quarta-feira, 15 de julho de 2009

FERIDOS EM NOME DE DEUS

“Há abusos em nome de Deus”

Jornalista relata os danos do assédio espiritual cometido por líderes evangélicos, no livro Feridos em nome de Deus, pela Editora Mundo Cristão.

A igreja evangélica está doente e precisa de uma reforma. Os pastores se tornaram intermediários entre Deus e os homens e cometem abusos emocionais apoiados em textos bíblicos. Essas são algumas das afirmações polêmicas da jornalista Marília de Camargo César em seu livro de estreia, Feridos em nome de Deus (editora Mundo Cristão), que será lançado no dia 30. A Jornalista Marília de Camargo César é evangélica e resolveu escrever depois de testemunhar algumas experiências religiosas com amigos de sua antiga congregação. Abaixo parte da entrevista concedida pela jornalista à Revista Època.

ÉPOCA – Por que você resolveu abordar esse tema?
Marília de Camargo César – Eu parti de uma experiência pessoal, de uma igreja que frequentei durante dez anos. Eu não fui ferida por nenhum pastor, e esse livro não é nenhuma tentativa de um ato heroico, de denúncia. É um alerta, porque eu vi o estado em que ficaram meus amigos que conviviam com certa liderança. Isso me incomodou muito e eu queria entender o que tinha dado errado. Não quero que haja generalizações, porque há bons pastores e boas igrejas. Mas as pessoas que se envolvem em experiências de abusos religiosos ficam marcadas profundamente.

ÉPOCA – Que tipo de experiência você considera como abuso religioso e que marcas são essas?
Marília – Meu livro é sobre abusos emocionais que acontecem na esteira do crescimento acelerado da população de evangélicos no Brasil. É a intromissão radical do pastor na vida das pessoas. Um exemplo: uma missionária que apanha do marido sistematicamente e vai parar no hospital. Quando ela procura um pastor para se aconselhar, ele fala assim para ela: “Minha filha, você deve estar fazendo alguma coisa errada, é por isso que o teu marido está se sentindo diminuído e por isso ele está te batendo. Você tem de se submeter a ele, porque biblicamente a mulher tem de se submeter ao cabeça da casa. Então, essa mulher, que está com a autoestima lá embaixo, que apanha do marido - inclusive pelo Código Civil Brasileiro ele teria de ser punido - pede um conselho pastoral e o pastor acaba pisando mais nela ainda. E ele usa a Bíblia para isso. Esse é um tipo de abuso que não está apenas na igreja pentecostal ou neopentecostal, como dizem. É um caso da Igreja Batista, em que, teoricamente, os protestantes históricos têm uma reputação melhor.

ÉPOCA – Seu livro questiona a autoridade pastoral. Por quê?
Marília – As igrejas que estão surgindo, as neopentecostais, e não as históricas, como a presbiteriana, a batista, a metodista, que pregam a teologia da prosperidade, estão retomando a figura do “ungido de Deus”. É a figura do profeta, do sacerdote, que existia no Antigo Testamento. No Novo Testamento, não existe mais isto. Jesus Cristo é o único mediador. Então o pastor dessas igrejas mais novas está se tornando o mediador. Para todos os detalhes da sua vida, você precisa dele. Se você recebeu uma oferta de emprego, o pastor pode dizer se deve ou não aceitá-la. Se estiver paquerando alguém, vai dizer se deve ou não namorar aquela pessoa. O pastor, em vez de ensinar a desenvolver a espiritualidade, determina se aquele homem ou aquela mulher é a pessoa da sua vida. E o pastor está gostando de mandar na vida dos outros, uma atitude que abre um terreno amplo para o abuso.

ÉPOCA – Você também fala que não é só culpa do pastor.
Marília – Assim como existe a onipotência pastoral, existe a infantilidade emocional do rebanho, que é o que o Sérgio Franco, um dos pastores psicanalistas entrevistados no livro, fala. A grande crítica do Freud em relação à religião era essa. Ele dizia que a religião infantiliza as pessoas, porque você está sempre transferindo as suas decisões de adulto - que são difíceis - e a figura do sagrado, no caso aqui o líder religioso, para a figura do pai ou da mãe - o pastor, a pastora. É a tendência do ser humano em transferir responsabilidade. O pastor virou um oráculo. É mais fácil ter alguém, um bode expiatório, para pôr a culpa nas decisões erradas tomadas.

ÉPOCA – Qual é o limite da autoridade pastoral?
Marília – O pastor tem o direito de mostrar na Bíblia o que ela diz sobre certo tema. Como um bom amigo, ele tem o direito de dar um conselho. Mas ele tem de deixar claro que aquilo é apenas um conselho. Pode até falar que o resultado disso ou daquilo pode ser ruim para a vida do fiel. Mas ele não pode mandar a pessoa fazer algo em nome de Deus. O que mais fere as pessoas é ouvir uma ordem em nome de Deus. Se é Deus, então prova! Se Deus fala para o pastor, por que Ele não fala para o fiel? Eles estão sendo extremamente autoritários.

ÉPOCA – Você afirma que muitos dos pastores não agem por má-fé, mas por uma visão messiânica. Explique.
Marília – É uma visão messiânica para com seu rebanho. Lutero (teólogo alemão responsável pela reforma protestante no século XVI) deve estar dando voltas na tumba. Porque o pastor evangélico virou um papa que é a figura mais criticada no catolicismo, o inerrante. E não existe essa figura, porque somos todos errantes, seres faltantes, como já dizia Freud. Pastor é gente. E é esse pastor messiânico que está crescendo no evangelismo. Existe uma ruptura entre o Antigo e o Novo Testamento, que é a cruz. A reforma de Lutero veio para acabar com a figura intermediária e a partir dela veio a doutrina do sacerdócio universal. Todos têm acesso a Deus. Uma das fontes do livro disse que precisamos de uma nova reforma e eu concordo com ela. Essa hierarquização da experiência religiosa, que o protestante tanto combateu no catolicismo, está se propagando. Você não pode mais ter a conversa direta com o divino. Porque tem aquela coisa da “oração forte” do pastor. Você acha que ele ora mais que você, que ele tem alguma vantagem espiritual e, se você gruda nele, pega uma lasquinha. Isso não existe. Somos todos iguais perante Deus.

ÉPOCA – Se a igreja for questionada em seus dogmas, ela não deixará de ser igreja?
Marília – Eu não acho isso. A igreja tem mesmo de ser questionada, inclusive há pensadores cristãos contemporâneos que questionam o modelo de igreja que estamos vivendo e as teologias distorcidas, como a teologia da prosperidade, que são predominantemente neopentecostais e ensinam essa grande barganha. Se você não der o dízimo, Deus vai mandar o gafanhoto. Simbolicamente falando, Ele vai te amaldiçoar. Hoje o fiel se relaciona com o Divino para as coisas darem certo. Ele não se relaciona pelo amor. Essa é uma das grandes distorções.

ÉPOCA – Por que você diz que existe uma questão cultural no abuso religioso?
Marília – Porque o brasileiro procura seus xamãs, e isso acontece em todas as religiões. O brasileiro é extremamente religioso. A ÉPOCA até publicou uma matéria sobre isso, dizendo que a maioria acredita em algo e se relaciona com isso, tentando desenvolver seu lado espiritual. O brasileiro gosta de ter seu oráculo. A pessoa que vem do catolicismo, onde há centenas de santos, e passa a ser evangélica transfere aquela prática e cultura do intermediário para o protestantismo, e muitas igrejas dão espaço para isso. O pastor Edir Macedo (da igreja Universal) trouxe vários elementos da umbanda, do candomblé, porque ele é convertido. Ele diz que o povo precisa desses elementos -que ele chama de pontos de contato - para ajudar a materializar a experiência religiosa. A Bíblia condena tudo isso.

ÉPOCA – No livro você dá alguns alertas para não cair no abuso religioso. Fale deles.
Marília – Desconfie de quem leva a glória para si. Um conselho é prestar atenção nas visões megalomaníacas. Uma das características de quem abusa é querer que a igreja se encaixe em suas visões, como quere ganhar o Brasil para Cristo e colocar metas para isso. E aquele que não se encaixar é um rebelde, um feiticeiro. Tome cuidado com esse homem. Outra estratégia é perguntar a si mesmo se tem medo do pastor ou se pode discordar dele. A pessoa que tem potencial para abusar não aceita que discorde dela, porque é autoritária. Outra situação é observar se o pastor gosta de dinheiro e ver os sinais de enriquecimento ilícito. São esses geralmente os que adoram ser abençoados e ganhar presentes. Cuidado com esse cara.

MEU COMENTÁRIO: Não tive a oportunidade de ler este livro, só li a entrevista da autora na revista. É a manifestação da revolta publicamente. O que antes era dito em sites e blogues, para um grupo mais reduzido de pessoas, agora vem sendo manifesto através de livro com divulgação em revista de grande circulação. Jesus disse que o que falassem no interior da casa, seria gritado dos telhados. Então, aí está.

13 comentários:

  1. Laguardia,

    Está anotado seu recado para quem se interessar. Eu não sou muito do estilo "fora x ou fora y", mas para quem gosta de coisas do gênero, fica registrado seu convite. Agora, acredito que em 2010, seria bom exorcisar aquele Congresso Nacional, através do voto consciente, e não reeleger os ocultadores de mansões, vampiros, sanguessugas, mensaleiros e por aí vai.

    ResponderExcluir
  2. PR JUBER. FERIDOS EM NOME DE DEUS,
    AINDA VAI DAR MUITO PANO PRA MANGA,

    QUANTO ABUSO EM NOME DE DEUS ,NÃO...

    EU JA VEJO O QUADRO...
    AI DA IGREJA...OS INIMIGOS DOS HOMENS SERIAM OS DE SUA PROPRIA CASA...

    FALTA AFÉTO NATURAL...
    COMO DIRIA O MANINHO CAIO,SE DO TRONO DE DEUS CORRE UM RIO DE AGUAS TRNSPARENTES DO TRONO DA RELIGIÃO CORRE UM RIO DE LAMA...

    JA ESTA TUDO ENBAFADO E ENRRAIZADO.
    QUE É BOM QUE NÃO FOLGUE COM A INJUSTIÇA,PARA SATISFAZER SEUS DESEJOS COMO O PAI DAMENTIRA..

    MUITO OBRIGADO PASTOR..ESTA POSTAGEM É BASTANTE PERTINENTE..

    ResponderExcluir
  3. Josué,

    A lista dos feridos, decepcionados é grande mesmo. Pelo que li na entrevista, a autora ainda foi amena nas críticas, se fosse entrar pelo lado da política eclesiástica, aí sim, viria denúncias das pesadas.

    Abraço.

    ResponderExcluir
  4. Caro Pr. Juber,

    Creio que fazendo uma leitura Crítica, o livro irá contribuir e muito a nova geração de Cristãos.

    A leitura crítica só nos ajuda a sermos mais maduros. De fato há abusos em nome de Deus, sei que certamente iremos discordar de alguns pontos do livro, pois temas polêmicos assim possuem diferentes interpretações, mas a cerne do assunto é de suma importância para nós.

    Deus abençoe!

    ResponderExcluir
  5. Matias,

    Sim, é verdade. Essa nova geração de cristãos tem mais acesso à informação que as anteriores através dos meios de comunicação atual, inclusive a internet. O que eu espero é que saibam usar esse acesso a comunicação de forma construtiva e façam como os crentes de Bereia, que sempre procuram conferir tudo com as Escrituras Sagradas.

    Abraço.

    ResponderExcluir
  6. Comprei o livro e constatei que a autora é coerente e o texto retrata verdades que devem ser encaradas pelo povo que se diz cristão nesse país.

    ResponderExcluir
  7. Caro Anônimo,

    Como eu disse na postagem, ainda não tive a oportunidade de ler o livro, mas pela entrevista deu para ver que o que a autora diz é a dura realidade do meio evangélico brasileiro. Aliás, eu achei que ela até pegou leve, porque se fosse revelar coisas dos bastidores eclesiásticos, teria que escrever mais livros.

    Obrigado pela participação.

    ResponderExcluir
  8. Estou ansiosa para ler este livro ,mas na cidade que moro já procurei e ainda não chegou.Eu mesma com alguns irmãos fui alvo de pastores assim que se acham donos das ovelhas de Cristo,abusam da condiçao de que lhes foi emprestada.Pensam que são donos ,onde são mordomos e mal mordomos!Na sipnose já vi o que passei nitidamente ,imagine quando ler o livro!Que Cristo tenha misericórdia deste povo que acha que serve a Cristo e nos der força para prosseguir e saber discernir.

    ResponderExcluir
  9. Este livro vai abalar o Meio evangélico, precisamos destruir um chavão com um grosseiro erro de hermeneutica e interpretação conhecido como " Não Toqueis no Ungido do Senhor" e o povo que perece por falta de conhecimento aplaude e apoia esse texto que alguns pregadores usam sem um contexto, realmente, temos visto muitos abusos em nosso meio, pastores lançando maldições e terrorrismo psicológico em cima de pessoas que muitas vezes discordam de seus procedimentos, pastor alimenta e cuida de seu rebanho, mas vemos hoje gurus e despotas que tem usado o nome de jesus para mandar e alcançar suas aspirações fazendo humildes crentes de escadas e colunas para seus ministérios babilonicos.
    Shalom Adonai
    Pr. Denis

    ResponderExcluir
  10. Este livro vai abalar o Meio evangélico, precisamos destruir um chavão com um grosseiro erro de hermeneutica e interpretação conhecido como " Não Toqueis no Ungido do Senhor" e o povo que perece por falta de conhecimento aplaude e apoia esse texto que alguns pregadores usam sem um contexto, realmente, temos visto muitos abusos em nosso meio, pastores lançando maldições e terrorrismo psicológico em cima de pessoas que muitas vezes discordam de seus procedimentos, pastor alimenta e cuida de seu rebanho, mas vemos hoje gurus e despotas que tem usado o nome de jesus para mandar e alcançar suas aspirações fazendo humildes crentes de escadas e colunas para seus ministérios babilonicos.
    Shalom Adonai
    Pr. Denis

    ResponderExcluir
  11. Este livro vai abalar o Meio evangélico, precisamos destruir um chavão com um grosseiro erro de hermeneutica e interpretação conhecido como " Não Toqueis no Ungido do Senhor" e o povo que perece por falta de conhecimento aplaude e apoia esse texto que alguns pregadores usam sem um contexto, realmente, temos visto muitos abusos em nosso meio, pastores lançando maldições e terrorrismo psicológico em cima de pessoas que muitas vezes discordam de seus procedimentos, pastor alimenta e cuida de seu rebanho, mas vemos hoje gurus e despotas que tem usado o nome de jesus para mandar e alcançar suas aspirações fazendo humildes crentes de escadas e colunas para seus ministérios babilonicos.
    Shalom Adonai
    Pr. Denis

    ResponderExcluir
  12. Este livro vai abalar o Meio evangélico, precisamos destruir um chavão com um grosseiro erro de hermeneutica e interpretação conhecido como " Não Toqueis no Ungido do Senhor" e o povo que perece por falta de conhecimento aplaude e apoia esse texto que alguns pregadores usam sem um contexto, realmente, temos visto muitos abusos em nosso meio, pastores lançando maldições e terrorrismo psicológico em cima de pessoas que muitas vezes discordam de seus procedimentos, pastor alimenta e cuida de seu rebanho, mas vemos hoje gurus e despotas que tem usado o nome de jesus para mandar e alcançar suas aspirações fazendo humildes crentes de escadas e colunas para seus ministérios babilonicos.
    Shalom Adonai
    Pr. Denis

    ResponderExcluir
  13. www.respostascatolicas.com4 de junho de 2010 às 15:13

    Uma outra obra importante" Lavagem cerebral e hipnose nos cultos protestantes.

    MAIORES INFORMAÇÕES: www.respostascatolicas.com

    ResponderExcluir