Dono de um discurso liberal e autodeclarado “livre das amarras da religião”, Caio Fábio é um nome relacionado a constantes polêmicas e confrontos.
Nascido em Manaus (AM), este ex-pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, pela qual atuou por três décadas, identifica-se hoje, aos 64 anos, como o “mais polêmico defensor do Evangelho”. Ele recebeu a equipe de Comunhão, em Brasília, para tratar de variados assuntos, tanto os de âmbito pessoal quanto os relacionados ao seu ministério. Sem papas na língua, foi categórico ao afirmar que, independentemente da interpretação das pessoas à sua volta sobre a Bíblia ou sobre sua vida, é um seguidor de Jesus.
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O fato de ser filho de um advogado, pastor e ex-procurador da República e de uma professora foi determinante para sua sede de conhecimento?
Não há dúvida de que, ao ter uma criação com esse estímulo de interesse e provocação, o pendor para esse desejo se torna natural. Meus pais já eram produto de uma geração sedenta por conhecimento. Meu avô já tinha essa avidez pelo saber; minha avó materna, que veio de uma família francesa, era protestante com sede de leitura bíblica. E isso tudo se soma em relação a quem você é. Sou de uma geração ávida por conhecimento, diferente da geração dos meus netos, dotada por compreensão tecnológica, mas não necessariamente de conhecimento. No meu tempo tinha mais perguntas sobre o coração, a alma e o ser do que este tempo. E quando me converti fiz questão de não estabelecer nenhuma ruptura. A conversão mudou meu olhar, meus códigos de valores e minha interpretação. Eu só mudei de vida, nasci de novo, fui regenerado no coração pelo Espírito Santo, com uma mente com outros códigos de valores e interpretação, mas vendo a minha geração como sempre vi.
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Como é sua relação com seus filhos?
Tive cinco filhos que pessoalmente gerei. Depois me casei com a Adriana e adotei no coração os três filhos dela, e eles me adotaram também. A coisa mais maravilhosa que aconteceu é que todos se tornaram amigos. Nós somos pai e filho no mais profundo nível de paternidade e de filiação. Eles são pessoas nas quais eu confio totalmente, sei quem são e eles sabem quem eu sou, e o nosso amor tem sido provado, crescido e aumentado. Nossa casa é cheia de liberdade. São seres bem diferentes, com vocações e personalidades distintas, mas com amor igual.
“Aquilo só aconteceu comigo porque eu era quem eu era, como eu era, naquela hora, naquele tempo, naquele ano, naquelas circunstâncias e naqueles dias”
Sobre o episódio que culminou no término do seu casamento com Alda e que gerou dor e tristeza tanto em você (que se refugiou nos Estados Unidos) como em todos que o admiravam, o que diria hoje ao povo de Deus?
Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. Depois de 20 anos de nossa separação, em 1998, ela continua sendo minha grande amiga, o companheiro dela é meu amigo querido, de sentimento fraterno. A casa dela me acolhe tanto quanto a minha a acolhe. Nossos filhos não veem essa ruptura. A partida de nosso filho Lukas, em 2004, nos uniu tão profundamente que começamos a ver a tolice que seria se insistíssemos em mágoas e ressentimentos. Nossa única e mesma família continua maravilhosa. Na nossa casa isso é uma questão que não existe há muito tempo, só se for no museu da amargura da imaginação religiosa. Então ficou tudo bem pela misericórdia de Deus. Ele foi um cordeirinho de Deus que tirou psicologicamente a memória e o trauma daquele pecado do nosso mundo.
“Bem-aventurados os milhares de pessoas que têm descoberto o que é o Evangelho, quem é Jesus e têm descansado nEle, crido na palavra dEle e se convertido à consciência de Deus, e não mais nessas agremiações religiosas, denominacionais, esse monte de clube religioso, tudo dentro de seus estádios particulares, torcidas organizadas por todos os lados”
Você sempre foi uma forte personalidade no universo cristão contemporâneo, conhecido no Brasil e no exterior. Como construiu isso?
Eu só fui eu mesmo. Nunca tive assessoria de marketing para me promover. Me converti em julho de 1973, dois meses depois comecei a pregar o Evangelho, e o resto aconteceu. No ano seguinte ganhei um programa de TV semanal no Amazonas e dali pra frente tudo fluiu. Passei 30 anos da minha vida com uma energia ávida de servir o povo de Deus. A intenção era divulgar o Evangelho com aquela potrice da juventude. Era um modus operandi de Satanás com toda pureza de quem busca servir o reino de Deus. Nunca bati em porta de igreja para pregar. Se eu recebia 4 mil convites, aceitava até 300 por ano. Vivia viajando. e isso não era saudável. Alguma coisa me dizia que o cobertor era curto, e a cama estava estreita. Tudo o que fiz foi por amor, mas só tenho trauma de ter ficado pouco tempo com meus filhos. Quem quiser me imitar vai se frustrar até a morte. Aquilo só aconteceu comigo porque eu era quem eu era, como eu era, naquela hora, naquele tempo, naquele ano, naquelas circunstâncias e naqueles dias. As coisas passam, embora se repitam na sua idiotice.
Você viajava por todo o país, lotando igrejas e auditórios e tendo vários CDs com seus sermões vendidos. O que fez com todo esse patrimônio?
Eu vendi mais de 6 milhões de livros e milhares de DVDs e nunca fiquei com nada. Sempre doei tudo. Praticamente quase tudo o que foi feito no meu ministério, eu ganhava e doava. Eu só vivia com o que precisava para viver todo mês, nunca tive poupança na vida, pois sei quem me sustenta, quem me mantém. Quem prega o Evangelho vive do Evangelho. Até eu partir, não irá faltar nada nem para mim nem para minha geração.
Os seus livros “Sem Barganhas com Deus” e “O Privilégio de Poder Simplesmente Dizer: Tá Doendo” são pautados em sua experiência pessoal?
Todos os meus livros têm a ver com a minha experiência pessoal. Não faço nada que não passe primeiro por dentro mim, que não tenha sido processado por mim. Sigo existencialmente o que o Salmo diz: “Eu cri, por isso é que escrevi. Eu creio, por isso eu sou e faço”. Nos primeiros sete anos de vida cristã, minha vivência e aprendizado foram com o meu pai, com os seus ensinamentos, mas sempre fazendo minha leitura e percepção das coisas espirituais. Noventa e oito por cento das percepções mais significativas da minha existência vieram diretamente da Bíblia, especificamente do Novo Testamento. As milhares de coisas que li foram filtradas pelo Evangelho. Se qualquer coisa não passar por isso, se torna um conhecimento, uma informação, mas jamais será uma absorção em mim.
Como sua formação e prática na psicanálise podem ser usadas para ajudar a Igreja a tratar os crentes?
O livro “Tá Doendo” teve um papel terapêutico enorme no meio da década de 1980 e início dos anos 90, quando o crente era proibido de ficar doente. Foi uma salvação da época, muitos começaram a ter coragem de dizer que precisavam se tratar. Vários outros livros são de natureza bíblico-psicológico-analítica, com aplicativo do Evangelho como a cura para a doença de “ser”, e trazem os desenvolvimentos dessa neurose culposa que praticamente todos os cristãos sentem. O Evangelho precisa ser antes de tudo uma boa-nova para a alma, para pacificação do indivíduo. Ele precisa ser o pão da vida e o saciamento espiritual do nosso ser. Eu não conheço o Evangelho que não comece sendo uma libertação para a mente, com coração e pacificação para o ser, libertação do medo da morte, do medo de viver, existir, pecar. Emoções, sentimentos, sensações, todo mundo tem. Porém, se você tem essa paz que decorre do fato de sabermos que em Cristo na cruz tudo foi pago e os seus pecados estão perdoados, então tudo vira brisa. Quando fazemos isso, vivemos por amor, por prazer, obedecemos com alegria e ainda sem medo, sem culpa, assim como disse Paulo: somos constrangidos pelo amor de Cristo. Depois que você entende isso, não consegue retroagir nunca mais.
Trata-se de um movimento cristão formado em sua maioria por “desigrejados”?
A segunda maior denominação evangélica no Brasil hoje é dos que deixaram de frequentar as igrejas e se confessam cristãos de origem evangélica, mas não conseguem frequentá-las, porque 95% delas se desviaram do Evangelho com as barganhas, com o neopentecostalismo. Isso foi denunciado por mim a partir dos anos 90. A profecia revelada a mim nos anos 2000 está se cumprindo com o portal dos invisíveis, ou seja, são milhares de pessoas doentes espiritualmente, que fizeram permutas com Deus e estão esperando por milagres. São as doenças das barganhas, os que ficaram nas campanhas, nas filas, esperando os milagres, se dessem dinheiro, se fizeram permutas com Deus e se esbagaçaram. Eu tenho ajudado essas pessoas através da internet. E bem-aventurados são os que enxergarem e amarem mais o Evangelho do que os olhos apodrecidos das formas religiosas.
Há quem diga que você passou por três fases na vida: pregador cristão notável, servo arrependido e atualmente líder alternativo. Isso procede?
Isso é coisa antiga, de gente preconceituosa. Para os filhos de quem é dessa geração, eu não sou nada disso. Por exemplo, eu encontro com a nova geração e eles me apresentam como o “meu youtuber favorito”. Eu continuo pregando o Evangelho, o resto é uma tentativa de me colocar em gaiolinhas de ouro, na qual eu não caio, porque sou livre em Cristo. Nunca antes fui melhor do que hoje. No ano que vem estarei melhor que neste ano e morrerei melhor do que quando comecei, porque o Evangelho cresce dentro de mim. Quando digo melhor, estou falando de compreensão, paciência, assimilação, tolerância, misericórdia e esperança. São nesses níveis que podemos melhorar, o resto é performance.
Considera-se um pregador e líder que vai além dos limites denominacionais?
Eu passei dessa fase, virou um conceito da década de 80. Nós estamos na internet, onde todo mundo entra em todo lugar, na casa de todo mundo, e ninguém pode controlar. É uma loucura imaginar que isso ainda pode acontecer. Bem-aventurados os milhares de pessoas que têm descoberto o que é o Evangelho, quem é Jesus, e têm descansado nEle, crido na palavra dEle e se convertido à consciência de Deus. E não mais nessas agremiações religiosas, denominacionais, esse monte de clube religioso, tudo dentro de seus estádios particulares, torcidas organizadas por todos os lados. Isso vai acabar e ainda terá prazo de validade para gente muito ignorante, mas as próximas gerações irão atropelar, e os religiosos ainda não perceberam.
Você é “o cara” que foi super-respeitado no passado, o cristão intelectual que vai deixar coisas pra se pensar no futuro, mas não é “o cara” para lidar com a Igreja de hoje?
A Igreja de hoje lida comigo todo dia, está sendo pastoreada por mim, e a do futuro também. Mas a Igreja de ontem não me aguenta, porque o futuro chegou, e eles não viram. Nós viajamos em direção ao futuro, que está nas mãos do Senhor, mas estou servindo hoje, vendo coisas que muitos ainda não enxergam. Muitos passaram a enxergar e outros que serão ajudados a viver na próxima geração e tantas outras quantas o mesmo Evangelho nelas tiverem aplicação.
Com ministério evangelístico e oratória até erudita, você foi amado por pentecostais e tradicionais, considerado um porta-voz da Igreja brasileira. Ainda sente-se aceito por esses dois segmentos cristãos? Por que críticas tão duras ao neopentecostalismo?
Eu bato nos neopentecostais há pelo menos 30 anos, porque esse movimento é um hospício, se transformou numa delegacia que lida com bandidos praticamente todo dia. As Igrejas históricas não fazem as coisas que as neopentecostais fazem, mas são delegacias de polícia como boa parte das lideranças pentecostais são e praticam. As instituições históricas reformadas são impermeáveis, comunidades sem choros, sem compaixão, só doutrinárias cultuando Calvino. E esse movimento está crescendo até mesmo no puritanismo. Alguns irmãos dessas igrejas são pessoas queridas, mas que foram todas castradas e podadas e ficaram ali como bonsais, estão longe de expressar os seus frutos maiores e mais plenos. Quem aceitou a poda na raiz que a religião fez ou o medo que a perseguição religiosa causou se atrofiou.
Caio Fábio possui vários admiradores, porém alguns preferem filtrar o que prega. A que atribui isso?
Eles só irão repetir 5% do que eu ensino, não vai passar disso. Se disserem que ouviram uma mensagem do Caio Fábio no YouTube e a pessoa for lá ver qual é a fonte e pular de cabeça, ela não volta como a maioria. A menos que o líder seja muito seguro de si. Tem que ver aquele grupo não como o ganha-pão dele. Quem vem fazendo isso vem crescendo numa harmonia de paz e ordem com seus grupos. Quem é inseguro e fica com medo de que o ensino total e pleno, sem filtragem, possa diminuir a arrecadação dele, a força e o poder vai sempre dizer: “Que coisa boa! Essa parte eu não encontro lá”. Além disso, podem pensar: “Esse ensino é muito forte, é uma compreensão que não sei se todos têm” ou “Se eu deixar todos aproveitarem, pode ser que alguém se escandalize e eu perca o meu lugar”.
“Bem-aventurados os milhares de pessoas que têm descoberto o que é o Evangelho, quem é Jesus e têm descansado nEle, crido na palavra dEle e se convertido a consciência de Deus, e não mais nessas agremiações religiosas, denominacionais, esse monte de clube religioso, tudo dentro de seus estádios particulares, torcidas organizadas por todos os lados”
Lucidez e polêmica sempre foram características suas. O Caio Fábio que ressurgiu alegrou a muitos e causou espanto e perplexidade em outros. Hoje, crítico da Igreja evangélica, diz o que pensa e atira em todas as direções, até mesmo usando termos pesados para defender seus conceitos?
Quando eu brinco na TV dizendo por exemplo “Deixa de ser babaca” ou qualquer outra coisa, eu digo de maneira absolutamente pedagógica, pois é a linguagem que a moçada entende. Meu português é dotado de um recurso maravilhoso que é usado em plenitude para quem convive comigo o dia inteiro. A maioria das pessoas que me assistem na TV tem entre 15 e 38 anos de idade. Elas me entendem, se convertem e acabam discernindo que não tem nenhuma energia de palavrão. O que quero dizer é que isso tudo é burrice antropológica, porque a palavra muda, é dinâmica. Por exemplo, “sacanagem” deixou de ser palavrão hoje, porque a língua mudou, e tornou-se uma brincadeira. Não quero agradar a fariseu. Eu nasci pedindo a Deus para ser “Jesus”, um “Cristozinho” e tentando provocar “Jesuses” na minha geração. Eu quero ser um Jesus todo dia mais “ajejuizado”, crescendo em cristificação. Jesus foi julgado de maneira horrorosa, chamado de demônio, suicida, louco, desvairado, impostor, amigo de pecadores no sentido pejorativo. Isso está relatado no Novo Testamento, então é uma titulação que me glorifica, porque sei para que vim.
O rei Davi, da Bíblia, é considerado um homem segundo o coração de Deus mesmo tendo pecado gravemente. Sente-se identificado com a história dele?
Eu sou identificado com a história de Jesus. Davi é meu irmão, um companheiro, um colega; a diferença é que ele está na Bíblia. Mas houve milhões que viveram vidas muito mais íntimas, lúcidas e próximas de Deus do que Davi. Ele é só um fenômeno semítico, da história de Israel. Ser um homem segundo o coração de Deus é andar com uma boa consciência perante Deus, diante do próximo, buscando viver o Evangelho com simplicidade honesta e sincera, em todas as relações, amando a Deus e ao próximo. E tem que fazer parte dessa santa corja que levanta e anda, desse povo do coração furado pela cruz.
Como escritor de êxito e líder que dirigiu vários congressos com ênfase na ética ministerial, na espiritualidade, na integridade cristã, como foi enfrentar críticas e julgamento ao romper com o ministério da Igreja Presbiteriana do Brasil?
Foram três décadas intensas liderando o processo e lutando contra aquela hipocrisia pastoral. De certa forma, eu estava preparado para dizer o que eu quis, romper como fiz, porque estava convicto de que aquelas pessoas não queriam o Evangelho. Ao contrário, muitas delas amariam me ver pelas costas. Eu era um problema e incomodava. Minha honestidade e dignidade ministerial esmagavam e amarguravam muitas pessoas, que se sentiam publicamente tolhidas em razão de que eu existia com aquele poder enorme, com abrangência. Não foi o modo certo de fazer, mas ficar livre daquilo foi a melhor coisa que fiz. Não aguentava mais o casamento com a Igreja evangélica institucional. Era insuportável para mim. Muita burrice, má intenção, hipocrisia, falsidade, fraternidade administrada e controlada, falta de transparência e de humanidade. As “lideranças” não queriam o Evangelho em Cristo. Eu não aguentava mais ser cúmplice disso. Que os loucos todos me apedrejem, mas isso não é Igreja, é um hospício. A direção é ladra, mentirosa, corrupta e ainda explora os outros. Eu não me arrependo disso. Eu tenho uma média semanal de três milhões de pessoas que visitam o meu mural pelas redes sociais, mas muitos não curtem porque tem medo de serem vistos. São pessoas que contam histórias de superação e de libertação e que me pedem ajuda. É impossível conter o que Deus está fazendo. Aos 64 anos, sinto que o meu ministério hoje é profundo, próprio, pertinente mais do que nunca, adequado a este tempo, a esta hora, a esta gente, às questões de agora.
O Antigo Testamento está invalidado?
O Antigo Testamento dá testemunho de Jesus, mas ficou obsoleto, e quem disse isso foi Jesus. A maior parte das cartas de Paulo foi mostrando a obsolescência do Velho Testamento. Romanos é um libelo acerca da obsolescência e como todas aquelas celebrações, ritos e aparatos não tinham nenhum significado, assim como a própria circuncisão, porque o Evangelho ensinava que esse ato era pelo coração, e o perdão dos pecados era feito pela fé em Cristo Jesus, e não por expiação de sangue. Os livros de Gálatas e Colossenses falam da obsolescência dos cultos do judaísmo, dos ensinos ultrapassados, mas tratam também das tentativas de modernização da fé através de filosofias esotéricas de cristãos da Ásia menor que ficavam fazendo adaptação de Jesus para seitas e grupos. Outras coisas, como o perdão de pecados por sacrifício no templo, também acabaram, pois Deus é adorado em espírito e em verdade. Depois que o Cordeiro de Deus veio, tudo isso acabou. A lei de Moisés dos Dez Mandamentos é santa, boa e justa. São valores que não vão passar jamais e não podemos transgredi-los. Mas o que Evangelho faz é dizer que ninguém é salvo pela obediência a esses mandamentos, e sim pela fé na certeza do que Jesus fez por você.
As denominações religiosas foram engolidas pelo sistema mercadológico?
Sim, e quem inaugurou a era de denúncias no Brasil com documentação histórica sobre isso fui eu. Foram 35 anos denunciando o mercado gospel, mercantilização, quanto custavam aqueles cachês horrorosos, e ainda custam, de “músicos cristãos” cobrando uma fortuna para louvar o Senhor. Eu apanhei de todo lado quando comecei a falar disso, mas nunca parei. Dou graças a Deus por ver hoje uma nova geração de músicos começando a surgir com qualidade musical fora daquele sistema e que se apresenta no meio cristão com liberdade, assim como eu prego livremente.
“Eu não aguentava mais o casamento com a Igreja evangélica institucional. Era insuportável para mim. Muita burrice, má intenção, hipocrisia, falsidade, fraternidade administrada e controlada, falta de transparência, de humanidade”
Você tem posicionamentos frontais contra as denominações como Bola de Neve e Igreja Universal? Por quê?
Eu concordo com o que é ensinado na Igreja Bola de Neve no que diz respeito à centralidade de Jesus. É uma comunidade que se veste contemporaneamente, mas tem modos extremamente antigos e um olhar muito conservador, estreito. Na Igreja Universal, o que existe é o Edir Macedo, que é um dos maiores corruptores do Evangelho no mundo. Tem gente ali que se converte. Quem encontra o Evangelho vai saindo da barganha, porque ela só sobrevive do Deus da troca, do dinheiro, do medo e do culto ao poder.
O que pensa sobre a necessidade de ordenação de pastores? Você foi ordenado aos 22 anos pastor presbiteriano, acha que foi precipitação da Igreja?
A Igreja Presbiteriana me ordenou sem que eu aceitasse ir para o seminário porque eu honrava o Evangelho. E fui uma das grandes alegrias da instituição, talvez a maior durante 25 anos, porque eu não honrava a Igreja, e sim o Evangelho. Existem casos em que é simbolicamente importante e necessário que se ordene alguém. Mas existem outros em que ordenação é uma oração quando a pessoa, que tem o coração de pai, é um mentor e já desenvolve um trabalho de orientação espiritual. Quem já está fazendo o que faz, e com graça e abundância de dom no Espírito Santo, já está ordenado por Deus.
Atualmente você lidera o movimento “Caminho da Graça”. É uma igreja emergente ou alternativa? A mensagem é diferente?
Não é nenhuma das coisas. A mensagem é a mesma: o Evangelho. Eu quero ser tão somente um divulgador dessa Boa-Nova segundo Jesus. Assim deve ser com qualquer um, de geração em geração. Nós somos divulgadores de Jesus. A Igreja tem que ser sal da terra e luz do mundo. O que passar disso vem do “sumo-babaca” chamado diabo, que adora ficar divertindo a cabeça das pessoas com nomenclaturas, discutindo palavras sem ver o espírito, a vida, o sentido real das coisas.
Fonte: http://comunhao.com.br/caio-fabio-entrevista_exclusiva/
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