quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Nunca o voto dos evangélicos foi tão decisivo quanto será na eleição de 2018

Bolsonaro, Alckmin e Meirelles já se movimentam para seduzir os votos do segmento.

DIVULGAÇÃO/IURD
Geraldo Alckmin, Michel Temer, Dilma Rousseff e Fernando Haddad foram alguns dos políticos que participaram da inauguração do Templo de Salomão, do bispo Edir Macedo (centro), em 2014.
Em um cenário eleitoral polarizado, com muitos políticos do chamado "centrão" de olho no Palácio do Planalto e pouco dinheiro para financiar as campanhas, um grupo aparentemente homogêneo de eleitores vem brilhando os olhos dos presidenciáveis: os evangélicos. Eles somam praticamente um terço da população, segundo o Datafolha, e podem ser decisivos para definir o pleito.
A três meses do prazo para um candidato se filiar ou trocar de partido, os interessados em participar da disputa eleitoral intensificaram seus movimentos para conquistar o segmento. Fundador e presidente do Ministério Sara Nossa Terra, o bispo Robson Rodovalho afirmou ao HuffPost Brasil que alguns candidatos já o sondaram.
"Embora ainda esteja cedo, alguns candidatos já me procuraram para falar sobre candidaturas, mas estamos procurando por valores para unificar o segmento, fazer o maior número possível de deputados e senadores, e alinhar com a possível candidatura presidencial junto aos nossos valores", explica.
Rodovalho destrincha o perfil que o grupo considera ideal para presidir o País a partir de 2019:
"O que nós entendemos que a sociedade anseia hoje é por um candidato que tenha compromisso com a questão do liberalismo do mercado, alguém que respeite regras do mercado, que seja pró-desenvolvimentista, capaz de gerar emprego, capaz de dar garantias do ponto de vista do crescimento econômico e ao mesmo tempo que seja conservador nos valores, na família natural, homem e mulher, na vida, contra a questão do aborto. A sociedade brasileira é bem posicionada sobre isso, e a gente está procurando exatamente uma ressonância nesse sentido."
Nos últimos dias, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, interessado em concorrer pelo PSDB, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que cogita sair candidato pelo PSD, fizeram aceno aos evangélicos. Ambos apresentam afinidade com o perfil desejado por Rodovalho, cada um à sua maneira. Segundo colocado nas pesquisas presidenciais, o deputado Jair Bolsonaro(PSC-RJ) também tem despertado a simpatia aos evangélicos.
Para Rodovalho, Bolsonaro, único que não se coloca como candidato de centro, é um dos que têm possibilidade de se alinhar com o segmento. "Não acredito que já esteja, mas acredito que é possível um alinhamento a depender das bandeiras." Em eleições anteriores, o segmento esteve na mira de Lula e Dilma Rousseff a Marina Silva e Aécio Neves, por exemplo.
A estratégia dos líderes evangélicos para este ano espera por uma definição apenas entre fevereiro e março.
Ainda está cedo para tomar qualquer tipo de decisão, mas não é cedo para conversar.

Meirelles e Sara Nossa Terra

A peregrinação dos presidenciáveis começou cedo. Em setembro, Meirelles gravou um vídeo para pedir apoio dos evangélicos na aprovação da reforma da Previdência e começou com uma súplica: "preciso da oração de todos".
UESLEI MARCELINO / REUTERS
Henrique Meirelles entre o bispo Rodovalho e esposa no início do mês na Sara Nossa Terra.
Esse foi um dos movimentos do presidenciável para se aproximar dos fiéis. No último dia 5, foi apresentado por Flávio Rocha, presidente do grupo Riachuelo, como o responsável pelo "maravilhoso milagre da economia brasileira", em culto da igreja evangélica Sara Nossa Terra, em Brasília (DF), na presença de Rodovalho.
Em junho, participou da comemoração dos 106 anos da Assembleia de Deus em Belém (PA). No mês seguinte, foi a vez a um novo encontro com membros da mesma igreja em Juiz de Fora (MG).
Em entrevista ao jornal Estadão, o ministro, que é católico, diz que se aproximou da Assembleia de Deus porque a igreja "compartilha da mesma mensagem de gastar só o que se ganha" na doutrinação a seus fiéis. Ele alega também buscar apoio para a aprovação da reforma da Previdência.
Meirelles tem até abril para decidir se deixará o governo de Michel Temer para ser candidato. De acordo com pesquisa Datafolha publicada em dezembro, as intenções de voto variam entre 1% e 2%, dependendo do cenário. O ministro da Fazenda é conhecido por 48% dos eleitores.

Disputa pelo voto evangélico

Provável candidato do PSDB, Alckmin também está de olho nos evangélicos, a fim de garantir que os votos do grupo não sejam conquistados pelo deputado federal Jair Bolsonaro.
Em agosto, o tucano participou da abertura da Expo Cristã, maior feira do segmento gospel no Brasil. O anfitrião do evento é o pastor da Assembleia de Deus Silas Malafaia. "Nós precisamos nos inspirar na igreja", disse o presidenciável.
ALEXANDRE CARVALHO/A2IMG
Geraldo Alckmin, em agosto, na abertura da Expo Cristão, foi aplaudido pelo pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus.
O governador deve organizar um jantar no Palácio dos Bandeirantes com líderes religiosos e visitar cultos da Assembleia de Deus Paulistana, da Fonte da Vida e da Igreja Mundial do Poder de Deus, de acordo com a Folha de S.Paulo.
As intenções de voto de Alckmin ficaram entre 6% e 12%, dependendo do cenário, de acordo com pesquisa Datafolha divulgada em dezembro. Ele é conhecido por 85% dos eleitores.
Lula e Bolsonaro estão empatados nesse segmento, segundo o Datafolha. O ex-presidente tem 14% de preferência, contra 13% do parlamentar. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Apesar de católico, Bolsonaro já se batizou no rio Jordão (Israel) pelas mãos do pastor Everaldo Pereira, presidente do PSC, partido que ele decidiu abandonar para disputar o Palácio do Planalto.

Voto evangélico com peso maior

Na avaliação do cientista político Antonio Lavareda, o voto evangélico terá um peso maior nas eleições de 2018 devido ao fim do financiamento privado de campanhas. "Provavelmente o voto evangélico vai ser mais importante nessa eleição de 2018 do que já foi anteriormente no Brasil", afirmou ao HuffPost Brasil.
De acordo com Lavareda, "as eleições de deputados federais e estaduais e também a presidencial e de governador vão ser eleições com orçamentos inusuais, provavelmente os mais baixos de toda a Nova República. Nesse contexto, candidatos apoiados por corporações quantitativamente relevantes levam vantagem".
O Congresso aprovou R$ 1,716 bilhão para o Fundo Especial de Financiamento de Campanha neste ano. O fundo foi criado em resposta à proibição das doações empresariais, decidido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2015.
Especialista em pesquisas eleitorais e ex-consultor de estratégia de 91 campanhas majoritárias, Lavareda destaca o aumento da bancada evangélica no Congresso Nacional e a expansão do número de representantes desse setor eleitos nas eleições municipais de 2016, com destaque para áreas na periferia das regiões metropolitanas.
Frente Parlamentar Evangélica do Congresso conta com 199 deputados e 4 senadores. Levantamento do Departamento de Assessoria Parlamentar identificou que nas eleições de 2014 foram eleitos 74 novos deputados do setor, seguindo tendência de crescimento.
Lavareda ressalta que não necessariamente o novo presidente será evangélico, mas lembra que candidatos dessa religião tiveram desempenho relevante em recentes eleições presidenciais.
Ele cita 2010, quando Marina Silva disputou o cargo pelo PV, conquistou o terceiro lugar, com 19,33% dos votos. Já em 2002, Anthony Garotinho, que concorreu pelo PSB, também ficou em terceiro, com 17,86% dos votos. No segmento, ele tinha 42% das intenções de voto, enquanto Lula, vencedor do pleito, tinha 27%, segundo o pesquisador.
O voto dos evangélicos é mais orgânico do que de outras religiões, segundo o especialista. Isso significa que esse setor vota mais em bloco, de acordo com a orientação dos líderes religiosos. "Se uma denominação evangélica apoiar um candidato, vai ficar mais fácil um apoio maior desses fiéis para esse candidato", exemplifica.
Em 1991, 9% da população do País se declarava evangélica, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em 2010, o grupo chegou a 22%. Segundo pesquisa Datafolha publicada em dezembro, os fiéis dessa religião correspondem a 32% dos brasileiros.
Quem são os presidenciáveis de 2018

Um comentário:

  1. Quando os líderes evangélicos decidem apoiar um candidato, eles pensam primeiros neles, em seguida no império que eles comandam e depois nos membros. Os membros das igrejas evangélicas não passam de moeda de troca nas mãos dos líderes. Igreja tal apoia tal candidato. Incrível, ninguém sabe o que foi negociado, quais ideias foram aceitas. Quem deu autorização para o líder apoiar em nome da igreja tal candidato. Na realidade o que se ver é voto de cabresto. Os membros tem que apoiar, tem que votar e ponto final. O pior é que o eleito não passa de marionete do líder.

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