terça-feira, 12 de abril de 2016

A impunidade e a disciplina dentro das igrejas

"Quando fui perguntado recentemente sobre a maior necessidade da igreja evangélica no Brasil, não tive dúvidas em responder que é o exercício da disciplina bíblica. Há muitas outras necessidades como a pregação fiel da Palavra de Deus entre outras.

Esse tema é relevante, pois a disciplina da Igreja tem como alvo zelar pelo nome do Senhor, manter a pureza da Igreja e restaurar os faltosos, e se constitui numa das marcas da verdadeira Igreja de Cristo. Em meu entendimento, tudo começa pela absoluta falta de vontade ou disposição por parte de líderes e membros de dar conta de seus atos. Ninguém se sente devedor a ninguém, quando muito a Deus - esquecendo-se que foi o próprio Deus quem institui a disciplina eclesiástica como instrumento para manter a igreja pura e restaurar os caídos. 

Isso é claro especialmente no caso de líderes que construíram seu império eclesiástico e que não se encontram debaixo de qualquer pessoa ou grupo que poderia corrigi-los e discipliná-los em caso de falta. Pecam impunemente em nome do perdão e da tolerância divina.

As próprias igrejas não exercem a vigilância, o zelo e o cuidado que deveriam com seus membros faltosos. Preferem ocultar os pecados cometidos ou exercer algum tipo de restrição que mal pode ser reconhecida como disciplina, E os membros - estes não se sentem obrigados a prestar contas de seus atos às igrejas que frequentam e, portanto, em caso de serem arguidos de seus pecados e erros, não se sujeitam, não acatam qualquer medida corretiva e simplesmente mudam-se para outra igreja.

Esse estado caótico de coisas compromete a imagem dos evangélicos diante do povo, que toma conhecimento do comportamento irregular de líderes e crentes pela mídia. Juntamente com a crise de identidade e doutrinária, a falta de disciplina contribui para o agravamento da situação de UTI em que a igreja evangélica brasileira se encontra.

Não é de estranhar que essa tolerância para com os pecados próprios e dos outros ocorra exatamente num dos países em que a impunidade alcança os mais altos níveis. É com profundo pesar e tristeza que brasileiros sérios tem acompanhado pela grande mídia, nesses últimos anos, a absolvição por seus pares de senadores, deputados e líderes partidários envolvidos em escândalos de toda sorte. A falta de exemplo das autoridades civis em corrigir os faltosos acaba corrompendo a consciência dos cidadãos. 

E a igreja, que deveria nesse momento, fazer o contraponto, embarca na mesma mentalidade de impunidade. Líderes evangélicos apanhados em adultério, desvio de verba, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, safam-se impunes e permanecem no ministério da Palavra como se nada tivesse acontecido.

Há poucos dias tome conhecimento de mais um caso de adultério, desta feita cometido por um pastor que dirige uma importante instituição de mídia evangélica. Sua "disciplina", imposta por seu presbitério, foi de deixar a presidência da agência no prazo de dois anos e se aposentar! 

Infelizmente isso é muito comum pelo Brasil afora nas diversas igrejas, quando um caso de um pastor torna-se público, o mesmo é "apenado" com a aposentadoria! E essa falta da aplicação da disciplina em líderes faltosos que torna cada vez mais difícil aplicá-la aos membros em geral. Biblicamente, porém, ninguém está acima da autoridade espiritual da Igreja.

Pensemos bem nisso. Qual tem sido o efeito da impunidade dos políticos corruptos na imagem do governo? Não tem sido de provocar descrédito, desconfiança, por parte da população? Qual tem sido o efeito da impunidade dos padres pedófilos, rabinos cleptomaníacos e pastores mercenários na opinião pública? De total desconfiança e descrédito para com as religiões em geral.

Queira Deus nos abençoar com um grande avivamento espiritual no Brasil, para que sua Igreja se levante em nossa pátria, ostentando com clareza as marcas de sua autenticidade".

Fonte: Trechos do livro Mantendo a Igreja Pura, de Augustos Nicodemus, Editora Cultura Cristã, 2008.

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