terça-feira, 29 de novembro de 2016

Empresários ou pastores? O negócio lucrativo das megaigrejas nos Estados Unidos

Cada vez menos os norte-americanos se declaram cristãos. As comunidades católicas, protestantes e evangélicas perderam terreno diante de quem não se identifica com nenhuma religião. No entanto, nas megaigrejas este declínio parece ser apenas um truque estatístico, distante do fervor dos frequentadores destes templos liderados por pastores carismáticos.

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Mais de 40 mil pessoas assistem semanalmente às missas da Lakewood Church, em Houston, Texas (Amber Case - Flickr)
De acordo com a definição do Hartford Institute for Religion Reserch, “o termo megaigreja, em geral, se refere a qualquer congregação cristã protestante com uma frequência semanal de pelo menos 2 mil pessoas em seus serviços de culto.” O fenômeno teve início na década de 1970 e chegou ao seu auge nos últimos anos com a ascensão do protestantismo evangélico, a única tendência que resistiu em cifras absolutas à queda no número de religiosos entre os norte-americanos.

O crescimento espetacular destas congregações, muitas à margem das denominações tradicionais, despertou também dúvidas sobre o seu funcionamento. As críticas se dirigem especialmente à gestão autoritária de alguns líderes, cuja ambição pessoal se mistura com a missão das igrejas. Além disso, a gestão das finanças e os salários dos pregadores também levantaram suspeitas.

Empresários ou pastores?

Um pastor cristão de uma pequena congregação recebe um salário anual em torno de U$ 28 mil dólares, segundo a National Association of Church Business Administration. A diferença em relação a certos líderes espirituais de megaigrejas é impactante.

Joel Olsteen, que anos atrás aceitava U$ 200 mil por ano da Lakewood Church, agora vive das vendas multimilionárias de seus livros. Ele mora em uma mansão em Houston, no Texas, avaliada em U$ 10,5 milhões. Ed Young, da também texana Fellowship Church, recebe U$ 1 milhão, além de outros milhares em benefícios e a possibilidade de viajar em um jato privado de U$ 8,4 milhões. Outros acumulam centenas de milhares de dólares em salários, embora esta elite ainda represente uma minoria dentro das igrejas norte-americanas.

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O pastor Rick Warren é uma das exceções: ele doa mais de 90% de seus direitos autorais milionários a obras de caridade (USAID - Flickr)

Os milhões fluem dos cofres cheios das megaigrejas. Uma investigação dos editores do Online Christian Colleges revela que as 10 congregações mais frequentadas nos Estados Unidos gerenciam orçamentos que superam os U$ 35 milhões anuais. Em declarações para uma pesquisa do Hartford Institute, o administrador da antiga Chapel Hill Harvester Church a descreveu como um negócio que funciona com o nome de igreja. “Somos uma igreja que gera 10 milhões de dólares por ano e temos que operar como uma empresa,” explicou.

Estes ganhos fantásticos, que chegam através da venda de livros, material multimídia e doações, transformaram radicalmente a maneira de transmitir os sermões. As megaigrejas de maior sucesso contam com equipamento de áudio e vídeo de alta tecnologia, instalações confortáveis para os fiéis, grandes estacionamentos, ofertas adaptadas a diferentes idades, áreas recreativas, e uma localização privilegiada em áreas do subúrbio de cidades em plena expansão, como Los Angeles, Dallas, Atlanta, Houston, Phoenix e Seattle.

A essência personalista destas igrejas dificulta a prestação de contas dos líderes religiosos. Quando os pastores atuam como autoritários diretores executivos de uma empresa, com o poder que a liderança espiritual lhes outorga e seu papel na arrecadação, a linha entre a missão religiosa e a rentabilidade financeira se torna nebulosa.
As megaigrejas floresceram principalmente em comunidades brancas no sul e no oeste dos Estados Unidos (Sidnei da Silva - Flickr)

A igreja, como um shopping center

A pesquisa do Hartford Institute compara o conceito de megaigreja com a oferta de boutiques especializadas em um centro comercial. Esta variedade de opções permite que os fiéis encontrem uma resposta quase personalizada para suas necessidades espirituais, que vai muito mais além da satisfação que experimentam com os sermões. Além disso, os membros muito ativos podem fazer trabalho voluntário ou empregar-se a serviço da congregação. O resultado é uma comunidade dinâmica, que se adapta às expectativas da sua “clientela” e funciona sete dias por semana, como qualquer comércio.

Para reacender a chama religiosa e atrair novos clientes, as megaigrejas se apresentam como espaços não convencionais, onde os crentes encontrarão uma experiência diferente. Esta mensagem é reforçada pela decoração mais moderna, o mobiliário mais confortável, comodidades similares às de grandes centros comerciais e sermões que falam sobre os problemas do cotidianos. Algumas preferem se apresentar como herdeiras de congregações com raízes profundas no passado, mas renovadas, melhores e, sobretudo, maiores.

Todas compartilham uma identidade que surge da visão exclusiva de seus líderes espirituais, o chamado de Deus, a missão divina que receberam. Estas revelações particulares lhes permitem acentuar a distinção diante de igrejas concorrentes e seduzir quem está decepcionado com as denominações mais antigas. É uma espécie de disputa pelas almas que emprega técnicas de marketing usadas em qualquer outro tipo de negócio.

Esta corrida para multiplicar o número de fiéis atraiu as “ovelhas” de igrejas pequenas. O número de presentes nas missas “comuns” caiu dramaticamente na última década segundo o relatório Faith Communities Today de 2015. Cerca de 60% dos templos norte-americanos têm capacidade para menos de cem pessoas. Este público se deslocou para as megaigrejas, que não param de crescer.
Fonte: boriskro, via yahoo.

Meu Comentário: E no Brasil?

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