quinta-feira, 25 de junho de 2020

SOBRE OS 109 ANOS DA IGREJA ASSEMBLEIA DE DEUS E A CRÍTICA DO PR. MARCOS GRANCONATO


A Igreja Evangélica Assembleia de Deus completou 109 anos no dia 18 de junho de 2020. Nesse período ela se tornou a maior denominação evangélica do Brasil. Juntamente com a Congregação Cristã do Brasil, foram as primeiras igrejas pentecostais brasileiras.

Mas aí, justamente no dia em que as Assembleias de Deus comemoraram 109 anos de sua fundação no Brasil, deparei, nas redes sociais, com uma das críticas mais indignas e reprováveis que li, em toda a minha vida, sobre a igreja em que sou membro desde o dia 13 de dezembro de 1981, e que tenho a honra de servir como pastor.
Reproduzo a crítica abaixo:

“109 ANOS!
Fraudes, heresias, desvios, escândalos, regrinhas tolas, ignorância doutrinária, sermões vazios, brigas políticas, perseguição aos crentes sérios, divisões, cultos baderneiros, línguas falsas, profecias inventadas, curas mentirosas, ataques à ortodoxia, infiltração desonesta em igrejas sérias, pastores despreparados, superstições… Não há muito que comemorar!”

Granconato, que se tornou conhecido nas redes sociais justamente por seus ataques ao pentecostalismo – não simplesmente àqueles erros doutrinários e práticos que os pentecostais clássicos também criticam entre os “neopentecostais”, como teologia da prosperidade, misticismo, meninice ou fogo estranho, fetichismo, legalismo judaizante, personalismo, marketing religioso, quebra de maldições, movimento G12, hipervalorização da ação demoníaca, adoração extravagante…

O que o Sr. Granconato repele é a própria manifestação dos dons espirituais, que são bíblicos, mas pelo visto não tem condições pessoais de discernir em relação às manifestações carnais ou diabólicas.

Além disso, o indigitado antipentecostal despreza o exercício apologético assembleiano, bem como a literatura de nossa editora oficial, nossas tradicionais revistas de escola bíblica, o Mensageiro da Paz (órgão oficial da CGADB, mas durante décadas foi de toda a denominação), os teólogos assembleianos de relevo, os frutos missionários, e, enfim, o próprio fato de que, se hoje existe um grande contingente de evangélicos no Brasil, isto se deve a uma configuração histórica na qual o Espírito Santo impulsionou homens e mulheres simples a pregarem o Evangelho, dizendo, muitas vezes com dificuldade de expressão, que “Jesus Cristo salva, cura, batiza com o Espírito Santo e em breve voltará”.

A ocasião escolhida para tamanho ataque não poderia ter sido pior: justamente quando milhões e milhões de assembleianos brasileiros comemoram mais de um século de uma igreja grande, espalhada em todo o território nacional, presente nas periferias, fruto de um ingente esforço missionário, militante, evangelizadora, promotora do trabalho leigo, digo, justamente nesse momento especial um conhecido antipentecostal se levanta para escrever um ataque gratuito, descompromissado com a comunhão no reino de Deus, reducionista e historicamente manco.

O mais grave é que se trata de uma pessoa que aparentemente tem conhecimento da história da Igreja, o que lhe retira a possibilidade de se ocultar por trás da ignorância.
Agora, não significa que estamos dizendo que ela é a denominação perfeita e que não precisamos fazer nossa auto-crítica. Temos desafios e problemas para resolver. Só para dar alguns exemplos: Brigas pelo poder eclesiástico; pregações superficiais; legalismo x mito da piedade; falta de ensino sistemático sobre os dons espirituais, cuja ausência pode comprometer a herança pentecostal; envolvimento com a política partidária.

Nesses 109 anos, o mundo mudou, o Brasil mudou e as igrejas também mudaram. Algumas mudanças vieram para melhor e outras nem tanto. No início, não havia representação política, porque a igreja sob a ótica pré-milenista, dizia que Jesus voltaria logo, então tinham que ganhar almas, porque a Vinda do Senhor logo ocorreria. A denominação considerada conservadora, durante anos proibiu o uso do aparelho de rádio entre os seus membros, ocorrendo o mesmo depois com a televisão.

Hoje, a igreja tem representação política, busca ter presença midiática, vem procurando flexibilizar alguns usos e costumes e contextualizar a linha litúrgica. A denominação é representada por três Convenções nacionais: a CGADB, CONAMAD e a CADB.

O pentecostalismo alastrou-se como uma das mais expressivas forças da cristandade no século 20, exatamente por não ser um movimento de teólogos. A experiência com Deus ganhou força conclusiva, obrigando a razão moderna a se dobrar diante da percepção intuitiva, muitas vezes sensorial, que aquecia o coração. Como o pentecostalismo transferiu a fé para a emoção, a vitalidade da igreja, é garantida na celebração da vida dignificada.

Os pentecostais afirmam que a experiência com Deus, o encontro místico, transforma. O êxtase pentecostal, tão mal compreendido pelos tradicionais, expressa significados que fogem à razão. A presença de Deus é fonte de vida e de sentido. Destes encontros, o servente da construção civil, a empregada doméstica, o subempregado, se descobrem eleitos de Deus. Cada pessoa capacitada pelo Espírito “sai pelo mundo como mensageira do Senhor”. Anuncia que todos podem ter seus nomes no livro da vida. O batismo no Espírito Santo desperta competência, agilidade e paixão.

Outra coisa, justamente em tempos onde se fala em luta contra o racismo, um fato muito importante nesse assunto foi de que a AD foi dentro do protestantismo brasileiro talvez a igreja que mais tinha membros e pastores negros no Brasil, durante muitos anos.

Infelizmente, a teologia da prosperidade aburguesou o movimento. Desfigurado, estou certo que os pioneiros pentecostais nunca pactuariam com a mensagem que gere cobiça. Aliás, denunciariam que o mundo entrou na igreja e que os pentecostais precisam ser renovados.

Mas mesmo assim, comemoremos apesar das críticas, os 109 anos da AD no Brasil, é fruto do trabalho de muitas pessoas cujos nomes estão nos livros de história da denominação pelo trabalho que fizeram: pastores, líderes.Mas existem muitos outros, que são anônimos, que pregaram debaixo de árvores, levaram bíblias, harpas cristãs em suas bicicletas ou a pé, em barcos por esses rincões afora, pregando a palavra, cujos nomes com certeza estão nos livros de Deus nos céus. Assim eu digo:
“Parabéns Assembléia de Deus!”


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