compartilhar, pensamentos e reflexões sobre os acontecimentos atuais e a aplicação da Palavra de Deus a nossa vida.A escolha deste título para o meu blog, foi porque acredito que se não for para vivermos o Evangelho de Cristo conforme Ele viveu e ensinou, nada vale a pena. INDIQUE ESTE BLOG A MAIS ALGUÉM E DEIXE UM COMENTÁRIO JUNTO A MATÉRIA QUE PORVENTURA TENHA GOSTADO.
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Caro Juber Donizete,
ResponderExcluirA paz do Senhor!
Torna-se cada vez mais difícil para a igreja de Cristo, combater os modismos que surge nos dias atuais.
São muitas as inovações introduzidas por essas igrejas neopentecostais.Até hoje não consigo entender o propósito da fogueira santa,da água do rio jordão,do sal grosso e tantas outras inovações.O crente não precisa de sal grosso pois somos o sal da terra,o fogo do Espírito nos aquece, e rios de águas vivas fluem do nosso interior.
"E também houve entre o povo falsos profetas,como entre vós haverá falsos doutores,que introduzirão encobertamente heresias de perdição,e negarão o Senhor que os resgatou,trazendo sobre si mesmos repentina perdição."(2Pe.2:1)
Um abraço!
francivaldojacinto.blogspot.com
Irmão Francivaldo,
ResponderExcluirDurante anos, eu tenho ministrado seminários, sobre seitas e heresias, além de escatologia e missões. Alertava para o perigo externo, que representava as seitas. Mas hoje, o que eu vejo é que temos de fazer o alerta para o perigo que vem de dentro (infelizmente hà muita coisa anti-bíblica, sendo pregada no meio evangélico). Deus disse, através do profeta Oséias, que o seu povo estava sendo destruído porque faltava conhecimento. Então como diz Eclesiastes: "É tempo de falar". Obrigado pela visita.
Pr. Juber
A Paz Juber
ResponderExcluirÓtimo Post que reflete a realidade de algumas igrejas no Brasil Atual, recentemente escrevi um artigo sobre minha indignação contra a população mais humilde sendo usada para levantar fundos,
Estão pregando um evangelho sem raiz para o povo e infelizmente problemas virão.
Como o irmão Francivaldo Lembrou
"E também houve entre o povo falsos profetas,como entre vós haverá falsos doutores,que introduzirão encobertamente heresias de perdição,e negarão o Senhor que os resgatou,trazendo sobre si mesmos repentina perdição."(2Pe.2:1)
A Paz esteja contigo.
Marcos,
ResponderExcluirTemos que ver que um crescimento marcado por toda sorte de desencontros, principalmente, o teológico, é temerário. Sem contar na questão da exploração, como você disse. Infelizmente a chamda teologia da prosperida, vem conquistando adeptos, não por sua qualidade, mas por sua popularidade. Que o Senhor nos guarde. Obrigado pelo comentário.
Pr. Juber
Teus olhos são sóis adormecidos
ResponderExcluirPerdidos no profundo da noite
Luzeiros na procura da aurora
Que viajam sem rumo ou norte
Procuram a ironia do tempo
Os gritos que um rosto apregoa
Uma taça de ouro frio
O tempo que uma alma magoa
Boa semana
Abraço
A paz do Senhor pastor Juber donizete.
ResponderExcluirÓtimo post,pertinente,que Deus continue o abençoando.
Daquele que ama a Assembléia de Deus e seus orgãos hitóricos.
Caro Profeta,
ResponderExcluirObrigado pela visita, como você é poeta, vou deixar uma reflexão em forma de poesia:
Deus teceu minha rede do tempo
Com a misericórdia e o castigo
E até o orvalho da tristeza
Tem o brilho de seu amor
Bendita essa mão que tudo conduz, Bendito o coração que tudo planeja
Entronizado onde habita a glória,
Na terra de Emanuel,
Na jornada da vida, há rios profundos,
E cercas de espinhos pontiagudos.
Agora, porém, udo isso já ficou para trás!
Ah, se eu tivesse uma harpa bema afiada!
Ah, se eu pudesse bradar Aleluia
Junto ao coro triunfal,
Que canta, onde habita a glória,
Na terra de Emanuel!
Deus lhe abençoe,
Juber
Muito bom teu Blog gostei
ResponderExcluirfaça uma visita la no meu sei que vai gostar muito
fik na Paz.
www.vidaprofetica.blogspot.com
Irmão Lucimauro,
ResponderExcluirO momento é de alerta ao que for diferente ao Evangelho de Cristo. Grato pela participação.
Pr. Juber
Irmão Felipe,
ResponderExcluirAgradeço pelas palavras, visitei o seu blog e gostei muito.
Graça e Paz,
Pr. Juber
Caro Juber,
ResponderExcluirA paz do Senhor. Parabéns pelo blog e pelo bom gosto, reproduzindo esse artigo da revista evangélica que é, na minha opinião, a melhor do Brasil, mesmo não sendo uma expressão do pentecostalismo.
Um abraço
Paulo Silvano
Prezado Paulo Silvano,
ResponderExcluirÉ um prazer receber seu comentário no meu blog, pela 1ª vez. Obrigado pelas palavras. Sobre o artigo, também concordo com você em relação a Revista Ultimato, sou leitor dela há anos. Volte outras vezes.
Um abraço
Juber
Prezado Juber,
ResponderExcluirAhgradeço pela visita e comentário q deixou no post "Um prato de experiências" em meu blog. Seja bem-vindo.
Abraço.
Sidnei,
ResponderExcluirEsse blog, dia 31/05, fez dois meses. Durante esse período, tenho tido a oportunidade de estar conhecendo outras pessoas, como você e interagindo via blog. Tem sido uma experiência enriquecedora. Obrigado pela visita.
Abraço.
Juber
Obrigado pelo comentário lá no Notícias Cristãs.
ResponderExcluirQue tal trocarmos links?
Irmão Márcio,
ResponderExcluirProposta aceita, já vou colocar o
seu blog nos meus links. Obrigado pela visita.
Graça e Paz,
Juber
Adicionei vc no meu blog. Abraços!
ResponderExcluirIrmão Daladier,
ResponderExcluirObrigado pela adição do meu blog, fiz o mesmo com o seu.
Nele, que é o mesmo que nos chama,
Juber
Olá!...muito obrigado pelo comentário na Arca Perdida...é sempre muito bom encontrar pessoas que apreciam este tipo de literatura como a de Tolkien e de C.S. Lewis...
ResponderExcluirAté mais!
Caro Hobbit,
ResponderExcluirEstou aguardando sair em vídeo o segundo filme das Crônicas de Nárnia, para ver. Tolkin, em "O Senhor dos Anéis", faz uma analogia sobre o poder, fantástica. Quanto a C.S.Lewis, acho simplesmente perfeito a forma, como ele transmite a mensagem através de seus personagens.
Obrigado pela visita.
Juber