É inegável que o cristianismo contemporâneo vive a crise da relevância. Os novos críticos do cristianismo não se cansam de dizer que o discurso dos cristãos cheira naftalina, é tão antiquado, fora de moda e irrelevante.
Para ilustrar esse fato, lembro-me de que, há poucos dias, um colega da USP, sabendo que sou cristão, se aproximou de mim e, sem rodeios, perguntou-me: “Por que muitos evangélicos falam tão esquisito? Eles chamam uns aos outros de varão e varoa! Abusam dos arcaísmos! Usam expressões tão ultrapassadas que às vezes me sinto nos dias de Olavo Bilac!” Dureza, não?!
Expliquei que muitas das versões bíblicas que as pessoas leem são muito antigas, e, por esse motivo, acabam trazendo o vocabulário delas para o dia a dia. “Que bizarro!”, disse meu colega. E incomodado com isso, perguntei: “Por que bizarro?”. Ele prontamente me respondeu: “Porque isso assusta qualquer um! É uma linguagem muito distante da realidade!”. Nessa hora, infelizmente, tive que concordar com ele. Nossa linguagem, às vezes, é tão descontextualizada que, em vez de atrair, assusta os publicanos e pecadores de nossos dias.
O que acho mais interessante no texto de Lucas 15 é o fato de que os publicanos e pecadores não se aproximaram de Jesus para pedir um milagre, uma bênção. Pelo contrário, se aproximaram dele só para ouvi-lo. Isso aconteceu porque a pregação de Jesus era empolgante, o Mestre era verdadeiramente relevante. Veja a bela imagem que Lucas nos oferece: o Filho de Deus, sentado à mesa com publicanos e pecadores, completamente atraídos pelo seu discurso. Ou seja, Lucas mostrou que Jesus era interessante não apenas por causa dos milagres que fazia, mas principalmente por causa de seu pensamento, de sua capacidade de ler o coração dos homens e de expor os desígnios de Deus, com ousadia, sabedoria e relevância.
Ouvindo algumas pregações aqui e acolá, em canais de TV e em igrejas, percebo que muitos dos discursos e pregações de nossos dias estão muito distantes de ser comparados às pregações empolgantes de Jesus. Acredito que uma das razões seja a nossa incapacidade de ler nosso tempo, agravada pela pobreza de nossa leitura dos desígnios de Deus, expressos nas Escrituras. Quando digo “ler nosso tempo”, digo “ler as pessoas de nossos dias”. Jesus entendia o homem de seu tempo como ninguém. Ele compreendia as questões que o homem de seu tempo fazia e, por isso, respondia de forma relevante aos publicanos e pecadores de seu tempo.
Em contrapartida, nossa leitura do varão hodierno — ops! do homem de hoje! — é vergonhosa. Não entendemos seus pensamentos, não entendemos suas questões. Às vezes, tenho a impressão de que a maioria de nós está falando para homens do século XIX, e não só com uma linguagem oitocentista, mas — o que é pior ainda — usando uma lógica e um tipo de reflexão e postura intelectual que é típico do universo espiritual oitocentista.A verdade é que alguns sermões de hoje se tornam irrelevantes porque apenas respondem às perguntas que o homem do século XIX fazia. São sermões tão distantes do século XXI, que dão sono! Cá para nós, às vezes me pergunto se isso acontece por causa do delay de publicações das obras teológicas oitocentistas, que são publicadas hoje em dia como “grandes lançamentos do ano”. Sinceramente, não sei.
O que sei é que, se queremos proclamar o reino de Deus para o nosso tempo, temos de nos livrar de nossas lentes oitocentistas. Precisamos ler o homem de nossos dias, com lentes apropriadas para o século XXI.O homem de hoje é um homem sem transcendente, ou melhor, um homem deslumbrado com o imanente, que passa a ser tomado como se fosse transcendente. Em outras palavras, alguém que trocou a adoração a Deus pela veneração ao carro do ano, ao último modelo de celular, de notebook, de TV e por aí vai. Por isso, as megaigrejas estão tão cheias. E garanto que não é pela relevância do discurso, mas pela exploração da angústia do homem moderno. Este vai à igreja não mais para simplesmente adorar, mas para clamar a Deus por um carro novo, uma casa maior, mais dinheiro, mais sucesso, mais poder. A tara por essas bênçãos materiais mostra o quanto somos niilistas, vazios, sem um sentido ulterior para vida, que seja superior a tudo o que está preso ao tempo e ao espaço.Não precisamos de sermões que alimentem nossa angústia niilista.
"Aproximavam-se de Jesus, todos os publicanos e pecadores para o ouvir". Lucas 15.1
Precisamos de sermões que nos conscientizem de nossa real situação. Sermões que revelem as novas faces de nossas depravações e desesperos. Sermões que sejam resultado de uma exegese bíblica cuidadosa e contextualizada, e, ao mesmo tempo, conscientes de que nossa inteligência e compreensão devem ser submetidas à luz do Espírito, o único que nos permite ver o Jesus supracultural, supratemporal, preexistente, Filho de Deus, Senhor do tempo, da história, da terra e do céu. Sermões que nos sirvam como espelhos para mostrar a face sofrida e angustiada de nosso coração, tão longe da busca pelo transcendente e tão entregue à busca exacerbada por bens transitórios. Só assim haverá conversão genuína, adoração verdadeira, pregação relevante. Só assim publicanos e pecadores de nosso tempo deixarão de se assustar com esse nosso esquisito jeito oitocentista de ser, e se aproximarão de nós para conhecer o Jesus do século XXI, que, paradoxalmente, em nada deve ser menos atraente do que o Jesus do século I.
Fonte: Blog do Jonas Madureira - htt://jonasmadureira.blogspot.com/
Graça e Paz, Irmão Juber.
ResponderExcluirConcordo com teu texto em tudo. Creio que um grande passo para mudar-mos essa situação é trocar nossas velhas traduções Almeilda Revista e Corrigida, Revista e Atualizada, etc. por traduções bíblicas como a NVI, por exemplo.
Olá irmão Elton,
ResponderExcluirO texto na verdade é do Jonas Madureira, mas muito pertinente para os nossos dias, por isso postei ele aqui. Quanto a trocar as velhas traduções bíblicas, eu acho que esse não é o caso. Comecei a ler a Bíblia na versão corrigida, que alías é muito amada pelos pentecostais. Hoje utilizo mais a Revista e Atualizada. Não aprecio a da Linguagem de Hoje, pois para mim, tira a própria beleza poética do texto. Esses dias ganhei de presente a Almeida Século 21, e estou gostando. Mas acredito que a postagem foca mais mudança no perfil das pregações e na capacidade da igreja se comunicar com o povo em geral, e não ficar usando apenas o vocabulário "crentês ou evangeliquê."
Graça e paz
Concordo contigo Juber, não as vejo mais como linguagem, mas já virou chavões, rs rs são horríveis. Paz querido!
ResponderExcluirMas devo lembrar que existe a linguagem de grupos, por exemplo passei longos anos dentro da AD,e no outro dia em um post meu, eu disse: Creio que só eles fazem
ResponderExcluir(a obra de Deus), uma pessoa leu e disse: Rô este seu jeito de falar é da AD, rs rs
Aí que percebi que trago em mim, todo jeito da AD, pois eu vivi tantos anos dentro dela, que peguei os jeito de falar deles. Quer dizer isso vai mais de onde e o meio que vc vive. Paz!
Eu entendi a postagem. Acho que não me expressei bem.
ResponderExcluirDevemos sim mudar o perfil das pregações. Infelizmente o "evangeliquês" e o "crentês" ainda toma conta. Porém eu creio que mudando a tradução é um grande passo para mudar a linguagem utilizada nas pregações.
Gosto muito da tradução Revista e Corrigida. Porém, eu creio que já é preciso mudar. Pois, por ser uma linguagem mais fácil, creio que durante as leituras nos cultos as pessoas vão entender melhor os sermões.
Graça e Paz!
Rô,
ResponderExcluirÉ verdade, existe também a linguagem dos grupos de igrejas.Aí fica difícil do povo não evangélico nos entender.
Um abraço.
Rô,
ResponderExcluirÉ verdade, existe também a linguagem dos grupos de igrejas.Aí fica difícil do povo não evangélico nos entender.
Um abraço.
Elton,
ResponderExcluirNesse ponto concordo com você. Eu presentei um colega de trabalho com uma Bíblia NVI, e ele disse que leu ela toda e entendeu a linguagem.
Um abraço.