quarta-feira, 8 de abril de 2009

VALEU A PENA PASTOR?

Desde que fui ordenado ao ministério, trabalho com evangelização, missões urbanas e plantação de igrejas. Preguei milhares de sermões, participei de centenas de congressos, mesas-redondas e seminários. Conto os anos de ministério, e me pergunto: “Qual a pertinência do meu esforço? O fruto do meu ministério permanecerá?”.
Não pretendo terminar os dias desempenhando as funções sacerdotais como mero sacerdote que batiza, celebra ritos de passagem e enterra os mortos. Não almejo acomodar-me à função de xamã. Não tolero o papel de “baby-sitter” de crentes burgueses, sempre ávidos por bênçãos.
Como pastor pentecostal, inquieto-me com o massacre da teologia da prosperidade, que ocupa a maior parte do culto com promessas de bênção. Não gosto de ver a instrumentalização de quase todo esforço missionário para fazer proselitismo, em nome de uma evangelização.
Pastores semelhantes a mim vivem a responder a questiúnculas sobre doutrina, a legislar sobre moralismos e a apagar fogo de contendas entre os membros de suas comunidades. O discipulado desaparece na catequese que tenta adequar as pessoas às demandas religiosas. O resultado é trágico e o testemunho cristão, pífio.
Caso não mexamos com os conceitos fundamentais da teologia da missão, continuaremos repetindo fórmulas desgastadas. Resgatar pessoas do inferno, garantir o céu, mas esquecer a “plenitude da vida” diminui brutalmente o mandato cristão. O tempo gasto das pessoas, os recursos financeiros aplicados, a mobilização de talentos, não podem ser desperdiçados. A função da igreja é também resgatar vidas, proteger os indefesos da burocracia estatal, da opressão do mercado e até da frieza eclesiástica.
Como cuidei basicamente de igrejas urbanas, lamento o tempo perdido com a máquina religiosa. Fui absorvido por programações irrelevantes. Defendi teologias desconexas da existência. Fiz promessas irreais. Discuti ideias estéreis. Corri em busca de glórias diminutas. O tempo é uma riqueza não renovável, portanto, resta-me lamentar tanto esforço para tão pouco resultado.
Entreguei-me de corpo e alma à oração, fiz vigílias, jejuei. Ralei os joelhos em busca de uma espiritualidade eficiente. Acreditei piamente que a maturidade humana aconteceria pelo caminho da piedade religiosa. Ledo engano. Muitos companheiros de oração se levantaram ferozmente contra mim.
O mundo passa por mudanças radicais e as igrejas, se quiserem ser relevantes, precisam repensar seu papel na sociedade. Se não quiserem sucumbir à tentação de serem meros prestadores de serviços religiosos, os pastores precisam abrir mão de egolatrias tolas como o fascínio por títulos. É tolice brincar de importante usando o nome de Deus.

Fonte: Trecho do Texto Para não viver em vão, de Ricardo Gondim, publicado na Revista Ultimato, edição n° 317, março-abril de 2009.

4 comentários:

  1. Pr:Juber Donizete.
    Parabéns pela postura que o amado vem desenvolvendo ao longo de seu Ministério.

    Precisamos de líderes que façam a diferença assim como o sr tem feito,que Deus o continue abençoando.

    A PAZ DO sENHOR.

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  2. Caro Juber Pr. Juber Donizete,
    Graça e Paz!

    O Texto do Pr. Ricardo Gondim, é no mínimo uma excelente reflexão para todos nós que labutamos nas lides do evangelismo, principalmente o urbano, no sentido de que possamos reavaliar as prioridades do nosso ministério.
    Que Deus tenha miseircórdia de nós.
    Parabéns pela postagem!
    Um grande abraço!
    Pr. Carlos Roberto

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  3. Lucimauro,

    Obrigado pelas palavras amáveis. O que tenho procurado neste blog é expor realmente as minhas idéias, e falar a Palavra como eu creio que tem que ser falada.

    Graça e Paz sobre sua vida.

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  4. Pr. Carlos,

    Nós que somos pastores, sabemos que o Gondim acertou em cheio em como os ministros se pegam pensando que esperavam estar sendo pressionados a serem promotores de evento, apaziguadores de contendas entre membros da igreja, ou estarem fazendo coisas que não seja a ministração da palavra. Sendo incompreendidos, cobrados como se não fossem humanos, mas semi-deuses e etc. Eu sei que tem alguns que até gostam disso, mas não são todos.

    Grande abraço.

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