As pessoas, embora confessem que vivem pela fé, na maioria
das vezes vivem pela alma, pela emoção e pelas sensações e impressões. O que é
desastroso no dia-a-dia.
Viver
pela fé é não viver por vista, por emoção, por sensação, por circunstância, por
impressão, por alegrias ou por sucesso. A gente vê isso claramente no Salmo
103, onde o salmista tem uma conversa consigo mesmo, onde o seu espírito fala
com a alma, e a exorta.
Viver pela fé é ver o invisível apesar de todas as visibilidades negativas. É subjugar a alma ao espírito. É tirar a alma de seu estado de submissão natural aos poderes do Inconsciente e de suas pulsões, e pela consciência que advém da certeza da fidelidade de Deus.
É sentir
as águas invisíveis de um dilúvio de emoções nos afogando, e mesmo assim,
tratá-las como miragem ou como truques da subjetividade frágil e impressionável
da alma. É, no pior dia, poder dizer: “Mais são os que estão conosco do que os
que estão com eles”.
É afirmar
que a vitória que vence o mundo é a nossa fé. É cantar louvores entre lágrimas.
É ver a Nova Jerusalém mesmo em dias de Apocalipse. É ver na morte, qualquer
morte, apenas um portal para a Vida. É saber que nada pode nos separar do amor
de Cristo: nem a vida, nem a morte, nem o pecado, nem o diabo, nem qualquer
criatura, e nem qualquer poder ou ambiente de mal.
O
problema, como disse, é que a alma é retardada. Ela é tarda para crer, como
disse Jesus. Muitas vezes o espírito já viu a vitória, mas a alma ainda chora
lutos de defuntos que já ressuscitaram.
Elias é
um bom exemplo. Pedira a Deus que golpeasse a Baal, deus das fertilidades, a
fim de que pela ausência de chuva os supostos poderes de Baal fossem
relativizados. Enquanto isso, todos os profetas genuínos haviam sido mortos, e
ele peregrinava e se escondia. Quando, porém, chegou a hora do enfrentamento,
no espírito, ele estava pronto; e convocou o povo e os profetas de Baal e do
poste-ídolo e os venceu. Fogo caiu. O povo disse “Só o Senhor é Deus!” — e ele
se alegrou no Espírito de Deus. Mandou dizer a Acabe que a chuva viria como
temporal. E correu mais que carruagens, tamanha era a sua euforia.
Mas
quando Jezabel, agora já enfraquecida pela desmoralização de Baal, mandou dizer
que o mataria, ele que a tudo e todos enfrentara, refugiou-se a 580 quilômetros
de distância, em Horebe (indo à pé) e fez um discurso da alma retardada; posto
que o que ele disse a Deus na caverna teria feito sentidos três anos antes; mas
agora, depois de ter sido vindicado por Deus mediante uma vitória retumbante,
era a manifestação de um coração entregue às emoções atrasadas.
O
espírito está pronto, mas a “carne” (alma, emoções, impressões) é fraca e
sempre atrasada.
Assim, ele se deprime com três anos de atraso; pois, enquanto estava sob a tensão proveniente da perseguição, a alma não tinha tido ocasião de se expressar. Agora, porém, depois de haver prevalecido, deu a si mesmo o direito retardado da autopiedade.
Assim, ele se deprime com três anos de atraso; pois, enquanto estava sob a tensão proveniente da perseguição, a alma não tinha tido ocasião de se expressar. Agora, porém, depois de haver prevalecido, deu a si mesmo o direito retardado da autopiedade.
É por
isso que Paulo diz que nenhuma dimensão pode nos separar do amor de Deus, mas
não inclui o passado na lista de Romanos 8. E a razão é simples: a alma se
alimenta do passado. E conquanto nem o passado possa nos separar do amor de
Deus, ele, entretanto, pode nos separar da alegria vigente do amor de Deus.
Posto que a alma é retardada — em razão de se alimentar de dores antigas, na
maioria das vezes.
Daí a
Psicologia lidar sempre com o passado, pois é dele que vêm as falsas impressões
que pretendem cristalizar nossa alma em estados que já não são.
90% das angústias humanas nada têm a ver com hoje, mas com ontem. Portanto, para que se viva pela fé, tem-se que deixar de ser movido pelo ontem —e até pelo hoje circunstancial— e aprender a viver no dia chamado Hoje, o qual, mesmo no pior hoje, alimenta-se da Promessa que é; e que não muda nem em razão de traumas passados ou de impressões do presente.
90% das angústias humanas nada têm a ver com hoje, mas com ontem. Portanto, para que se viva pela fé, tem-se que deixar de ser movido pelo ontem —e até pelo hoje circunstancial— e aprender a viver no dia chamado Hoje, o qual, mesmo no pior hoje, alimenta-se da Promessa que é; e que não muda nem em razão de traumas passados ou de impressões do presente.
Quem crê
nisso ganha e perde, e não se impressiona. Chora lutos, mas não se sepulta
junto. Lamenta perdas, mas não se faz perdido. Constata a realidade, porém,
pela fé, a transcende.
No dia em
que o povo de Deus de fato andar pela fé, praticamente tudo aquilo que hoje
enche as clínicas psicológicas e os gabinetes pastorais já não existirá como
problema. Pois o que se vê é que a maioria sofre de miragens porque não anda
pela fé, mas apenas pelas sensações e impressões.
A fé,
porém, é a certeza de coisas que se esperam e a firme convicção de fatos que se
não vêem (Hebreus 11:1).
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