A Igreja Evangélica Assembleia de Deus completou
109 anos no dia 18 de junho de 2020. Nesse período ela se tornou a maior
denominação evangélica do Brasil. Juntamente com a Congregação Cristã do
Brasil, foram as primeiras igrejas pentecostais brasileiras.
Mas aí, justamente no dia em que as Assembleias de
Deus comemoraram 109 anos de sua fundação no Brasil, deparei, nas redes
sociais, com uma das críticas mais indignas e reprováveis que li, em toda a
minha vida, sobre a igreja em que sou membro desde o dia 13 de dezembro de
1981, e que tenho a honra de servir como pastor.
Reproduzo a crítica abaixo:
“109 ANOS!
Fraudes, heresias, desvios, escândalos, regrinhas
tolas, ignorância doutrinária, sermões vazios, brigas políticas, perseguição
aos crentes sérios, divisões, cultos baderneiros, línguas falsas, profecias
inventadas, curas mentirosas, ataques à ortodoxia, infiltração desonesta em
igrejas sérias, pastores despreparados, superstições… Não há muito que
comemorar!”
Granconato, que se tornou conhecido nas redes
sociais justamente por seus ataques ao pentecostalismo – não simplesmente
àqueles erros doutrinários e práticos que os pentecostais clássicos também
criticam entre os “neopentecostais”, como teologia da prosperidade, misticismo,
meninice ou fogo estranho, fetichismo, legalismo judaizante, personalismo,
marketing religioso, quebra de maldições, movimento G12, hipervalorização da
ação demoníaca, adoração extravagante…
O que o Sr. Granconato repele é a própria
manifestação dos dons espirituais, que são bíblicos, mas pelo visto não tem
condições pessoais de discernir em relação às manifestações carnais ou
diabólicas.
Além disso, o indigitado antipentecostal despreza o
exercício apologético assembleiano, bem como a literatura de nossa editora
oficial, nossas tradicionais revistas de escola bíblica, o Mensageiro da Paz
(órgão oficial da CGADB, mas durante décadas foi de toda a denominação), os
teólogos assembleianos de relevo, os frutos missionários, e, enfim, o próprio
fato de que, se hoje existe um grande contingente de evangélicos no Brasil,
isto se deve a uma configuração histórica na qual o Espírito Santo impulsionou
homens e mulheres simples a pregarem o Evangelho, dizendo, muitas vezes com
dificuldade de expressão, que “Jesus Cristo salva, cura, batiza com o Espírito
Santo e em breve voltará”.
A ocasião escolhida para tamanho ataque não poderia
ter sido pior: justamente quando milhões e milhões de assembleianos brasileiros
comemoram mais de um século de uma igreja grande, espalhada em todo o
território nacional, presente nas periferias, fruto de um ingente esforço
missionário, militante, evangelizadora, promotora do trabalho leigo, digo,
justamente nesse momento especial um conhecido antipentecostal se levanta para
escrever um ataque gratuito, descompromissado com a comunhão no reino de Deus,
reducionista e historicamente manco.
O mais grave é que se trata de uma pessoa que
aparentemente tem conhecimento da história da Igreja, o que lhe retira a
possibilidade de se ocultar por trás da ignorância.
Agora, não significa que estamos dizendo que ela é
a denominação perfeita e que não precisamos fazer nossa auto-crítica. Temos
desafios e problemas para resolver. Só para dar alguns exemplos: Brigas pelo
poder eclesiástico; pregações superficiais; legalismo x mito da piedade; falta
de ensino sistemático sobre os dons espirituais, cuja ausência pode comprometer
a herança pentecostal; envolvimento com a política partidária.
Nesses 109 anos, o mundo mudou, o Brasil mudou e as
igrejas também mudaram. Algumas mudanças vieram para melhor e outras nem tanto.
No início, não havia representação política, porque a igreja sob a ótica
pré-milenista, dizia que Jesus voltaria logo, então tinham que ganhar almas,
porque a Vinda do Senhor logo ocorreria. A denominação considerada conservadora,
durante anos proibiu o uso do aparelho de rádio entre os seus membros,
ocorrendo o mesmo depois com a televisão.
Hoje, a igreja tem representação política, busca
ter presença midiática, vem procurando flexibilizar alguns usos e costumes e
contextualizar a linha litúrgica. A denominação é representada por três
Convenções nacionais: a CGADB, CONAMAD e a CADB.
O pentecostalismo alastrou-se como uma das mais
expressivas forças da cristandade no século 20, exatamente por não ser um
movimento de teólogos. A experiência com Deus ganhou força conclusiva,
obrigando a razão moderna a se dobrar diante da percepção intuitiva, muitas
vezes sensorial, que aquecia o coração. Como o pentecostalismo transferiu a fé
para a emoção, a vitalidade da igreja, é garantida na celebração da vida
dignificada.
Os pentecostais afirmam que a experiência com Deus,
o encontro místico, transforma. O êxtase pentecostal, tão mal compreendido
pelos tradicionais, expressa significados que fogem à razão. A presença de Deus
é fonte de vida e de sentido. Destes encontros, o servente da construção civil,
a empregada doméstica, o subempregado, se descobrem eleitos de Deus. Cada
pessoa capacitada pelo Espírito “sai pelo mundo como mensageira do Senhor”.
Anuncia que todos podem ter seus nomes no livro da vida. O batismo no Espírito
Santo desperta competência, agilidade e paixão.
Outra coisa, justamente em tempos onde se fala em
luta contra o racismo, um fato muito importante nesse assunto foi de que a AD
foi dentro do protestantismo brasileiro talvez a igreja que mais tinha membros
e pastores negros no Brasil, durante muitos anos.
Infelizmente, a teologia da prosperidade aburguesou
o movimento. Desfigurado, estou certo que os pioneiros pentecostais nunca
pactuariam com a mensagem que gere cobiça. Aliás, denunciariam que o mundo
entrou na igreja e que os pentecostais precisam ser renovados.
Mas mesmo assim, comemoremos apesar das críticas,
os 109 anos da AD no Brasil, é fruto do trabalho de muitas pessoas cujos nomes
estão nos livros de história da denominação pelo trabalho que fizeram:
pastores, líderes.Mas existem muitos outros, que são anônimos, que pregaram
debaixo de árvores, levaram bíblias, harpas cristãs em suas bicicletas ou a pé,
em barcos por esses rincões afora, pregando a palavra, cujos nomes com certeza
estão nos livros de Deus nos céus. Assim eu digo:
“Parabéns Assembléia de Deus!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário