terça-feira, 21 de junho de 2016

Uma reflexão sobre os 105 anos da Assembleia de Deus no Brasil



As Assembleias de Deus completaram no último dia 18 de junho, 105 anos, comemorando o fato de serem a maior denominação pentecostal no Brasil. São mais de doze milhões de fiéis, segundo o Censo de 2010. As duas últimas décadas de sua existência assistiram ao crescimento vertiginoso da denominação. Em 1990, eram cerca de 2,4 milhões de brasileiros e, em vinte anos, alcançaram mais de dez milhões. Cresceram cinco vezes nesse período. Nenhuma outra igreja no Brasil pode ostentar uma proeza semelhante. 

Apesar dessa expansão, as Assembleias de Deus são pouco conhecidas entre os estudiosos. O mais comum nos estudos acadêmicos era vermos a repetição do mito fundante do pentecostalismo sendo repetido de forma quase litúrgica, sem nenhuma novidade que acrescente ou lance novas luzes sobre a origem das igrejas pentecostais no Brasil. Digo era, porque de poucos anos para cá, vem surgindo algumas pesquisas que tentam preencher os "vazios históricos" que havia. 

Os pioneiros Daniel Berg e Gunnar Vingren são elevados à categoria de heróis míticos e quase nada mais se sabe deles, além do fato de serem suecos com passagem pelos Estados Unidos antes de aportarem em Belém. Pouco se fala sobre as lutas e as disputas pelo poder na igreja nascente. Só recentemente começou a se falar mais sobre a figura emblemática de Frida Vingren, esposa de Gunnar. Prevalece o silêncio ou a ignorância sobre a guerra fraticida entre suecos e americanos pelo controle dos rumos da denominação.

A história da AD no Brasil, mostra que a houve momentos em que sua história foi conduzida pela ação do Espírito Santo e em outras por interesses mundanos. É incrível como sob um único nome, subsistem diferentes igrejas em franca concorrência umas com as outras, ou quase sempre, umas contra as outras. Igrejas com características diferentes e jeitos de ser os mais variados.

A Assembleia de Deus pode não ser a cara do Brasil, mas é um retrato fiel. Como o Brasil ela é moderna, mas conservadora; presente, mas invisível; imensa, mas insignificante; única, mas diversificada; plural, mas sectária; rica, mas injusta; passiva, mas festiva; feminina, mas machista; urbana, mas periférica; mística, mas secular; carismática, mas racionalizada; comunitária, mas hierarquizada; grande, mas fracionada; barulhenta. mas calada; omissa, mas vibrante; sofredora, mas feliz. É brasileira.

É uma igreja híbrida. Presente em todos os centros urbanos, mas ausente na questão urbana; visível em todas as periferias, mas indiferente às decisões sobre as mesmas; vanguardista no espaço que dá aos pobres, e às mulheres na atuação dentro da congregação, mas repete e ajuda a perpetuar os mecanismos de opressão contra os mesmos; com grandes patrimônios nos templos-sedes, repetindo o modelo de concentração de renda, enquanto os da periferia continuam com pouca ou nenhuma infra-estrutura; barulhenta em suas reuniões, mas calada sobre o país.

Como o Brasil que não é apenas um, mas vários brasis, assim também as Assembleias de Deus - ADs. São muitas assembleias. A começar do nome assumido, Assembleias de Deus, desde o seu nascimento nos Estados Unidos em 1914 e no Brasil a partir de 1918 foi sintomaticamente no plural. Sempre foi assembleias no plural. E isso teoricamente, lhes definiria a natureza: diversas, distintas, plurais, contraditórias, concorrentes. 

3 comentários:

  1. Parabéns! Texto lúcido e coerente. Infelizmente, nada muda em nossa Igreja. Desisti por ora, ao menos. Não vale a pena.

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  2. Daladier,

    Obrigado.Já pensei em desistir também algumas vezes, por enquanto não sei se por teimosia ou um sentimento de esperança inexplicável vou continuar insistindo com ela.

    Abração.

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