quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A falácia da representação evangélica

A verdade é que eu não pretendia tocar no assunto, mas vou aproveitar o gancho para voltar ao tema da representação da igreja na política.
 
As recentes tentativas de criar leis que ferem os princípios cristãos, como a legalização do casamento homossexual e do aborto, com o provável efeito do cerceamento da liberdade religiosa, e o fato de o país ser governado por um grupo que se compraz em incensar os regimes totalitários (em geral inimigos da Igreja) têm levado muitos cristãos a levantar a bandeira da representação evangélica — nas casas legislativas, principalmente. “Se elegermos cristãos comprometidos, essas leis não serão aprovadas, e a nossa liberdade estará garantida”, parece ser o pensamento dominante. Santa ilusão!
 
Ilusão porque essa representação é pura falácia. Para o Reino de Deus, tem a utilidade de uma boia furada. Para começar, os “representantes” não serão eleitos para transformar o Planalto em igreja, nem as câmaras estaduais em casas oração, nem as assembleias legislativas em Assembleias de Deus, mas para fazer política. Porque é isso que fazem os políticos, crentes ou não. Mesmo contra a vontade, em muitas ocasiões os políticos cristãos terão de votar conforme os interesses do partido. E, pelo que me consta, a chamada “bancada evangélica” nem sempre fechou questão quanto aos princípios defendidos pela Igreja, sem falar dos que se corromperam.
 
Além do mais (teoria minha), no que diz respeito às eleições o povo não escolhe: eles simplesmente votam em quem melhor os engana. O mesmo se aplica ao contingente ovino que povoa os nossos templos.
 
O que fazer, então? Humanamente falando, não muito. Voto consciente é quase uma utopia. Candidatos cristãos e capazes são raridade, e nada garante que os crentes irão elegê-los. Portanto, a ideia de que, por sermos um povo numeroso, podemos eleger os “representantes” que quisermos ou mesmo um presidente na prática é uma grande bobagem e até um pecado.
Bobagem porque não há união nem unidade de pensamento entre os evangélicos. Se o povo cristão votou em quem devia, por que o número de nanicos morais no poder só tem aumentado? E por que serão reeleitos? Quarenta milhões de evangélicos são responsáveis por essa situação.
 
Pecado porque estamos esquecendo de que somos Igreja, e as nossas armas são espirituais, não carnais, mesmo quando o assunto é política. Lembram o exemplo de Davi? Ele mandou fazer um recenseamento para medir o seu poderio militar, enquanto o Todo-Poderoso, capaz de destruir qualquer exército com um sopro, era o seu aliado. Pagou caro por isso. Com a Igreja é a mesma coisa.
Agora pergunto: quantos “representantes” a Igreja primitiva tinha no Senado romano? Ela foi perseguida e “desperseguida” e, vale lembrar, só se corrompeu quando o bispo se tornou a maior autoridade (ou “representante”) de Roma. O fato é que em momento algum Cristo prometeu imunidade à Igreja. Sua promessa foi de que ela seria vencedora, não importando de que lado o vento soprasse, e continua assim até hoje.
 
Penso que o receio de uma perseguição à Igreja no Brasil não é sem sentido. Sem sentido é imaginar que a situação pode ser resolvida com um punhado de “representantes”. Com ou sem perseguição, o que a Igreja deve fazer é cuidar dos interesses do Reino. Apenas isso. Em qualquer circunstância. Esqueçam o recenseamento, risquem os cálculos estatísticos, engavetem os planos políticos. Que os pastores politiqueiros criem vergonha e voltem a cuidar do rebanho. Que as ovelhinhas burras busquem a orientação de Deus para não serem mais enganadas. Pastores que pastoreiam e ovelhas que buscam sabedoria: isso é que é Igreja.
 
Comentário: Em um ano eleitoral como esse, o texto maravilhoso escrito em  2010 pelo blogueiro Judson Canto (O Balido), cai como uma luva. Para quem quiser lê-lo na íntegra aqui vai o link: http://judsoncanto.wordpress.com/2010/09/19/a-falacia-da-representacao-evangelica/

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