Devemos admitir primeiramente que um dos maiores problemas com os quais nos
confrontamos como povo de Deus é o da tentação do poder.
Lidar com o poder sempre é perigoso.
Antes de mais nada, faço referência ao poder constituído, visível e político,
que se pode tocar e perceber. A igreja em nossa país tem a tendência de
desenvolver uma relação ambígua com o poder político. O poder constituído não
sabe existir como tal ao lado de qualquer outra unidade ou realidade que,
crescendo, possa constituir para ele ameaça. Quando isso acontece, o Estado
lutar contra ela, ou então absorve.
No nosso caso,
aqui no Brasil, infelizmente o poder constituído não tentou nos enfrentar. Tal
enfrentamento é até saudável porque deixa a igreja livre da tentação de ser
poderosa por vias humanas.
O que o poder político fez foi assimilarnos, absorvernos; e nós num certo
sentido, permitimos que isso acontecesse. Quando eles sentiram que tínhamos uma
teologia que nos ensinara uma atitude de quieta subserviência a qualquer tipo
de poder constituído, uma compreensão do mundo que nos fazia viver em guetos
fechados e relativamente bem organizados, e que éramos em quantidade suficiente
para fazermos diferença em pleitos políticos, que ao manipular-nos, poderiam
alterar as coisas; então, em lugar de nos rejeitarem, eles nos assimilaram.
Hoje, a grandeza numérica da igreja evangélica brasileira tornou-se um de
seus maiores inimigos. Isso se dá, porque essa grandeza é alinada, sem cabeça,
sem ética, e que favore toda e qualquer perspectiva de manipulação.
Vivemos em um momento em que muitos de nós nos sentimos deslumbrados com as
oportunidades, os privilégios, os acenos, as portas abertas, as coisas que para
a igreja evangélica são franqueadas. E isso nos tem corrompido.
Mesmo quem durante muito tempo vinha insistindo com a necessidade de a
igreja descobrir seu papel na sociedade, fica hoje se perguntando se essa nossa
entrada ingênua, afoita e descomprometida com o reino, ou ideologicamente
excessivamente apaixonada no mundo político não estará sendo pior que nossa
alienação no passado.
Não estou aqui sugerindo que devemos nos alienar outra vez, estou apenas
dizendo que passamos de uma profunda alienação política a uma participação política
inescrupulosa e aética de um lado, e e excessivamente apoixanada do outro.
O escritor Jacques Ellul, diz que a tendência do cristianismo como
instituição tem sido a do adesismo ideológico. Ellul diz ainda que os teólogos
sempre foram capazes de encontrar suficienta “base bíblica” para justificar
tais atrelamentos. Por exemplo, quando sob monarquias enfatiza-se a unidade de
Deus e o Cristo-Rei. Sob repúblicas democaráticas se evoca o argumento do povo
eleito de Deus. Debaixo de regimes totalitários de direita ou esquerda,
lembra-se o fato de que o Estado é ministro de Deus para o bem e por aí vai.
Por mais duro que seja o comentário de Ellul quem pode contestar sua
veracidade? Na Alemanha, parte da igreja se tornou Nacional Socilista (Cristã
Alemã) quando Hitler tomou o poder. Tornou-se Libertacionista quando a moda
intelectual ditou esse padrão na América Latina.
Exemplos recentes mostram que o mesmo potencial “abençoador” de Estados e
ideologias políticas está presente na igreja evangélica brasileira. Tanto faz
se o grupo é direita ou esquerda, o mesmo potencial para ser apoio ao Estado,
ou ao partido está evidente.
Acredito que o povo de Deus tem que ter algo a dizer aos poderes constituídos.
Se queremos ter relevância e participação histórica efetiva, a primeira coisa
que precisamos ter em mente é que essa participação implica que sejamos uma
comunidade, ou um povo que tem algo a dizer, e além disso, com coragem de dizer
as coisas que precisam ser ditas.
Quando olhamos para os profetas na Bíblia, vemos que eles não estavam
interessados em falar em nome de Deus. Eles queriam que Deus falasse através
deles. Isso faz toda a diferença.
Na próxima postagem vou continuar e falar sobre o atual ativismo profético-político.
Juber, é sempre bom ler seus textos. Objetivos e lúcidos!! Obrigada pela oportunidade de reflexão.
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