Desde o início, todas as tentativas no sentido de
recuperar para o homem sua posição perdida dividiram-se em dois modos. Adão e
Eva tiveram dois filhos, Caim e Abel. Um deles seguiu o caminho do Senhor e era
obediente. O outro filho, Caim, seguiu seu próprio caminho, desobediente ao
mandamento bem claro de Deus. Abel representava "a semente da
mulher", enquanto Caim representava "a semente da serpente".
Caim é o arquiteto da civilização moderna. É ele o materialista auto-suficiente
e o humanista religioso.
Embora fosse religioso e se apresentasse ao altar
de Deus, negava a revelação implícita de salvação dada a Adão na forma de roupa
conseguida por intermédio da vida de outro (Gênesis 3:21). Trouxe ao altar uma
expressão de seus próprios esforços e vigor, tomando-se o protótipo de todos os
que se atrevem a aproximar-se de Deus sem derramamento de sangue. A partir
desse ponto, dois caminhos ou modos se apresentam na história humana. De um
lado, temos o caminho de Caim, com sua religião da carne, com uma redenção
humana que confia apenas no homem e rejeita a substituição por Deus. O seu modo
humanizou Deus e deificou o homem. Seu modo era o modo do materialista, do
secularista, do humanista. Do outro lado, temos o caminho de Abel, com seu
reconhecimento humilde de que o pecado exige a morte, de que o pecador culpado
deve confiar no sacrifício indicado por Deus. Seu modo tornou -se um tipo da
morte de Cristo.
O REMÉDIO DA REDENÇÃO
Desde a época de Caim e Abel até nossos dias, o
homem tem procurado encontrar o seu próprio remédio para a sua doença, o
pecado. isso não deu certo no caso de Caim e jamais produziu resultado para
homem algum, e não será conseguido em nossos dias. Apenas Deus pode
diagnosticar corretamente a doença do homem, e só Ele nos pode indicar o remédio.
E Deus escolheu o sangue como meio de redenção do homem. O Apóstolo João
escreveu que Jesus Cristo "pelo seu sangue nos libertou dos nossos
pecados" (Apocalipse 1:5). O sangue é o símbolo da vida sacrificada pelo
pecado. "Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre
o altar, para fazer expiação pelas vossas almas: porquanto é o sangue que fará
expiação em virtude da vida" (Levítico 17:11).
Em todo o Antigo Testamento vemos registrado
reiteradamente que Deus queria a vida de um animal perfeito, sendo seu sangue
derramado sobre o altar, como sacrifício pelo pecado. "E sem derramamento
de sangue não há remissão" (Hebreus 9:22). Tais sacrifícios eram feitos em
antecipação ao dia em que um sacrifício permanente se realizaria.
"Entretanto, nesses sacrifícios faz-se recordação de pecados todos os
anos, porque é impossível que sangue de touros e de bodes remova pecados"
(Hebreus 10:3-4). Quando Jesus Cristo, o homem-Deus perfeito, derramou sangue
na cruz, estava entregando Sua vida pura e sem mácula à morte como sacrifício
eterno pelo pecado do homem. De uma vez por todas, Deus providenciou de modo
completo e perfeito a cura para os pecados humanos; sem o sangue de Cristo,
eles realmente são uma doença fatal. Ao sentar-se para a última ceia com os
discípulos, Jesus disse: "Porque isto é o meu sangue, o sangue da aliança,
derramado em favor de muitos, para remissão de pecados" (Mateus 26:28 ).
Todos têm que fazer sua escolha entre os dois
caminhos, o caminho do homem ou o de Deus. Um é o caminho do esforço próprio
por curar a si mesmo e obter a redenção própria; o outro é a justificação,
mediante a fé no sangue de Jesus Cristo.
Quando Caim se aproximou do primeiro altar com sua
oferta do "fruto da terra", era esse o seu meio de tentar reconquistar
o paraíso sem aceitar o plano divino de redenção. Em seu egoísmo e arrogância,
Caim resolvera vir a seu modo, rejeitando o plano de Deus. Os tempos não
mudaram, e hoje milhões de pessoas querem a salvação, mas dentro das suas
condições. Querem vir ao seu modo, e assim se apresentaram centenas de planos e
esquemas imaginados pelo homem para reconquistar o paraíso. Deram origem a
muitas seitas, cada qual fazendo propaganda de seu plano particular de
salvação.
O orgulho foi o pecado de Lúcifer, o orgulho foi
também o de Adão, e o pecado do homem moderno não é outro senão o orgulho. Ele
não quer reconhecer sua fraqueza e indefensabilidade diante das situações
insolúveis apresentadas pela vida, acha que de algum modo, de algum jeito, pode
conseguir a própria salvação. Caim apresentou as indicações de sua própria
cultura, que visavam a uma salvação mediante obras, enquanto Abel obedeceu a
Deus e humildemente ofereceu um sacrifício de sangue, reconhecendo assim que o
pecado merecia a morte e só poderia ser encoberto diante de Deus mediante a
morte substituta de um sacrifício sem culpa, e foi esse o plano que Caim
rejeitou deliberadamente.
RELIGIÃO NATURAL VERSUS PLANO DIVINO
Os dois fogos sagrados, fora do Éden, exemplificam
a diferença entre a religião verdadeira e a religião falsa. Um deles pertencia
a Abel, que trouxe o primogênito de seu rebanho como oferenda ao Senhor Deus. Ofereceu-o com amor, adoração, humildade e reverência, e
a Bíblia nos diz que o Senhor se agradou de Abel e de sua oferta. O outro
pertencia ao irmão mais velho, Caim, que trouxera uma oferta sem sangue e de
pouco valor ao seu altar, e a Bíblia nos diz que "de Caim e de sua oferta
Deus não se agradou". Como poderia o Senhor Deus mostrar-se tão
caprichoso? Afinal de contas, Caim não estava igualmente tentando agradar a
Deus, e não se apresentava com sinceridade perfeita?
Essa narrativa foi colocada na Bíblia a fim de
ensinar que existe um modo certo e um modo errado de entrar em contato com
Deus. Abel fez seu sacrifício humilde e reverentemente, com espírito de
sacrifício, trazendo a Deus o que de melhor possuía, e vejo pelo caminho de
Deus. Caim fez a sua oferenda de má vontade, com egoísmo e de modo superficial,
e além disso desobedeceu a Deus, no modo pelo qual veio, sem trazer consigo a
fé. Quando Deus não sancionou e abençoou seu sacrifício, Caim se enfureceu e
matou o irmão. Abel amava realmente a Deus e O adorava. A adoração de Caim era
religiosidade desprovida de sentido, tão vazia e oca quanto se tornou sua vida,
depois disso. Deixando a família, andou pela terra amargurado, gritando para o
Senhor: "É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo"
(Gênesis 4:13).
Aí vemos o aparecimento de uma corrente de
religiosidade, separando-se da torrente principal de verdadeira adoração do
Senhor Deus. Por toda a história humana essa corrente está destinada a
tornar-se um rio cada vez maior. O homem está eternamente hesitante entre o
falso e o verdadeiro, entre a adoração de ídolos e a adoração do Senhor Deus,
entre a sedução da religiosidade e o reconhecimento do claro ensinamento
bíblico do caminho para a salvação.
DEUS TEVE MISERICÓRDIA DE CAIM?
Há figuras na Bíblia que nos parecem que existiram
apenas para carregar maldições. Caim é a primeira figura humana a tornar-se uma
simbolização maligna.
Sem dúvida, no resto da Bíblia, Caim
cresce como figura arquetipica da desfraternalização dos humanos.
Caim é o primeiro homem que não
consegue lidar com a Graça. O amor de Deus que afirmava a
genuinidade do coração de Abel, não provocou nele nenhum tipo de auto-percepção,
mas apenas de projeção irada contra Deus, e objetivamente transferida de modo
odioso contra o único que poderia receber seu ódio: o irmão.
Na verdade Caim é o Judas da
antiguidade. Ambos são simbolizações históricas daquilo que é mal, mas não significa
que o “entendimento” que houve entre Deus e eles os tenha deixado para sempre
tão cristalizados em suas próprias almas, quanto cristalizados ficaram nas
simbolizações que passaram a encarnar ante os sentidos históricos dos humanos.
O que temos que compreender é que os
“filhos da perdição”—como Caim e Judas—existem muito mais como uma manifestação
de pedagogia histórica para nós, humanos, do que como uma fixação definitiva
dessas figuras em estados eternos de perdição.
E se esses indivíduos, à semelhança
do ladrão salvo na Cruz—sobre quem a Graça se derramou, mas nós jamais
creríamos se o Evangelho não tivesse nos dito que ele está com Jesus “no
Paraíso”—também tiveram sua “conversa privada” com Deus, tendo-nos sobrado
apenas as suas imagens como simbolizações do mal?
Como a história é sobretudo um fenômeno
de comunicação, e se serve de simbolizações para se fazer ilustrar...pessoas,
cidades, nações, e geografias...ficaram marcadas na Bíblia como sendo
“malignas”, sendo que as coisas e pessoas...em si...não têm que ter tido o mesmo
destino maligno que sua figura histórica passou a dar face.
Um dia nós entenderemos isto com muita
clareza, todos nós, e nos envergonharemos de nossas pseudo-certezas, e juízos
perenes. Na realidade o Caim que entrou para a
história pelo ato de perversidade cometido contra o seu irmão, Abel, não ficou
de todo destituído dos cuidados divinos.
Pois a ele disse Deus:
Que fizeste? A voz do sangue de teu
irmão está clamando a mim desde a terra. Agora maldito és tu desde a terra, que
abriu a sua boca para da tua mão receber o sangue de teu irmão. Quando lavrares
a terra, não te dará mais a sua força; fugitivo e vagabundo serás na terra.
Ante a certeza de ser amaldiçoado, Caim
entrou no mais profundo de todos os medos e terrores...ele sabia que sobre ele
haveria “um clamor humano” por vingança. Então se declarou amaldiçoado e
perdido...confessou-se um zumbi...um andarilho prestes a morrer...dando sempre
passos para alguma emboscada...enquanto andava para o nada.
Então disse Caim ao Senhor: É maior a minha punição do que a que eu
possa suportar. Eis que hoje me lanças da face da terra; também da tua presença
ficarei escondido; serei fugitivo e vagabundo na terra; e qualquer que me
encontrar matar-me-á.
O Senhor, porém, lhe disse, porém
alardeando Sua Palavra para todos, pois é assim que Sua voz se faz ouvir: Portanto quem matar a Caim, sete vezes
sobre ele cairá a vingança. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que não o
ferisse quem quer que o encontrasse.
Olha só que coisa! Houve misericórdia e graça até para
Caim.
Quem o matasse seria sete vezes
vingado...e Deus pos uma marca de proteção...um selo divino...um aviso para que
ninguém se metesse entre Ele e Caim.
Ora, se houve Graça que protegesse a
Caim, não haverá muito maior Graça sobre a sua vida, que está sob o Sangue da
Aliança, e que descansa na justiça do Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo?
Caim carregou as conseqüências
históricas de seus atos, e emprestou seu nome a uma trágica simbolização. Mas
não esqueçamos: isto é o que ficou para nós, para o nosso ensino, e para nos
fazer ver as conseqüências de todos os atos humanos.
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