Estamos vivendo um mundo conturbado, cheio de perigos e que se transforma
numa velocidade assustadora. Enquanto isso, a igreja, no caso a igreja evangélica
num sentido geral parece que continua com sua mentalidade fechada de gueto. Olhando
seus probleminhas internos como se fossem as coisas mais importantes do mundo.
Enquanto o terrorismo avança de uma forma terrível, sobre vários países,
usando qualquer coisa que possa matar as pessoas, e agora sendo utilizados não
apenas os terroristas treinados mas também os “chamados lobos solitários”, que
são pessoas simpatizantes da causa deles e revoltados com tudo. O irônico é que
aqueles que dizem lutar contra a globalização, acabam por globalizar o crime em
suas várias facetas e nomes seja o narcotráfico, a corrupção e o terrorismo.
Somado a isso, vemos a luta contra contra novas e velhas doenças, sejam
elas físicas ou psicológicas, como a depressão.
Há menos de 30 anos, assistimos a queda de alguns muros, hoje outros muros
estão sendo erguidos novamente. E nós como igreja, como estamos nos comportando
diante desse cenário?
Nos fechando em nossos templos e selecionamos quem entra ou sai do nosso
clube, decidindo através de nossos “sinédrios”, quem é pecador, quem pode ser
ou não salvo.
Será que a igreja que nos tornamos tem alguma coisa a ver com aquela que
Jesus disse que estava edificando? Ou resolvemos formar uma igreja a nossa
imagem e semelhança?
Criamos “Talmudes doutrinários” e por causa deles brigamos, expurgamos
pessoas em nome daquilo que chamamos de “sã doutrina”, definindo quem é herético.
No próximo ano, a Reforma Protestante irá completar 500 anos. Nesse meio
milênio, em nome da “defesa da verdade e da fé”, cismas e a criação de novas
igrejas foram e são até hoje uma constante no meio protestante evangélico. Tanta
coisa já foi e continua sendo motivo para disputas, divisão e abertura de
novas siglas religiosas: a forma de batismo, vestimentas, predestinação,
livre-arbítrio, soberania divina, escatologia, falar em línguas e os dons do
Espírito Santo, liturgia de culto, uso de instrumentos musicais, uso do rádio e
da televisão, ordenação ministerial, disputas de poder eclesiástico e financeiro.
A lista pode ser quase interminável.
Se o apóstolo Paulo ressurgisse em carne e osso agora e visse as
teologias sistemáticas que foram formuladas desde a era patrística até os nossos dias, usando como base suas epístolas,
principalmente a carta aos Romanos, ele provavelmente diria: “Puxa vida, como foram criativos, eu nunca havia
pensado em todas essas questões quando escrevi as epístolas!”
Se Jesus em vez de voltar em Glória em seu Segundo Advento, fosse reiniciar
seu ministério terreno em pleno Século XXI, acredito que muita gente ficaria
chocada com Ele, assim como ficaram a dois mil anos atrás. Não consigo vê-lo
abraçado com políticos inescrupulosos nos púlpitos, nem aprovando projetos
milionários de construção de templos suntuosos. Passaria longe de muitos Concílios
e Convenções ministeriais, abominando conchavos que em nada ficam a dever a política
partidária secular.
Nos evangelhos, vemos Jesus tocando, conversando, comendo, com as pessoas
que eram desprezadas, odiadas, de quem ninguém queria se aproximar seja por
temer pegar alguma doença, ou por não ser visto perto de alguém que era mal
falada. No entanto, ele toca os leprosos, se permite ser tocado e conversa com
prostitutas, adúlteras, come com publicanos e pecadores. Não compactuava com o
pecado das pessoas, mas as amava, as recebia e as devolvia a vida.
Em Atos dos Apóstolos, eu vejo uma igreja que era muito mais aberta,
inclusiva e de certa forma mais pós-moderna do nós hoje. Em uma mesma igreja,
tinha gente que guardava o sábado e a lei mosaica, enquanto outros não. Muitos
do mundo grego-romano, praticavam o homossexualismo, outros eram bígamos e
vieram a se tornar cristãos. Não vejo a igreja em Atos negando o batismo a
ninguém, a única exigência era que a pessoa confessasse que cria em Cristo. Segundo
Paulo, os pecados sexuais descritos em I Cor 6:9, não eram maiores nem menores
do que os outros listados lá, estavam no mesmo patamar. A igreja é que só
considera na prática pecado os que são de cunho sexual.
Os critérios se tornam mais exigentes quando era para se separar alguém
para ser líder na igreja (bispos e diáconos), aí Paulo diz que não dava para
ordenar um bispo bígamo, mas apenas quem era marido de uma só mulher, porque
ele seria modelo da comunidade.
Concluindo, diria que vivemos num mundo fragmentado e globalizado ao mesmo
tempo, com muita gente com as vidas completamente esfaceladas sejam fora ou
dentro do movimento evangélico. Portanto, a igreja que eu vejo em formação nos
evangelhos, no livro de Atos e nas epístolas, é uma comunidade que não era
perfeita, mas que atuava mais de forma terapêutica, acolhedora do que a gente
hoje.
"A igreja apostólica, no primeiro século de nossa era, foi um monumento de luz e grandeza entre as nações. Aqueles que assistiram à organização e florescimento da igreja dos primeiros dias, certamente julgaram definitivamente vitorioso o movimento que se erguia e agigantava. Em verdade, a Igreja de Cristo é um organismo que jamais será vencido. Entretanto, ela tem sido prejudicada e impedida de brilhar entre as nações, por causa da intervenção humana, que lhe modifica a estrutura e o funcionamento, substituindo as peças mestras, que Deus mesmo colocou, por outras que os homens imaginaram. Como resultado, o que se observa nos dias presentes é a falta de vida e a ausência de brilho nas igrejas. Todos são unânimes em reconhecer que a igreja atual não é o grande e poderoso organismo que projetou seu fulgor até os confins da terra.
ResponderExcluirTodos os que possuem alguma parcela de responsabilidade na obra de Deus estão convictos de que a igreja de nossos dias não é o luzeiro dos dias apostólicos, e que algo está faltando para o seu perfeito funcionamento. A igreja possui o mesmo nome de cristã, mas não tem a mesma vida; entretanto, a vida é mais necessária que o nome."
O texto acima faz parte de uma das grandes obras do saudoso Emílio Conde, intitulada "Igrejas sem Brilho", publicada pela CPAD. Neste Livro o escritor fala com toda a propriedade sobre a glória da Igreja do passado e os males que a acometeram ao longo dos séculos. São textos importantíssimos para a nossa reflexão que retratam fielmente a importância de nos mantermos firmes à Palavra e cônscios de nosso papel no mundo. Somos Igreja. Somos sal e luz. Devemos portanto, fazer jus a estas metáforas proferidas pelo Mestre!