A palavra-chave da mensagem de Habacuque é "visão". O termo deriva-se do hebraicohizzayon, que significa "sonho", "visão" ou "revelação". Aqui, trata-se de visões concedidas por Deus, que nos permitem ter uma clara e real percepção e compreensão da condição e realidade: presente e futura, visível e invisível, horizontal e vertical. Observemos, dessa forma, com base nas visões de Habacuque, as condições ou caminhos para um genuíno avivamento.
Ter uma visão da nossa próprio condição e realidade presente enquanto povo de pervertido.(Hc:1.1-4)
Habacuque nos revela a condição moral e espiritual na qual se encontrava o povo de Deus, marcada pelas seguintes práticas:
- Violência. A violência não se manifesta única e necessariamente na forma de agressão física ou verbal. A violência se revela na opressão e na exploração ao próximo, na falta de respeito e reconhecimento de sua dignidade. A violência nem sempre é histérica e alarmante. Há muita violência acontecendo de forma silenciosa e discreta.
- Iniquidade. Aqui a ênfase está no vazio (hb. 'awen), na futilidade da vida, em palavras ditas e em ações praticadas que não levam a nada, quem não produzem nada e que não servem para nada. Palavras e ações vazias de sentido e propósito, são claras manifestações de vidas vazias de sentido e de propósito. Em sua visão, Habacuque contemplou dolorosamente um povo vazio, por esse povo estar vazio de Deus.
- Contenda e litígio. Quando a violência e o vazio de Deus (que consequentemente torna a vida sem sentido e propósito) estão presentes, a contenda torna-se algo rotineiro. Pessoas violentas e vazias são especialistas em provocar litígios, brigas, facções, discórdias, discussões e disputas (hb. ribh). Quanto estamos vazios de Deus, brigamos e entramos em disputas por direito de posse de coisas que não nos pertence, e de posições, títulos e cargos para os quais não fomos vocacionados, preparados, nem chamados por Deus para tê-los ou ocupá-los.
- Injustiça caracterizada pela parcialidade nos julgamentos e pela perversão das sentenças. Habacuque viu o enfraquecimento e a frouxidão (hb. pugh) da justiça e do direito, a interpretação perniciosa da lei (hb. torah), e sentença (hb. mispat) adiada ou pervertida. Nestas condições, só os grandes, os poderosos, os ricos e influentes se beneficiam do sistema judiciário. Para o pobre e oprimido resta aguardar a justiça divina, que por sinal nunca falha.
A violência ao próximo é sempre um ato de violência contra nós mesmos. Quando agimos violentamente contra o outro, violentamos a nossa própria consciência, determinando assim a nossa autodestruição integral. Praticamos violência a nós mesmos, quando conscientes ou entorpecidos por nossa insensatez e loucura, nos privamos da presença, da direção e da bênção de Deus.
Ter uma visão futura de cura, restauração, renovação e ressurreira resultante da intervenção de Deus na história. (Hc:1.5)
O Senhor afirma que fará algo grande. Acontece que o processo de cura, restauração, renovação e ressurreição é por vezes doloroso. A disciplina que vem de Deus, apesar de por um momento suscitar dor, está fundamentada em seu amor. Deus nos ama, por isso nos corrige (Hb 12.5-11). As obras ou ações de Deus nos maravilham porque nos surpreendem. Os seus caminhos, nem sempre são aqueles que imaginamos. Deus nem sempre segue a lógica humana.
Além da declaração de que realizará, Ele deixa especificado o tempo. A coisa aconteceria nos dias dos contemporâneos de Habacuque. Eles sofreriam a disciplina e a correção pedagógica, necessárias para o arrependimento, quebrantamento e obediência: (Hc:2.2-3).
Os caminhos de Deus podem ocasionalmente promover em nós dúvidas, e certa confusão mental. Ficamos sem entender, sem compreender, sem alcançar. É nesse momento que precisamos descansar e confiar que "[...] o justo, pela sua fé, viverá." (Hc 2.4b). O justo não questiona o Senhor. Apenas crê, espera, confia.
Na experiência visionária, não apenas os meios no processo de avivamento são conhecidos, os resultados são também revelados: "Porque a terra se encherá do conhecimento da glória do SENHOR, como as águas cobrem o mar." (Hc 2.14). Uma inundação do conhecimento (hb. yadha') da glória (hb. kabhodh) do Senhor sobre a terra é prevista. Não apenas um novo saber sobre Deus, ou uma nova forma de contemplação, mas, um novo e amplo relacionamento com Ele será possível, e isso resultará em seu louvor: "Deus veio de Temã, e o Santo, do monte de Parã. (Selá) A sua glória cobriu os céus, e a terra encheu-se do seu louvor." (Hc 3.3)
Quando somos contemplados por visões, e quando ouvimos coisas semelhantes àquelas ouvidas por Habacuque, algumas reações e atitudes são esperadas: (Hc:3.1-2).
A primeira delas, identificada no texto acima, é o temor, a reverência e o respeito pela pessoa e pela palavra de Deus. Não apenas tememos, mas, também, trememos: "Ouvindo-o eu, o meu ventre se comoveu, à sua voz tremeram os meus lábios; entrou a podridão nos meus ossos, e estremeci dentro de mim;" (Hc 3.16a). Tal temor e tremor não produz medo, antes, produz oração, música e canto.
Uma outra atitude esperada é o clamor pelo cumprimento da sua palavra, do seu projeto, do seu querer: "[...] aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos a notifica;" (Hc 3.2b). Quando clamamos por um avivamento estamos pedindo que o Senhor, mediante a sua intervenção na história e em nossa vida, nos sare, renove e vivifique (hb. hayah), de maneira que essa restauração se torne visível e notória em nós.
Ter uma visão dos atributos transcendentes e imanentes de Deus
A experiência visionária de Habacuque não lhe proporciona apenas uma visão clara da realidade presente. Não se limita ao conhecimento dos acontecimentos futuros. Ele é alcançado com uma visão de Deus e sobre Deus.
Habacuque pôde contemplar e conhecer a santidade de Deus: (Hc:1.12-13). Separado de todo o mal, puro em tudo, Deus é inerentemente, integralmente, plenamente e absolutamente santo (hb. qadhosh). (Sl 22.3; Hc 3.3a; Is 6.3; 1 Pe 1.13-16). Habacuque pôde contemplar e conhecer a majestade de Deus: "Mas o SENHOR está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra." (Hc 2.20).
Deus é justo e bom. Com a sua justiça Ele nos corrige, e com sua bondade nos restaura: "Bom e reto é o SENHOR; pelo que ensinará o caminho aos pecadores." Quando tais conhecimentos sobre Deus se manifestam, além das atitudes aqui já expostas, só nos resta cairmos com a nossa face ao chão, e adorá-lo. Não importa se entendemos ou deixamos de entender o seu agir, não importa a escassez ou a abundância, os ganhos ou as perdas: (Hc 3.17-19).
Se a nossa visão fica apenas na dimensão do aqui e agora, e não percebe em Deus as possibilidades futuras, desmaiaremos em nosso desespero e desesperança. Por isso, juntamente com a possibilidade de discernir a realidade presente, de enxergar as coisas como as coisas são, Deus nos oportuniza vislumbrar um futuro de glória, onde a sua vontade soberana prevalecerá, e o seu nome será glorificado.
Bibliografia: Publicado na obra: Um Perfil de Sete Líderes (Arte Editorial), via www.altairgermano.net
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