quarta-feira, 12 de março de 2014

Sobre a predestinação e o livre-arbítrio


Sei que existe uma discussão teológica muito antiga envolvendo a temática da eleição divina, predestinação e livre-arbítrio do homem. Agostinho e Pelágio, Calvino e Armínio, defenderam suas convicções de forma apaixonada, e os que comungaram ou comungam com o mesmo pensamento da mesma forma. Isso tem ocorrido durante séculos de história do cristianismo.

  Se você me perguntar que linha teológica eu sigo, relacionado a doutrina da salvação, eu diria que creio na predestinação e no livre-arbítrio. Mas não é contraditório, alguém diria? Sim, para quem crê em uma das opções de forma engessada. Em torno dessa discussão se criou uma celeuma sobre algo que é um Mistério. Mistério é mistério. Deus é Deus! Deus é! O resto é tentativa humana de linearizar aquilo que não é linear. A História é linear, Deus não. Na História há antes, durante e depois. Mas para Ele tudo é. Ele não é Deus de mortos, e sim de vivos, pois para Ele todos vivem.

O significado disto é a eternidade. Eternidade não linear. Se fosse linear não seria eternidade, seria tempo. Abraão viveu há alguns milênios em relação a mim. Mas para Deus tudo está acontecendo a um tempo só. Entendeu? É claro que não! Não é para entender, é para crer! Trata-se de um “saber em fé”, não um saber racional. Quem crê na segurança da salvação não tem que ter mais nenhuma questão. Quem foi pro céu tem nome: Lazaro. Quem foi pro inferno não tem nome: um rico. Assim eu vivo: afirmo o nome de quem vai pro céu, e me calo sobre o nome de qualquer um que vá para o inferno. Dizer o nome de quem vai para o céu é uma esperança bem-aventurada, já para o inferno, o julgamento disso, pertence a Deus. Se Jesus não deu nome a quem está indo para o inferno, por que eu darei?

 Desse modo, toda essa história sobre a predestinação é pretender fazer de Deus um escravo da seqüência histórica do tempo. O Cordeiro foi imolado antes da fundação do mundo. Tudo o que foi criado nasce desse ato primordial e eterno. Para Deus, o que é, é! Hoje em dia até a física quântica ajuda a gente entender a discutir com categorias temporais do Macro Universo, daquilo que pertence a categorias atemporais, e que não são nem do micro-cosmos, mas da própria essencial do ser de Deus. Romanos capítulos 9 a 11, não é para ser explicado, é para ser crido. É um saber em fé. Se houvesse explicação Paulo a teria dado. Ele, no entanto, termina o raciocínio com a entrega da razão à adoração: Quem conheceu a mente do Senhor? (Rm 11). O resto é tentativa humana de expressar o inexprimível, e que só pode ser apreendido pelo espírito, e pela fé. O homem espiritual não “entende” todas as coisas, ele as discerne, conforme Paulo no ensinou. A maravilha não é entender, é saber em fé!

Em I Coríntios 1:23, diz que a mensagem da cruz era loucura para os gregos. O que a igreja fez no fim do era patrística, na Idade Média e continuou fazendo depois da Reforma Protestante? Tentar explicar Deus pela filosofia grega. Sintetizando os vários pensadores cristãos através dos séculos, diria que foi isso que Agostinho (através de Platão), e Tomás de Aquino (através de Aristóteles) tentaram fazer.

A doutrina protestante do “livre exame da Escritura” é totalmente bíblica. O problema não é ter liberdade para “examinar”, e sim, não examinar a partir de uma “teologia sistemática”. Daí em diante, mesmo na Bíblia, acha-se o que se desejar achar. Daí termos: Calvinismo, Armenianismo, Teísmo Aberto, e etc. Afinal, as “sistematizações” só se utilizam das evidências que “fecham o sistema”. A Bíblia, todavia, é propositalmente “paradoxal”, e, por vezes, até “contraditória” para os padrões de pensamento da filosofia grega. Paulo já dizia que a Cruz é loucura para os gregos. Como, então, seria um “método grego” que nos ajudaria a entender a Palavra? O que o “método” fez foi nos ajudar a criar “doutrinas”, incapacitando-nos a fazer “síntese” da revelação!
 
Continua...

 

 

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