segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Novos megatemplos ilustram disputa de poder das igrejas em São Paulo

Igreja da Graça começa a construção de um megatemplo para 10 mil pessoas em SP. Caminhões passam o dia tirando terra de um terreno de 29 mil m² - o equivalente a três campos de futebol - na marginal Tietê, uma das principais artérias do trânsito de São Paulo (http://noticias.uol.com.br/sao-paulo). As dimensões da obra lembram a construção de um estádio de futebol, mas trata-se de mais um templo religioso de grandes dimensões na capital paulista.
 
O Templo da Graça, da Igreja Internacional da Graça de Deus, no Bom Retiro (na região central), terá capacidade para 10 mil pessoas sentadas, a mesma do Templo de Salomão, inaugurado pela igreja Universal em 2014 no Brás, também no centro. A igreja da Graça é liderada por Romildo Ribeiro Soares, conhecido como Missionário RR Soares, e cunhado do bispo Edir Macedo - líder da Universal.
 
"Vamos fazer uma coisa bonita, para a glória de Deus", disse RR Soares durante um programa no qual anunciou o início da megaobra. O lançamento da pedra fundamental da construção contou com a presença de figuras importantes da igreja e políticos, como o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB).
 
O projeto para a construção demorou oito anos para ser aprovado e pegou de surpresa até mesmo membros da alta cúpula da atual gestão da prefeitura, que desconheciam o início da obra, aprovada por técnicos.
 
O Estado de São Paulo já tem ao menos outras cinco megaconstruções religiosas (veja lista abaixo), como o santuário católico Theotokos - Mãe de Deus, idealizado pelo padre Marcelo Rossi e projetado pelo arquiteto Ruy Ohtake, com capacidade para até 100 mil pessoas em Interlagos (zona sul) -, e a Cidade da Glória de Deus, em Guarulhos (Grande SP), que comporta até 150 mil fiéis.
 
Disputa
O professor titular de ciências da religião da PUC-SP Jorge Claudio Ribeiro disse que as igrejas constroem megatemplos para ganhar mais credibilidade. Novo megatemplo ilustra disputa de igrejas em SP para mostrar poder. ­ "Um vai imitando o outro dentro desse campo religioso para não ser visto como uma liderança de segunda classe. Se uma religião tem um templo, a outra quer um também. O mesmo acontece se uma delas tem espaço na televisão, filme, novela etc.", afirmou. Ribeiro aponta que São Paulo tem muitos megatemplos porque há público para enchê-los. Para ele, isso demonstra uma disputa entre as igrejas para provar ao seu público quem tem mais poder - e tem o efeito de transformar a capital paulista em um ponto de turismo religioso.
 
A inspiração para o gigantismo dos templos vem, segundo Ribeiro, da própria Igreja Católica. "O catolicismo fez isso durante milênios, com a basílica de São Pedro, o barroco. Os evangélicos do século 21 estão aprendendo com os católicos porque viram que aquela foi uma experiência mais bem-sucedida. Outros exemplos disso são a Marcha para Cristo, imitando as procissões", disse.
 
Para o professor de pós-graduação em ciências da religião no Mackenzie Rodrigo Franklin, essas obras demonstram uma mercantilização da fé. "Vemos algo bem diferente do antigo cristianismo tradicional, que pregava como prioridade o sacrifício, o amor ao próximo. Hoje, os fiéis buscam autoajuda, querem ser ricos agora, então eles não querem mais a pequena comunidade. Se o cara está falando que você vai ficar rico, é incoerente ele ter uma igrejinha. Se o pastor quer mostrar que o poder dele é real, ele vai continuar construindo coisas extravagantes", afirmou Franklin. Segundo Franklin, construir templos cada vez maiores é uma tendência mundial, na qual se destacam o Brasil e os Estados Unidos.
 
"Na Antiguidade, grandes templos eram sinal de poder e autoridade. Hoje, é uma competição. No contexto de São Paulo, é uma questão de mercado porque é uma cidade rica e tem de tudo", disse. Para ele, essa "disputa" é uma forma de ostentar e mostrar o poder de cada líder religioso, já que "eles estão competindo pelo mesmo público".
 
Estrutura
O projeto aprovado pela Prefeitura de São Paulo prevê uma área construída total do Templo da Graça de 68 mil m². Serão dois prédios: um de quatro andares com dois subsolos e outro de nove andares com dois subsolos, onde está prevista a construção de um templo e um edifício-garagem. O novo centro religioso ainda terá um anfiteatro, heliponto, sala para crianças e locais destinados para casamentos e batismos. A BBC Brasil apurou, porém, que a Igreja Internacional da Graça de Deus enviou um pedido à prefeitura para fazer uma alteração no projeto do prédio onde está previsto um estacionamento. A reportagem não teve acesso às alterações que a igreja pretende fazer no local. O pedido ainda está em análise pela área técnica da administração municipal.
 
Assim como os últimos grandes estádios construídos na capital paulista, o Allianz Parque e a Arena Corinthians, o Templo da Graça tem uma câmera ligada na frente do terreno para que os fiéis possam acompanhar a evolução da obra. Tudo pode ser acompanhado, durante o período em que a luz do dia ilumina o terreno, pelo site do Templo da Graça. Não há a informação de quanto a obra vai custar nem qual a previsão para ser inaugurada. Procurado, RR Soares negou os pedidos de entrevista da BBC Brasil e disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que "ainda não é tempo de falar sobre o templo". Representantes da Rogui Engenharia, responsável pela construção, também se negaram a falar com a reportagem.
 
Megatemplos do Estado de São Paulo:
 
Cidade Mundial dos Sonhos de Deus
Inaugurado em 2011 em Guarulhos, na Grande São Paulo, o megatemplo da Igreja Mundial do Poder de Deus está entre os maiores do mundo, com capacidade para 150 mil pessoas em um espaço de 240 mil m². Uma programação de 24 horas de transmissão de cada uma das principais reuniões, além de programas, notícias e entretenimento diferenciado, propagam a mensagem do Evangelho não apenas dentro do território nacional, mas também em outros países, onde o trabalho ministerial se encontra presente.
 
Basílica de Nossa Senhora Aparecida
Localizada na cidade de Aparecida, a 180 km da capital paulista, a Basílica de Nossa Senhora Aparecida recebe mais de 12 milhões de pessoas por ano. O principal ponto brasileiro de peregrinação católica tem uma área de 1,3 milhão de m², sendo 143 mil m² de área construída. A área interna da basílica abriga 30 mil pessoas. A capacidade para as celebrações na área externa é de 300 mil. O local ainda possui um estacionamento com mais de 6.000 vagas, sendo 2.000 delas apenas para ônibus e 3.000 para carros. Há ainda um centro de compras com 380 lojas.
 
Templo de Salomão
A mais nova grande construção religiosa de São Paulo, o Templo de Salomão, foi erguido pela Igreja Universal do Reino de Deus por R$ 680 milhões. A construção tem 74 mil m² de área construída e altura equivalente a um prédio de 18 andares. O templo é uma réplica do que foi destruído em Jerusalém há mais de 2.000 anos. Sua inauguração teve a presença da presidente Dilma Rousseff (PT).
 
Templo da Glória de Deus
Inaugurado no primeiro dia de 2004, o templo localizado na avenida do Estado, no centro de São Paulo, tem capacidade para 60 mil pessoas. O prédio, comprado por R$ 200 milhões à época pela Igreja Pentecostal Deus é Amor, passou por uma reforma nos últimos anos. Fundada em 1962, atualmente há 22 mil igrejas Deus é Amor no Brasil, além de unidades em outros 136 países.
 
Santuário Theotokos - Mãe de Deus
Projetado pelo arquiteto Ruy Ohtake, o santuário idealizado pelo padre Marcelo Rossi tem capacidade para 100 mil fiéis em um terreno de 20 mil metros quadrados em Interlagos, na zona sul de São Paulo. O santuário tem 500 banheiros e 2.000 vagas de estacionamento.
 
 
Meu Comentário: Não sou contra construção de templos, mas o que está matéria demonstra é que a questão não é apenas mais ter um templo para abrigar os fiéis, mas sim construir verdadeiros templos que mais parecem uma mistura entre shopping center e estádio de futebol. A questão é demonstrar poder, para conseguir mais e mais fiéis/consumidores e aumentar a influência política e o poder econômico dos seus líderes.
 
A igreja primitiva nos seus primeiros anos/décadas e por que não dizer séculos, não tinha templos. A imagem do meigo nazereno e da vida autera dos apóstolos ficou para trás. Se mostrassem esses megatemplos para Jesus hoje, não me assustaria se Ele como resposta dissesse: "Não ficará pedra sobre pedra que não seja derribado".
 
 

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