sexta-feira, 4 de junho de 2010

Especialista analisa campanha política nas igrejas



Se os processos por campanha antecipada estão virando quase uma nova moda da política nacional, o controle nem passa perto de um importante centro da disputa presidencial deste ano: as igrejas. Para a professora Maria das Dores Campos Machado, especialista em voto e religião, é preocupante que não haja regras sobre promoção de candidatos nos templos.

- Na mídia, o governo tem controle se está fazendo campanha ou não. Nem sempre você tem essa mesma possibilidade na igreja. A grande preocupação é a possibilidade de controlar a informação que se tem nesses espaços e ter alguns parâmetros para o que ali é feito.

Em entrevista a Terra Magazine, a socióloga da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) discutiu a importância dos grupos evangélicos nessas eleições. Dilma Rousseff, do PT, deve contar com o apoio da Igreja Universal do Reino de Deus. Já José Serra, do PSDB, tem se aproximado da Assembleia de Deus, que, acredita a professora, pode rachar nessas eleições.

Leia a entrevista:

Terra Magazine - Os evangélicos levam a religião mais em conta na hora do voto do que outros fiéis?

Maria das Dores Campos Machado - Não é que a religião seja levada mais em conta. No Brasil, a questão é: que tipo de evangélico está valorizando a participação política? Os evangélicos que estão mais envolvidos na política e que tem despertado mais atenção da mídia são os pentecostais. O que você tem de novidade é que os pentecostais, que até certo tempo, tinham uma visão mais distante com relação à política, de repente passam a repensar a participação política.

Esse interesse na política é recente?

A partir dos anos 70 e 80 esses grupos começam a rever sua opção com relação a uma série de instituições. O surgimento de algumas igrejas mais contemporâneas como a Universal do Reino de Deus vai resultar num mimetismo por parte das outras. As outras ao vê-la tendo sucesso começam a rever suas posições e a tornarem-se mais flexíveis para atrair a classe média e outros grupos sociais. Então a política passa a ser um tema, como vai ser o futebol, uma série de outras instituições.

Mas então qual é a preocupação com os evangélicos nesse momento?

No caso dos evangélicos, esse interesse despertou um estranhamento na sociedade. Primeiro, porque são grupos vinculados às camadas populares. Nesse sentido, desperta uma preocupação com relação a que esses grupos populares são grupos que tem baixo nível de instrução. E, nesse grupo - a literatura da ciência política já aponta - a tendência é que a escolha ou a definição do voto seja feita em função de troca de informações ligadas à comunidade mais próxima. Então, se você não tem muita informação e se você transita em outras instituições, acaba que você define seu voto em função de poucas pessoas. No caso da igreja, o que se percebe é que essas pessoas acabam sendo influenciadas porque existe também uma autoridade espiritual. O próprio pastor está transferindo uma autoridade pessoal para o campo da política. Se ele indica alguém, o preocupante é a maneira como estes grupos evangélicos vêm estimulando a participação política em sujeitos que não tem outros espaços para comprovar a informação que está sendo transmitida ali.

Então esse estímulo dentro das igrejas pode ser perigoso?

Quando as igrejas assumem esse papel de divulgação e apoio de candidaturas - algumas tentativas até de organizar partidos políticos - você acaba transferindo párea esses espaços sociais, onde não se tem controle do que é feito, atividades que deveriam ser transferidas para um ambiente público, onde você tem controle. Na mídia, o governo tem controle se está fazendo campanha ou não. Nem sempre você tem essa mesma possibilidade na igreja. A grande preocupação é a possibilidade de controlar a informação que se tem nesses espaços e ter alguns parâmetros para o que ali é feito.

Você falou da Universal. Ela foi mesmo a primeira a se lançar na política?

Não é que é a primeira, mas ela é mais ousada. Ela tem se demonstrado mais ágil na abdução de algumas bandeiras dos movimentos sociais e algumas estratégias dos movimentos sociais. Ela tem se mostrado mais plástica, mais maleável no sentido de lidar com as diferentes tendências na sociedade. Ela tem sido uma ponta de lança.

Hoje há uma espécie de polarização entre a Universal e a Assembleia de Deus, não?
Pois é, se você pegar, a Assembleia de Deus é a igreja mais antiga do mundo pentecostal, ela e a Congregação Cristã do Brasil. A Assembleia de Deus é também a que tem mais fiéis, ela também tem uma bancada forte, mas sua participação é invisível, porque ela faz uma política sem grande alarde e não tem tanta plasticidade como tem a Universal. A Universal criou uma assessoria política muito antes das outras.

Essa atuação política dos pentecostais parece ter chegado primeiro ao legislativo e agora está fazendo diferença na eleição presidencial. Isso é novidade?

Não, desde o Lula isso tem sido forte. Várias candidaturas do Lula já tinham tido interferência das igrejas. A última eleição do Fernando Henrique Cardoso, os religiosos já estavam apoiando Fernando Henrique e com medo do Lula. Depois eles vão se virando mais para o PT. Mas isso tem sido muito forte desde a primeira vitória do Lula.

Você se arriscaria a dizer, hoje, o que é que tem mais influência: ter o apoio da Universal, como a Dilma tem, ou tentar jogar com questões da Igreja Católica, como o aborto?

Veja bem, os evangélicos eles são minoria ainda no Brasil como um todo, então a Igreja Universal é uma parte dentro desse mundo evangélico. Isso tem peso? Tem porque esses grupos são os grupos que ficam mais dentro dos indefinidos. Aqueles que resolvem seu voto em cima da hora e sem uma posição ideológica clara. Mas a Igreja Católica também tem um peso muito grande, principalmente nos movimentos sociais, movimentos sem terra. Então, não se pode falar qual que tem mais importância. O que eu acho interessante é que hoje você, além de ter que ter o apoio católico, você tem que ter o apoio evangélico. Isso não existia antes. Agora, os evangélicos também vão se dividir entre Serra e Dilma.

A Assembléia de Deus vai apoiar o Serra?

A Assembléia tem dois braços, a de Belém e a de Madureira. A que está apoiando o Serra é a de Belém, Belenzinho que é aqui em São Paulo. O grupo evangélico é muito heterogêneo, é muito plural e muito competitivo internamente. Até essa coisa da Assembléia de Deus apoiar o Serra... Eu acho que tem a questão local, porque a sede dela está em São Paulo, mas tem também essa questão de se diferenciar da Universal, marcar uma posição.

E porque você acha que os candidatos tem certa dificuldade em assumir sua própria fé? A Marina é evangélica mas evita falar. A Dilma demorou a dizer que era católica...

O imaginário brasileiro tem uma valorização muito grande da fé e da religiosidade. Então a nossa elite política não assume explicitamente as suas posições por medo de perder voto. O Fernando Henrique disse que ele era ateu e perdeu voto. Nesse sentido, você se dizer ateu ou se dizer mesmo evangélico é complicado. São razões diferentes. Porque a Marina não pode dizer que é pentecostal? Porque pentecostalismo é, de uma certa forma, muito desvalorizado porque está associado a um certo fanatismo, a uma crítica de proselitismo. Está associado a grupos mais populares. Alguém que quer ser Presidente da República tem que ir além destas amarras religiosas.

Esse jogo de apoio de uma igreja a um determinado candidato é uma questão mais política que de fé?

Sim, mas aí você tem que ver que são dois níveis diferentes. Uma coisa é o fiel e outra coisa é o apoio da igreja. Quando você pensa o fiel, você tem que ver quais são seus valores, como ele vê o mundo, quais são suas representações. É diferente dos olhos de uma instituição religiosa. Aí você tem alguns compromissos que são assumidos, é uma troca de favores. Alguns interesses mais claros, concessões de TV e de rádio, certo controle sobre investigações da Polícia Federal... Você pode botar na mesa vários temas.

Observação: A foto acima é da visita de Dilma Rousseff às novas instalações da TV Canção Nova.

Fonte: Terra Magazine

8 comentários:

  1. Olá, Querido Pastor, sigo seu blog e suas atualizações de postagens etc.

    Gostaria se possível fazer parte de sua lista de parceiros para minhas atualizações. E divulgarmos juntos o nome de Yeshua. Ok!

    Obrigado!
    Pr. Ronaldo Mendes
    www.cvnyeshua.blogspot.com

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  2. Pr. Marcos Crecchi,

    Sim meu prezado, e como se tornou! Obrigado pela sua visita e participação.

    Abraço.

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  3. Pr. Ronaldo,

    Obrigado pela visita e participação. Estarei incluindo seu blog nos meus links.

    Abraço.

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  4. Parabéns Pastor pelo seu blog. Gostaria de convidá-lo a fazer parceria, caso aceite é só adicionar nosso banner ou link que também lhe adicionarei na minha página. Sempre que quiser pode usar nossas noticias como fonte para seus artigos, é só citar o link no fim.

    Abraços
    Fabio Pacheco
    www.patiogospel.com.br

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  5. Fábio Pacheco,

    Obrigado pela visita. Vamos fazer a parceria sim.

    Abraço.

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  6. Sobre a Marina Silva,citada na Entrevista,achei tendencioso dizer que ela tem problema em se assumir evangélica.
    Nunca percebi isso na Marina,sempre que perguntada ela responde que é cristã e evangélica e está sendo duramente criticada pela mídia tanto por assumir ser evangélica e agora por alguns que dizem que ela evita se dizer evangélica.Estão usando e manipulando a fé da Marina Silva,puro jogo de interesses..
    Recentemente acompanhei a entrevista da Marina para o Terra e para o Uol,ela foi perguntada sobre Casamento Gay e Aborto e disse ser contrária ao Casamento Gay por considerar o Casamento um Sacramento,porém não é contrária a União de bens de casais Homosexuais.Quanto ao aborto ela sempre responde que é contrária ao aborto.No mesmo dia dessas declarações choveram de críticas na Internet para a Marina,chamaram-a de evangélica fanática no orkut e em vários blogs por conta dessas declarações e agora o Terra Magazine diz que a Marina tem problemas de se assumir evangélica?!!Não entendo mais nada..
    Muito feio o que a mídia e o que a própria Assémbleia de Deus(ignorando-a) está fazendo com a Marina,estão tentando polarizar essas eleições entre PSDB e PT e ignoram os votos para a Marina que crescem a cada dia,puro preconceito!
    Se bem que a Marina Silva não é o tipo de político evangélico que existem aos baldes na Universal e tantas outras Igrejas,ela deixa isso bem claro,ela quer ser presidente de um estado laico e não governar para as Igrejas e seus interesses,talvez seja por isso que existe tanta confusão em torno de Marina Silva e talvez seja pr isso que a Assémbleia está renegando a Marina,justamente por que não Vê vantagens para a Igreja caso a Marina seja eleita.

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  7. Aline,

    Concordo em gênero, número e grau com você. Também acredito que a Marina não está tendo o apoio da liderança evangélica, como o que o Garotinho teve em 2002, por ela não representar esse tipo de político evangélico corporativista, que funciona na prática como uma espécie de despachante das igrejas. Fora o pragmatismo oportunista de muitos líderes que pensam: "Há eu vou apoiar um dos dois que estão na frente nas pesquisas, porque eles tem chance de ganharem as eleições e eu ainda ganho alguma coisa com o apoio". É triste, mas é uma baita realidade!

    Obrigado pela sua participação.

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