Nesse primeiro trimestre de 2016, a revista de Escola Dominical da CPAD, abordará a temática da Escatologia: O estudo das últimas coisas. Estarei postando algumas matérias sobre o assunto falando das diferentes linhas de pensamento envolvendo a escatologia e também sobre como esse estudo foi visto no decorrer dos séculos na história do cristianismo. Aviso aos leitores, que as postagens, não seguirão a ordem das lições da revista.
Para começar deve-se ressaltar que, em nenhuma passagem das Escrituras encontramos a expressão “segunda vinda”, que tanto amamos. Numa única passagem aparece uma expressão parecida: “segunda vez”. É na Epístola aos Hebreus: “[Cristo] aparecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o aguardam” (9.28, NVI).
Tal coisa, porém, não enfraquece a esperança da chamada “segunda vinda”. Já que Jesus veio uma vez e prometeu vir outra vez, não há nada de errado em chamar o segundo aparecimento de segunda vinda ou segundo advento. Para se referir a esse acontecimento usa-se também a expressão igualmente apropriada “a volta de Cristo”.
A segunda vinda de Jesus esclarece certas profecias messiânicas do Antigo Testamento, totalmente obscuras naquela época. Movidos pelo Espírito, os profetas relacionavam a vinda do Messias ora com o sofrimento ora com a glória (1 Pe 1.10-12). Isaías, por exemplo, diz que Jesus não teria beleza e majestade, nem sequer aparência, mas seria um homem de dores, experimentado no sofrimento, desprezado e rejeitado; seria levado para o matadouro como ovelha muda diante de seus tosquiadores (Is 53). Em outra passagem, garante que Jesus seria uma grande luz, quebraria o jugo, a canga e a vara que oprimem o homem, seu nome seria Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno e Príncipe da Paz, e seu domínio de paz sem fim seria estabelecido para sempre (Is 9.1-7).
Os profetas e os leitores do Antigo Testamento ficavam confusos diante de duas revelações opostas entre si. Hoje entendemos claramente que não eram duas versões de um mesmo acontecimento, mas uma versão que se referia ao primeiro advento e outra que se referia ao segundo advento. Na primeira vinda, já realizada, Jesus esvaziou-se a si mesmo, assumiu a forma humana e deu a sua vida como oferta pelo pecado. Na segunda vinda, não realizada ainda, Jesus virá em poder e muita glória (Mt 24.30). Na primeira, Ele foi deixado de lado. Na segunda, todo joelho nos céus, na terra e debaixo da terra se dobrará diante dele e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor (Fp 2.9-11).
A volta de Jesus é uma questão pacífica. Prende-se a uma promessa de absoluta clareza: “Se eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver” (Jo 14.3, NVI). No penúltimo versículo da Bíblia, Jesus acende essa esperança quando promete mais uma vez: “Sim, venho em breve” (Ap 22.20).
A rica promessa não é só de Jesus. Quando uma nuvem ocultou o corpo ressuscitado de Jesus no dia de sua ascensão, dois seres sobrenaturais e glorificados (“dois homens vestidos de branco”) apareceram aos apóstolos e lhes garantiram: “Este mesmo Jesus, que dentre vocês foi elevado ao céu, voltará da mesma forma como o viram subir” (At 1.11, NVI).
Graças a essas promessas básicas, Paulo podia afirmar com segurança: “Dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro” (1 Ts 4.16, NVI).
A segunda vinda de Cristo será visível, evidente e sem ambigüidade: “A vinda do Filho do Homem será como o relâmpago que sai do oriente e brilha até o ocidente” (Mt 24.27, EP). Jesus será visto em ambos os hemisférios e “todas as nações da terra verão o Filho do Homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória” (Mt 24.30, NVI). Ele virá com as nuvens e “o mundo todo o verá, até mesmo aqueles que o transpassaram” (Ap 1.7, EP).
Embora certa e previamente datada, a segunda vinda será uma surpresa guardada a sete chaves. Ela está na agenda de Deus, mas ninguém, em tempo algum, tem acesso a essa agenda, a essa data, malgrado as muitas tentativas que têm sido feitas. Foi o próprio Jesus quem avisou: “Quanto àquele dia e hora, ninguém tem conhecimento, nem os anjos do céu, nem mesmo o Filho, mas somente o Pai” (Mt 24.26, CNBB). O Senhor virá, como o ladrão, numa hora em que menos se espera (Mt 24.44). Na ascensão, Jesus explicou: “Não cabe a vocês saber os tempos e as datas que o Pai reservou à sua própria autoridade” (At 1.7, EP). É nesse sentido que Jesus avisou: “Eis que venho como um ladrão” (Ap 16.15).
Para a igreja, a segunda vinda de Jesus significa casamento – um casamento há muito desejado. Daí o texto profético: “Vamos ficar alegres e contentes, vamos dar glória a Deus, porque chegou o tempo do casamento do Cordeiro, e sua esposa já está pronta” (Ap 19.7). O noivo é o Senhor Jesus, aquele que começou o namoro (1 Jo 5.19) e amou de tal maneira a namorada que se entregou por ela a fim de santifica-la e deixá-la “sem mancha nem ruga nem qualquer outro defeito, mas santa e imaculada” (Ef 5.26). A noiva, que é a igreja, não esconde o desejo de casar-se o mais breve possível, seja por causa da força do amor que ela nutre pelo Noivo, seja pela segurança e felicidade que o casamento lhe proporcionará. É por isso que a noiva se dirige, junto com o Espírito, à Brilhante Estrela da Manhã, e clamam: “Vem!” (Ap 22.17).
Uma cristologia sem parúsia é ilógica e indecente. É como um parto que começa mas não termina.
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