terça-feira, 10 de março de 2009

QUAL É O MODELO DE COMUNIDADE QUE QUEREMOS?

Há um pequeno trecho na Bíblia em Atos 2:41-47, que descreve de forma magnífica a natureza e qualidade de vida da primeira comunidade cristã em Jerusalém. A descrição é fascinante, impressiona qualquer um que a lê. O que vemos ali é o reino de Deus em ação, a concretização da oração que Cristo do Pai Nosso, onde a vontade de Deus é feita tanto no céu, como na terra.

Este relato contrasta com a história de uma outra comunidade (Gn 11.4), que decidiu construir uma torre que alcançasse os céus e fizesse seus nomes célebres e famosos. Falavam a mesma língua e tinham um projeto em comum, mas, em vez de criarem uma comunidade, criaram um altar para sua auto-exaltação. Este relato da Torre de Babel está presente na vida de todos nós. Na educação, política, trabalho e nos púlpitos de nossas igrejas, todos nós estamos construindo nossas torres, empenhados em tornar nossos nomes célebres. Queremos construir nosso próprio reino.

O Pentecostes tornou possível o reino de Deus entre nós. O povo de Atos 2 começa a viver o seu êxodo, dá os primeiros passos rompendo com o jeito que se vivia no “Egito” para viver o novo jeito ensinado por Cristo, e faz isto de forma natural e sincera, impulsionado pelo chamado de Cristo e pelo poder do Espírito Santo. A promessa do Espírito não foi para que os primeiros cristãos tivessem poder para se auto-promoverem, mas para reafirmarem os feitos e o caráter de Cristo. Era um novo tipo de comunidade que nascia de um novo tipo de pessoa. Muitas vezes queremos uma igreja diferente que nos faça diferentes, mas não queremos ser pessoas diferentes que constroem uma comunidade diferente.

O relato de Atos nos diz que eles “perseveravam na doutrina dos apóstolos…”, que “diariamente perseveravam
Era uma comunidade totalmente comprometida em tornar Jesus Cristo conhecido. Tudo nela apontava para Cristo. Suas orações, o partir do pão, o cuidado que tinham para com os outros, sua pregação e seu testemunho, a alegria da comunhão, a renúncia dos bens, enfim, tudo em suas vidas e ações apontava para Cristo.

O Êxodo continua. Estamos a caminho do céu. O testemunho dos dois varões vestidos de branco foi: “Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (At 1.11). O mesmo Jesus que viveu entre nós, morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para nossa esperança vai voltar e estabelecer definitivamente seu reino entre nós. Enquanto isto, somos chamados para ser sal da terra, luz do mundo e ovelhas no meio de lobos. Olhamos para o mundo, cultura, família, juventude, infância, guerra, drogas, prostituição, violência, desesperança, solidão, desespero, e percebemos que a humanidade precisa urgentemente de uma nova esperança.

O problema é que, quando olhamos para a comunidade de Jerusalém, reconhecemos, lá no fundo, um sentimento ambíguo. É um modelo de comunidade que admiramos, mas não queremos. Admiramos o amor sacrifical deles, mas não é este o tipo de amor que buscamos. Admiramos sua vida abnegada, mas não estamos dispostos a abrir mão do que temos por amor ao próximo. Achamos extraordinário o fato de que tinham tudo em comum, mas não abrimos mão de nosso individualismo. Confessamos a doutrina dos apóstolos, mas a negamos na prática. No fundo, não queremos uma comunidade assim. Mas ela é possível e o mundo anseia por ela.

16 comentários:

  1. Paz do Senhor,

    Quão bela e esclarecedora mensagem.
    Necessária para olhemos para dentro de nós e gritemos por uma comunidade evangélica melhor, temos livre acessoa ao indivíduo mais difícil de ser mudado na sociedade: o eu.Ele é o mais necessário de se transformar, transformando-o mostramos que o Evangelho verdadeiramente tem progredido em nós, que Cristo vive em nossa vida.
    Já comecei a desconstruir algumas "Babéis" dentro de mim, não quero ser confundido, quero cumprir meu papel: refletir a glória daquele que é, através que mim que nada sou.

    * Ainda não recebi o email.

    Abraço,

    JP

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  2. João Paulo,

    Obrigado pela participação. No meio evangélico, principalmente no âmbito pentecostal, o pessoal (com as exeções é claro) não gosta muito de reflexão interna. Prefere o "toque o seu irmão do lado", "faça isso ou aquilo". Acham que reflexão interna é coisa de budista, esquecem que o "examine-se o homem a si mesmo", conforme diz o Apóstolo Paulo não é só para cultos de ceia, mas para toda a vida. Sobre o email, envio hoje ainda.

    Abraço.

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  3. Pastor Juber,

    Paz do Senhor,

    Estou maravilhado com essa mensagem. Como seria bom se tivéssemos uma comunidade cristã no nível que era a da igreja primitiva não é mesmo? Parabéns pelo seu blog, estou adorando conhecer este espaço.

    Vinícios Martins Damasceno.

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  4. Caro Vinícios,

    Obrigado pela visita amável e pela participação. Volte sempre.

    Graça e Paz.

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  5. A paz do Senhor!

    Hoje, não se vive um verdadeiro evangelho, uma igreja verdadeira. Pois quando homens edificaram templos com argumento de ter um lugar para adorar a Deus, começou o início do fim da comunhão com os irmãos, que a verdadeira igreja tinha.
    Precisamos voltar ao passado, as práticas da igreja primitiva a onde Cristo era o Líder do seu povo e não o pastor da igreja. Precisamos voltar ao início de tudo quando crente era crente! Mas com o passar dos anos hoje o crente é cliente, e depende de alguém (homem) para satisfazer suas vontades.

    Em Cristo
    Edson Dorna
    www.santodosantos.blogspot.com

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  6. Irmão Edson,

    Obrigado pela participação. Sim, no início da igreja primitiva não havia templos, pois o templo mencionado em Atos é o templo judaico, onde os cristãos judeus continuavam a adorar. Só no Século IV depois de Cristo que surgiram os templos. Mas o problema até não são os templos, pois o que importa não é ONDE adora, se é no templo de Salomão ou no Monte Gerezim, como disse Jesus à mulher Samaritana, mas COMO se adora, se é em espírito e verdade ou não. Quanto à liderança dos pastores, o que penso é o seguinte: o modelo tem que ser o apresentado no Novo Testamento. Cristo é o nosso Sumo-Pastor, mas temos que ter os líderes humanos, sejam chamados de pastores, presbíteros, mentores, anciãos, e etc. O que não pode haver é o modelo que está prevalendo hoje, que é a figura do pastor-empresário, com suas igrejas-empresas, com o objetivo de um programa tipo "Pequenas ou grandes igrejas, grandes negócios".
    É o que penso.

    Grande abraço, meu irmão.

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  7. A PAZ DO SENHOR!

    Irmão Juber,

    gostaria de indicar um livro que pode ser baixado pela internet, o qual traça o rumo da história da igreja.

    Cristianismo Pagão - Frank Viola

    Em Cristo
    Edson Dorna

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  8. Irmão Edson,

    Eu li o livro Cristianismo Pagão. Houve muitas pessoas que ao lerem esse livro, pensaram que Viola estava jogando 2.000 anos de História do Cristianismo no lixo. Acredito que devido a isso, ele escreveu depois um texto no livro Reimagining Church, explicando melhor. Com a palavra, Frank Viola:
    "Este paradigma está enraizado numa tentativa de praticar o Cristianismo sem pertencer a uma comunidade identificável que se reune regularmente para adoração, oração, comunhão e edificação mútua. Os que defendem isso reivindicam que a interação social espontânea (como tomar café no Starbucks quando quer que desejarem) e amizades pessoais incorporam o significado Neo-testamentário de “igreja”. Aqueles que abraçam esse paradigma acreditam numa igreja sem forma, nebulosa, fantasma.
    Tal conceito está desconectado daquilo que encontramos no Novo Testamento. As igrejas do primeiro século eram comunidades localizáveis, identificáveis, possível de serem visitadas que se reuniam em um local em particular regularmente. Por essa razão, Paulo podia escrever uma carta para essas comunidades identificáveis (igrejas locais) com alguma idéia definida de quem estaria presente para ouví-la (Rm 16). Ele também tinha uma idéia de quando eles se reuniam (Atos 20.7; 1 Cor. 14) e das lutas que experimentavam em sua vida juntos (Rm 12-14; 1 Cor 1-8). Embora não seja um ponto de vista bíblico, o paradigma pós-igreja parece ser uma expressão do desejo contemporâneo por intimidade sem compromisso. (Fonte: www.sandrobaggio.com).

    Abraço.

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  9. A Paz do Senhor!

    Referente Frank Viola, li seus livros ( Cristianismo Pagão, Reconpensando o Odre, Quem é tua Cobertura? e Começar uma igreja em casa).

    Não sou contra o lugar onde os crentes se reunem para adorar a Deus e sim o que foi mecionado no livro, o rumo que isso tomou e as consequencias que estamos enfrentando hoje. Tanto na parte autoritaria do ministério e também referente o lugar de reunião. Infelizmente o estado da igreja é critico hoje porque há uma história grande envolvida. Eu e o senhor quando surgimos este espetáculo já estava armado.

    Em Cristo
    Edson Dorna

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  10. Irmão Edson,

    Se é assim, então estamos de acordo nesse ponto. Atualmente, devido as decepções e outros motivos, tem surgido um cristianismo pós-igreja, no qual poderia até inserir o movimento das igrejas emergentes. Eu da minha parte, reconheço que há erros e problemas, mas não sou anti-instituições e nem acredito que Jesus o era, assim como também ele não era anarquista. Em Mateus 23:3,4, quando ele reconhece a cadeira de Moisés. Ou seja, entendo que ele não era contra a instituição, mas sim contra como era usada.

    Abraço.

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  11. ... e creio que toda essa revolução espiritual que vem acontecendo entre os cristãos e os afastando de suas congregações , nada mais é do que um grito por essa igreja verdadeira..... precisamos romper nossos conceitos e doutrinas para assumi-la !


    Um grande abraço de quem te admira demais !

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  12. Muitas flores e árvores murcharam esta noite.A Morte não tardara a vir para transplantálas...por elas perante Deus:nenhuma pode ser arrancada sem a permissão Divina..."disse Jesus "Toda" planta que meu Pai não plantou será arrancada."

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  13. Alice,

    É verdade está havendo um grito mesmo, e é bom que a liderança cristã escute e reveja alguns conceitos, mude posturas de ouvido surdo.

    Abraço e obrigado pelo carinho.

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  14. Josué,

    No dia da colheita, disse Jesus, o joio e o trigo serão separados, mas até disse o Mestre crescerão juntos. Quem conhece mente e corações e o Senhor. O problema é que tem algumas pessoas hoje, achando que são os anjos do juizo final querendo fazer a separação e jogar no fogo infernal.

    Obrigado pela participação.

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  15. A Paz do Senhor Jesus, irmão!

    Tenho também um blog e costumo colocar lá matérias de diversas pessoas; pergunto se posso colocar matérias suas lá, e também sugiro que as matérias deste blog, tragam, logo abaixo do título, a identificação do autor, porque quando se diz que a matéria foi enviada por este ou aquele, não fica claro se a pessoa que enviou é mesmo o autor.
    Obrigado!

    Não sou cadastrato ainda no blog. Meu nome é Wilk Alexandre de Queiroz
    http://kliw.multiply.com
    e-mail: wilk.queiroz@bol.com.br

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  16. Wilk Alexandre,

    Fique a vontade para postar as matérias no seu blog. Quanto a autoria, muitas postagens são de minha autoria, as que não são costume sempre a colocar a fonte no final da mesma.

    Obrigado pela visita.

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