Todos
os irmãos devem tomar vivo interesse pelo MENSAGEIRO DA PAZ, A SEARA e as
LIÇÕES BÍBLICAS. Bem assim os demais livros publicados pela Casa [Publicadora
das Assembleias de Deus]. Se NÓS não tomarmos interesse, quem o fará? Todas as
igrejas deviam ter estoques de livros para vender a crentes e interessados.
Da venda da literatura depende o equilíbrio da CASA. Convém que se esclareça o
seguinte: Essa [sic] venda de literatura não é um meio de vida escolhido pelos
seus funcionários para passarem vida folgada. Há funcionários da Casa que se fossem
empregados noutra firma ganhariam o dobro. Estão, porém, na Casa, para servirem
à Causa do Senhor. A CASA PUBLICADORA EXISTE PARA O BEM DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS
NO BRASIL. Ai de nós, meus amados irmãos, se não tivéssemos a nossa Casa
Publicadora (GOMES, 1962:2 – trechos em caixa alta presentes no original)
É
desta forma que o Pr. Francisco Assis Gomes descreve a importância da CPAD (Casa
Publicadora das Assembleias de Deus) e de suas publicações para o campo assembleiano
na década de 1960, ainda que na época a editora enfrentasse graves problemas financeiros.
Hoje, embora não cumpra a função unificadora anteriormente desempenhada a CPAD
transformou-se na “menina dos olhos” da CGADB, haja vista a dimensão de seus números
seja no que diz respeito ao faturamento, quanto a sua proeminência no mercado editorial
evangélico.
O
site da Editora fala em 700 mil livros vendidos por ano, além de mais de 2,2
milhões de revistas de EBD comercializadas trimestralmente153.
A Editora é assim o braço comercial da igreja154.
A escolha dos nomes do conselho administrativo da CPAD nas reuniões da CGADB é
a mais concorrida dentre os demais conselhos da entidade. Atualmente, a Editora
publica uma enorme quantidade de títulos de autores evangélicos nacionais e estrangeiros,
destacando-se obras teológicas, bem como de outros produtos do mercado. Mantém também uma gravadora, a CPAD Music e um portal de notícias do universo evangélico, o CPAD News.
Cunha (2004) compara a estabilidade comercial da CPAD com a da
JUERP, da Igreja Batista. A última sofreu com grande crise econômica na década
de 1990, enquanto a CPAD manteve-se firme, tendo em vista o suporte da maior
denominação pentecostal do país. 153
Visitado em 19.03.2014.
3% de todo o faturamento da CPAD é transferido automaticamente
para a CGADB. Visitado em 19.03.2014.
A
Editora foi criada em 1940, a princípio muito mais como resultado de uma contingência
política nacional do que como empreendimento planejado pela liderança. Na época,
em pleno Estado Novo, uma das medidas do governo federal foi a criação do DIP (Departamento
de imprensa e Propaganda), responsável pela supervisão do conteúdo veiculado
pelos meios de comunicação no país. O órgão proibiu a circulação de jornais que
não fossem devidamente registrados, com isso, as ADs viram-se obrigada a
oficializar a CPAD, com intuito de que fosse a responsável jurídica pelo Mensageiro da Paz.
De
início os missionários suecos e estadunidenses foram os que mais se destacaram como
entusiastas da Editora, sob o argumento de que em outros países as igrejas
possuíam Casas Publicadoras próprias. No entanto, brasileiros como Paulo Leivas
Macalão, por exemplo, opuseram-se à criação da editora em um primeiro momento.
É provável que na década de 1940 os líderes brasileiros não estivessem atentos
à função que a editora poderia cumprir como divulgadora da ideologia oficial da
denominação, ao capital simbólico que poderia creditar às ADs perante as demais
igrejas evangélicas do país e principalmente ao lucro que poderia gerar nas
décadas seguintes, tanto é que, posteriormente os pastores brasileiros
tornaram-se entusiastas da ideia. (DANIEL, 2004).
Segundo
Gomes (2013) o apoio dado pelos missionários norte-americanos para a
estruturação da Casa, inclusive intermediando a captação de recursos no
exterior, foi fundamental para que a desconfiança que os brasileiros e suecos
nutriam contra eles fosse superada, o que lhes abriria espaço para futuramente
fundarem os primeiros seminários teológicos das ADs brasileiras. Assim, a CPAD
contribui para uma mudança nas representações sociais da época a respeito do
ensino teológico:
A
criação da CPAD por parte das lideranças da AD teve desdobramentos no que tange
à educação teológica. O número crescente de publicações possibilitou o acesso a
literaturas e novas formas de conhecimentos, até então desconhecidas. Naturalmente,
os pastores foram tendo contato com subsídios adicionais aos textos bíblicos.
Aos poucos, a visão restrita de que bastava somente a Bíblia com a ajuda do
Espírito para se pregar um bom sermão, foi cedendo espaço a uma prática de consulta
a outros textos de conteúdo teológico. (GOMES, 2013:85)
A
CPAD também garantiu à AD da década de 1940 o espaço para surgimento de um novo
tipo de liderança: os líderes intelectuais da igreja, pessoas que, embora não
estivessem a frente
de grandes Ministérios passaram a ser vistos como referências na área da
literatura, mesmo em uma época em que a denominação compunha-se principalmente
de pessoas com pouca
ou nenhuma escolaridade. Mesmo que os livros que fossem produzidos pela editora dali
para frente não fossem lidos pela grande massa de membros das igrejas (não
tendo, por exemplo,
números de tiragem iguais aos do Mensageiro da Paz ou das Revistas de EBD), o fato
de existir alguém de “notório conhecimento” escrevendo em nome da denominação
era visto
como um fator importante para agregar capital cultural à denominação.
Em
1946, ano escolhido para o início de nosso recorte temporal, a CGADB tornou-se pessoa
jurídica. Na reunião daquele ano, realizada em Recife e presidida por Samuel
Nyström (que na ocasião teve Cícero Canuto de Lima como vice-presidente), a
proposta de institucionalizar juridicamente a entidade nasceu a partir de uma
preocupação com o desenvolvimento econômico da CPAD, a nascente Casa
Publicadora da igreja.
De
acordo com o registro oficial, Emílio Conde, então responsável pela editora
acreditava que torná-la patrimônio da AD poderia facilitar a arrecadação de
recursos para a aquisição de uma sede e tipografia próprias (DANIEL, 2004).
Neste caso, registrá-la em nome da AD de São Cristóvão, por exemplo, em cujas
instalações funcionava, poderia criar uma indisposição dos demais Ministérios
com a entidade. Assim, a solução seria ligá-la a uma organização maior, com
abrangência nacional. Desta forma, a CGADB foi institucionalizada para abrigar
a CPAD.
Entre
os brasileiros, o que mais se destacou foi Emílio Conde. De perfil diferenciado
em relação aos demais nomes de destaque da igreja no período, Conde nunca se
casou e também nunca aceitou o ministério pastoral. É apresentado nas
publicações da igreja como fluente no inglês e no francês e autodidata em
teologia (ARAÚJO, 2007). Conde tornou-se um porta-voz intelectual das ADs
(embora não fosse um defensor dos seminários teológicos), chegando a ser
chamado no Mensageiro da Paz de “um
dos baluartes inexpugnáveis da pena pentecostal em nossa terra”. (QUINTILIANO,
1963:8).
Ao
todo, entre as décadas de 1930 e 1960, Conde publicou dez livros pela CPAD, alguns
dos quais procuravam legitimar o Movimento Pentecostal diante de outras
confissões evangélicas, como é possível observar nos títulos de duas de suas
obras: “Pentecostes para todos” e “O testemunho dos séculos”
(sobre a história do pentecostalismo mundial). Neste momento as ADs se
preocupavam com sua legitimação no campo religioso brasileiro, algo com que as
igrejas protestantes se ativeram na década de 1930 (WATANABE, 2011). Conde teve
uma um papel central neste processo.
Além
de Conde, os que mais se destacaram na área da literatura foram os missionários
estadunidenses, principalmente Orlando Boyer, autor de diversos livros de
conteúdo teológico. Boyer exerceu uma atividade até então não pensada no contexto
brasileiro das ADs:
Meu irmão – disse tio João
[o missionário João Peter Kolenda, a Orlando Boyer] – sua efetiva presença aqui como um missionário
pioneiro é, comparativamente falando, uma perda de tempo. Indiscutivelmente, o
irmão tem um dom especial para escrever. Sabe que o Senhor me tem ajudado a
reestruturar a nossa Casa Publicadora das Assembleias de Deus, mas precisamos
de escritores para nossa literatura da Escola Dominical, para livros, etc.
[...] Pouco tempo mais e o irmão Boyer transferiu-se para o Rio onde passou o
resto da vida como escritor. (BRENDA, 1984:110)
Até
alguns anos antes o espírito militante e escatológico assembleiano não
permitiria que se pensasse em um missionário dedicado em tempo integral à
escrita, já que a necessidade de evangelização nacional superaria qualquer
imperativo de um preparo intelectual sistemático.
Neste
sentido, os norte-americanos, por intermédio de sua atuação na CPAD, permitiram
a abertura das ADs para uma nova postura diante do intelectualismo teológico.
Além
disso, até a década de 1980, mesmo na época dos intensos debates convencionais
em meio a todas as controvérsias quanto à expansão dos Ministérios, o reconhecimento
da importância da CPAD parece sempre ser uma unanimidade, o que não a isentou
de transformar-se em mais um dos elementos em disputa pelos Ministérios, como destacou
um dos editores da Casa ao conversar com Freston (1994:92): “A CPAD [...] é um cavalo de sela muito bem equipado
que todo mundo quer montar em cima”. De fato, os altos
investimentos necessários para a criação de uma editora não levariam os
Ministérios da época a se aventurarem na criação de uma editora rival.
O
surgimento de outra editora assembleiana se deu apenas após a cisão de 1989.
Com o desligamento da CGADB, o Ministério de Madureira criou em 1992 uma casa
publicadora própria,
a Editora Betel.
No entanto, a Editora Betel nunca
conseguiu chegar próxima do gigantismo da CPAD no mercado editorial evangélico,
o que pode ser observado ao comparar-se o tamanho do catálogo de produtos das
duas editoras. Em 1999 Silas Malafaia criou a Editora
Central Gospel, responsável por publicar os livros de sua
autoria, bem como uma
Revista de EBD própria.
Fonte: “Onde a luta se travar”: a expansão das Assembleias de Deus no Brasil urbano (1946-1980) ”, Maxwell Fajardo, Editora Prismas, 2017.
Comentário: Os grifos em negritos são propositalmente meus. A história é antiga gente!
Salvo engano,a igreja do RECIFE(PASTOR AILTON JOSÉ) tbm tem uma editora e uma gravadora se eu ñ estiver engando se chama BEREIA,se tiver errado podem me corrigir.
ResponderExcluirAnônimo,você está certo a AD de Recife - Pr. Ailton José, criaram a editora Bereia e se não me engano eles produzem até revistas de EBD.
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