terça-feira, 28 de abril de 2015

Subsídio para EBD - Jesus escolhe seus discípulos


A palavra “discípulos” se refere a um “aprendiz” ou “seguidor”. A palavra “apóstolo” se refere a “alguém que é enviado”. Enquanto Jesus estava na terra, os doze eram chamados discípulos. Os 12 discípulos seguiram a Jesus Cristo, aprenderam com Ele, e foram treinados por Ele. Após a ressurreição e a ascensão de Jesus, Ele enviou os discípulos ao mundo (Mateus 28:18-20) para que fossem Suas testemunhas. Eles então passaram a ser conhecidos como os doze apóstolos. No entanto, mesmo quando Jesus ainda estava na terra, os termos discípulos e apóstolos eram de certa forma usados alternadamente, enquanto Jesus os treinava e enviava para pregarem.

Jesus Cristo nos chama a segui-lo. Tal convite não pode ser respondido com um mero levantar de mão em cruzadas evangelísticas, com muitas mãos se levantando, respondendo sim ao apelo de seguir Jesus. Na realidade, pode ser que o gesto seja o primeiro de uma sucessão benéfica que inclua: apertar a mão de irmãos, lavar os pés dos santos, enxugar lágrimas a aflitos, dar água e pão aos pobres, curar as feridas dos flagelados, impor as mãos sobre os doentes ou uni-las em oração e prece. Se este for o processo, então aquele gesto foi válido. No entanto, se não propiciar tal fluxo de vida e sucessão de atos, não passou de coreografia de trabalho religioso, ilusão para os servos da idolatria estatística e fantasia para os que pretendem povoar o céu a partir da graça barata.
 
Seguir Jesus não é ser modelado dentro do apertado terreno dos condicionamentos psicológicos, culturais e religiosos dos nossos guetos evangélicos. Entre nós a conversão é muitas vezes um fenômeno de mimetismo, não o nascer de uma nova criatura. A conversão não é, na nossa superficial e freqüentemente hipócrita cultura evangélica, a assimilação de chavões, palavras, gestos feitos, tom de voz e indumentária própria.
 
Não tenho medo de ser julgado. O que disse está dito, pois conheço a igreja de Cristo no Brasil e sei que ela precisa ser liberta da religiosidade que por vezes Jesus odiou e reprovou. Discipulado também não é apenas vida moral e social ajustada. Pagar as contas em dia, lavar o carro todo sábado, levar os filhos ao parque, sair semana com a esposa, ser bom vizinho e ótimo sobre discipulado. Esta vida certinha ainda está dentro do ordinário. O discipulado está no nível do extraordinário.
 
Seguir Jesus extrapola os melhores hábitos. É ir tão mais além que desajuste os certinhos e desinstale os irremovíveis e plantados no seguro terreno da vida acomodada. Discipulado é vida para nômades. É existência para aqueles que confessam que todo país estrangeiro pode ser sua pátria e que o planeta Terra não é seu lugar de repouso.  
 
Seguir Jesus é caminho sem retorno
Pelo menos é assim que o candidato deve encarar. "Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para o Reino de Deus". Não pode haver titubeio. Avançar é a única alternativa viável. O discípulo diz: "Esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação em Cristo Jesus".
Nos dias em que vivemos, quando a mensagem do Evangelho tem sido insípida e diluída, sem substância, talvez me julguem estar exagerando ou tentando direcionar os desafios de vida aqui expostos para uma classe de pessoas especialmente vocacionadas. Imaginam que os comerciantes, industriais, empresários, fiscais da Fazenda, políticos, advogados e gerentes de bancos estão isentos desse projeto de vida.
 
Pensam: É possível que tal convite se dirija especificamente ao clero, à classe religiosa, aos pastores e obreiros, ou aos crentes muito consagrados. Acontece que a Bíblia não conhece essas distinções. Não há clero, laicato, pessoas de tempo integral e de tempo parcial, o grupo dos crentes simples e dos discípulos engajados. Jesus só tem uma categoria de seguidores: discípulos.
O discípulo não pode ser cheio de melindres, um hipersensível, um não-me-toques, pois muito freqüentemente suas opiniões serão contraditas e as sugestões reduzidas a pó ante a realidade irreprimível do amor de Deus e do Absoluto que o Amor manifesta no Reino de Deus. Repressões ortodoxas feitas pelos discípulos têm que ser, não raras vezes, repensadas, assim como posições intolerantes e rabugentas reavaliadas, mesmo diante de crianças.
 
Jesus nos ensina a ser não preconceituosos.  Em Jesus a verdade tem músculos, cor e pele. Cristo é a verdade. Apesar disso, não vemos nele a intolerância de alguns cuja fria e desalmada ortodoxia é mais uma espada afiada do que a expressão do zelo e do temor do Senhor. Jesus é a pessoa mais aberta que já fez história na Terra. Ele é aberto, sem no entanto ser um liberal sem fronteiras.
Nele não vemos pré-compreensões a respeito das pessoas, apesar de conhecer de antemão o que é a natureza humana. Nele não encontramos sintomas de preconceitos ou de pré-julgamentos. Seu dedo nunca é levantado antes de a hipocrisia manifestar-se. Sua voz nunca se ergue antes de a incoerência pretender passar por coerência. Seu juízo nunca vem, senão depois de a injustiça mascarar-se de retidão. Jesus nos ensina a viver nas fronteiras do amor e da santidade, mas nunca nas do moralismo e do preconceito. Para demonstrar isso ele come com pecadores, toca os intocáveis e alienados cerimonial e socialmente falando, visita a terra dos imundos porqueiros e usa porcos como agentes de misericórdia. Porcos eram animais imundos e impuros para os judeus.
 
Mas Jesus vence o preconceito e os usa como agentes de misericórdia, como ponte de libertação. Senta à mesa com um homem cuja fama é a de ser um sofisticado ladrão, e é capaz discipulado um ex- revolucionário e engajado – Simão, do partido esquerdista dos zelotes, cujo engajamento fora tão forte que seu nome mantém o vínculo com a ideologia que defendera. Jesus não leva em conta os preconceitos distorcidos contra os samaritanos, e tanto convive com eles quanto ilustra o amor fraternal através de um fictício personagem de Samaria.
Era também capaz de não só visitar os reacionários políticos religiosos de extrema-direita, mas inclusive comer com eles. Ele nem mesmo se esquivou de visitar e fazer o bem a alguém da casa do chefe local das forças de ocupação da superpotência que dominava o seu povo. E mais ainda: foi capaz de identificar fé naqueles que foram considerados pela ortodoxia pragmática como inveterados perdidos.
 
Entretanto, uma das provas mais fortes de que não havia espaço para preconceitos é o fato de que, nele, a mulher - então espoliada e minimizada - ganha dignidade e vê desaparecer o seu humilhante estigma de pessoa de segunda categoria. Ele a considerou extremamente útil e apta para fazer parte de sua equipe de evangelização.
Não a julgou indigna de colocar as mãos sobre a sua cabeça para ungi-lo meigamente, nem de tocá-lo suave, reverente e docemente para fazer parte de sua equipe de evangelização. Não a julgou indigna de colocar as mãos sobre a sua cabeça para ungi-lo meigamente, nem de tocá-lo suave, reverente e docemente, a fim de lhe evidenciar sua imensa gratidão.
Jesus também vence as barreiras maliciosos, não fugindo às mulheres, mas tratando-as com dignidade e transparência, mesmo em lugar solitário. A malícia procede do coração sujo, não do ambiente solitário. Cabe porém ao discípulo ter todo o cuidado de abster-se de toda a aparência do mal, sem no entanto ser um preconceituoso. No seu rol de amizades íntimas as mulheres também encontraram, espaço e dignidade. Ele não só conversa longamente com elas, como fazia refeições e aceitava hospedagem em sua casa.
 
Estranhamente, Jesus é o cumprimento das Sagradas Escrituras, sem no entanto ser o cumprimento dos modelos religiosos dos seus dias. Nem sempre a religião tem algo a ver com a Palavra de Deus. E isto também diz respeito, não raramente, ao próprio Cristianismo histórico e institucional.
A religião tende a ser o melhor conduto para o esclerosamento de qualquer idéia. Na maioria das vezes ela trabalha mais com tabus do que com a legítima revelação de Deus em sua palavra. O legalismo religioso é o mais forte empecilho ao caminhar do Reino de Deus na direção do novo.
Deus trabalha no sentido não da novidade, mas do novo eterno: um novo povo, com novos homens, que possuem um novo coração, vivem a realidade de um novo mandamento, sob uma nova lei, com um novo e eterno mediador, embalados por uma nova esperança, buscando uma nova cidade, onde se tem um novo nome e onde tudo é novo. Jesus ensina que o velho pano e o velho odre do legalismo religioso não poderiam suportar a alegria e a realidade da era nova. As novas expressões do Reino de Deus não se conciliavam com as estruturas de castas de uma religião caduca. Era preciso uma nova estrutura e uma nova mentalidade - a mentalidade do Reino de Deus.
Os doze discípulos/apóstolos originais estão listados em Mateus 10:2-4: “Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: primeiro, Simão, por sobrenome Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o Zelote, e Judas Iscariotes, que foi quem o traiu”. A Bíblia também lista os 12 discípulos/apóstolos em Marcos 3:16-19 e Lucas 6:13-16. Ao comparar as três passagens, há algumas pequenas diferenças. Aparentemente, Tadeu também era conhecido como “Judas, filho de Tiago” (Lucas 6:16). Simão, o Zelote também era conhecido como Simão, o cananeu. Judas Iscariotes, que traiu Jesus, foi substituído entre os doze apóstolos por Matias (veja Atos 1:20-26). Alguns professores bíblicos vêem Matias como um membro “inválido” para os 12 apóstolos, e acreditam que o apóstolo Paulo foi a escolha de Deus para substituir Judas Iscariotes como o décimo segundo apóstolo.
E interessante também o perfil dos chamados por Jesus. Figueira e Junqueira põe em evidência esses perfis. Eram humanos, limitados e imperfeitos. Os exemplos:
 
Pedro — era generoso e entusiasta (Mc 14.29,31), mas, na hora do perigo e da decisão, o seu coração encolhia e ele voltava atrás (Mt 14.30; Mc 14.66-72);
Tiago e João - estavam dispostos a sofrer por Jesus (Mc 10.39), mas queriam ter mais poder que os outros (Mc 10.35-41), e eram temperamentais (Lc 9.54). Jesus deu-lhes o apelido de “filhos do trovão” (Mc 3.17);
Filipe — tinha muito jeito para colocar os outros em contato com Jesus (Jo 1.45,46), mas não era prático em resolver os problemas (Jo 6.5-7; 12.20-22). Jesus certa vez o censurou (Jo 14.8,9);
Natanael — era bairrista 0o 1.46), mas diante da evidência reconhece que Jesus é o Messias (Jo 1.49);
André - era mais prático. Foi ele que encontrou o menino com cinco pães e dois peixes (Jo 6.8,9);
Tomé - era generoso, disposto a morrer com Jesus (Jo 11.16). Mas também era cabeçudo e teimoso, capaz de sustentar a sua opinião, uma semana inteira, contra o testemunho de todos os outros (Jo 20.24,25);
Mateus — era publicano e como tal era excluído da religião judaica.
Simão - era Cananeu ou Zelote (Mc 3.18). Fazia parte de um partido dos zelotes que se opunha ao governo romano;
Judas - guardava o dinheiro do grupo (Jo 12.6; 13.29);
Joana — era esposa de Cusa, procurador de Herodes, que governava a Galileia. Junto com Susana e outras mulheres, ela seguia a Jesus e o servia com seus bens (Lc 8.2-3);
Maria Madalena — era nascida na cidade de Magdala. Jesus libertou-a de sete demônios (Lc 8.2);
Marta e Maria - eram irmãs, que junto com Lázaro, o irmão delas, viviam em Betânia, perto de Jerusalém (Jo 11.1);
Nicodemos - Era membro do Sinédrio, o Supremo Tribunal da época.
 
 
 
 
Concluindo, os doze discípulos/apóstolos eram homens comuns a quem Deus usou de maneira extraordinária. Entre os 12 estavam pescadores, um coletor de impostos, um revolucionário. Os Evangelhos registram as constantes falhas, dificuldades e dúvidas destes doze homens que seguiam a Jesus Cristo. Após testemunharem a ressurreição e a ascensão de Jesus ao Céu, o Espírito Santo transformou os discípulos/apóstolos em homens poderosos de Deus que “viraram o mundo de cabeça para baixo” (Atos 17:6). Qual foi a mudança? Os 12 apóstolos/discípulos haviam “estado com Jesus” (Atos 4:13).
Que o mesmo possa ser dito de nós!
Bibliografia:
FIGUEIRA, Eulálio &_ JUNQUEIRA, Sérgio. Teologia e Educa- ção. Op. Cit.
FILHO, Caio Fábio DÁraújo. Seguir Jesus, o Mais Fascinante Projeto de Vida. Editora Betânia, 1985.

 

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