quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

SENHOR, AJUDA A MINHA FÉ!

A Mensagem que eu quero compartilhar hoje está no livro de Marços 9:14-29. Uma das respostas que melhor define as tensões da vida cristã é a daquele pai cujo filho era possuído por um espírito maligno, que o impedia de falar, atirava-o ao chão e o oprimia a ponto de levá-lo a ranger os dentes, espumar a boca e enrijecer todo o corpo. O episódio está narrado no Novo Testamento. O pai havia solicitado aos discípulos de Jesus, que expulsassem o espírito do filho, mas eles não conseguiram. O Mestre, ouvindo o relato deste pai aflito, pede para que tragam o menino até ele. Quando chegou perto de Jesus, o espírito maligno provocou uma convulsão no garoto e o jogou ao chão. O pai, vendo aquela cena, completou seu relato dizendo que aquilo acontecia desde a infância do filho, e que muitas vezes este espírito tentou inclusive matá-lo.
Diante do quadro dramático, o pai fez seu apelo a Cristo: “Se podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos”. “Se podes?”, reagiu Jesus à pergunta, fazendo uma séria afirmação: “Tudo é possível àquele que crê”. Diante da afirmação de Jesus, o pai do garoto dá então, a seguinte resposta: “Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade”.
Esta resposta corajosa daquele homem revela uma tensão constante da experiência da fé. Para muitos, a vida cristã funciona com a prescisão da lógica contratual – basta que cada parte cumpra com suas obrigações que tudo sairá da forma esperada. Uma vez que Deus sempre cumpre com seus compromissos, resta-nos comprir com a nossa obrigação. Pensamos que, se vamos à igreja, contribuímos financeiramente para a obra, obedecemos aos mandamentos e fazemos tudo o os nossos mestres e conselheiros orientam, certamente a vida nos irá bem, sem tropeços ou surpresas. Porém, o fato é que nem sempre tudo acontece com a precisão da lógica. A vida é complexa, nossos desejos são muitas vezes confusos e obscuros. Alimentamo-nos de falsos ideais e facilmente nos entregamos às ilusões. O pecado é uma realidade dolorosa que corrompe os sonhos mais sinceros e puros.
Nossa cultura racional, funcional e pragmática não admite conflitos e angústias. Basta uma boa olhada nas livrarias que veremos uma grande quantidade de livros com receitas e fórmulas para casamentos felizes, filhos contentes e educados, ministérios eficazes e os infalíveis passos para o sucesso pessoal. A impressão é de que só tem problemas quem quer, ou quem ainda não adquiriu estes maravilhosos manuais que reduzem a vida a um esquema simplista e perverso. Aquele que não possui a fé mágica e a senha secreta para solucionar, num piscar de olhos, todos os dramas, corre o risco de sentir-se desqualificado para a vida espiritual.
A vida da fé envolve tensões e angústias. Ao contrário do que muitos tentam afirmar, insistindo numa fé que exorciza as crises humanas, dramas como o daquele pai do garoto possesso ou como o de Tomé, que duvidou da ressurreição, são mais freqüentes do que imaginamos. Miguel de Unamuno disse: “Aqueles que acreditam que crêem em Deus, mas sem paixão em seu coração, sem angústia mental, sem incertezas, sem dúvidas, e às vezes até mesmo sem desespero, crêem apenas na idéia de Deus, mas não no próprio Deus”.
Cremos e o ato de crermos envolve a capacidade de respondermos afirmativamente àquilo que nos é revelado nas Escrituras. Contudo, diante das complexidades, crises e conflitos da vida, respondemos como o pai do jovem endemoninhado: “Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade”. É preciso aceitar a incredulidade, o medo e as aflições como partes integrantes do processo de amadurecimento da fé. Jesus não nos deu fórmulas prontas, receitas infalíveis. Ele nos mostra o caminho e a verdade, nos ensina a andar por ele, nos oferece ajuda quando o fardo é pesado demais e deixa o exemplo para seguirmos seus passos. C.S. Lewis dizia que fé tem mais a ver com nossas emoções do que com nossa razão. Muitas vezes, cremos, mas temos medo; cremos, mas não estamos seguros quanto ao que desejamos. Cremos, mas achamos que não merecemos tamanha graça; cremos, mas ainda somos incrédulos. A distância entre nossas convicções e nossas emoções é o espaço onde a crise e as tensões da fé acontecem.
Jesus acolhe a incredulidade daquele pai aflito. Ajuda Tomé a superar sua dúvida. O que permitiu tanto ao pai, quanto a Tomé, crescer e superar as fronteiras da incredulidade, foi a capacidade honesta e sincera de reconhecer limitações e dificuldades. Eles não as esconderam sob o manto da falsa piedade, das afirmações vazias e desconectadas da vida. Para superas nossas próprias fronteiras e crescer em direção a Cristo, numa fé madura, bíblica e profundamente integrada à nossa humanidade, será preciso reconhecer nossas crises e aflições, pois são elas que nos tornam mais dependentes de Deus, que provacam as inquietações da alma, que nos empurram para o Senhor. E despertam em nós, fome e sede de Deus, porque nos fazem ver que ele, só ele, é capaz de satisfazer os anseios mais profundos e sinceros da alma.

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