A doutrina da Predestinação na Igreja Assembleia de Deus.
Na Lição 6 da atual revista de adultos da Escola Dominical (CPAD), está sendo abordado
um pertinente tema: A abrangência universal da salvação, com
comentários do Pr. Claiton Pommerening. Em virtude de estarmos experimentando
uma descoberta e um crescimento do interesse pela Teologia Arminiana Clássica
em nossas igrejas pentecostais brasileiras, gostaria de trazer um
esclarecimento sobre o tema PREDESTINAÇÃO, visto que o assunto foi citado de
passagem no quadro “Interagindo com o Professor” (página 41 da Lição do
Professor, CPAD) de modo não muito claro, deixando algumas brechas para
mal-entendidos. Neste quadro da Lição está dito assim: “Não podemos
concordar com a predestinação…”, e aí não se faz qualquer distinção
teológica entre a predestinação defendida pelo Calvinismo e a predestinação
defendida pelo Arminianismo clássico, que é a linha soteriológica seguida pelas
Assembleias de Deus no Brasil.
Faltou a Lição definir que predestinação é essa com a qual não podemos
concordar (embora leitores mais inteirados do assunto logo percebam a que
predestinação se está referindo), e ao mesmo tempo apresentar aquela
predestinação com a qual devemos concordar por ser bíblica. Pois, sim, a Bíblia
fala de predestinação! Apenas não podemos concordar com a predestinação
INCONDICIONAL (defendida pelo Calvinismo), mas podemos e devemos concordar
com a predestinação CONDICIONAL (defendida pelo Arminianismo). Explico
a seguir.
1 – PREDESTINAÇÃO INCONDICIONAL
Agostinho, bispo de Hipona (na África), foi quem introduziu de modo
inédito na Igreja, entre os séculos IV e V, a teoria da predestinação
incondicional, segundo a qual alguns homens já estão predestinados à vida
eterna, antes mesmo de qualquer previsão de fé ou perseverança. Segundo aquele
bispo, alguns pecadores receberão fé e perseverarão nela porque estão
predestinados para isso. Deus predeterminou que eles tenham fé e perseverança.
Daí vêm outros conceitos como o de graça irresistível – também
introduzido de modo inédito por Agostinho – e perseverança dos santos (embora
aqui, Agostinho mesmo defendia a possibilidade de alguns salvos virem a
declinar da fé, não estando eles contados entre aqueles que Deus predestinou
incondicional e irresistivelmente para o gozo eterno. Ou seja, para Agostinho,
nem a todos os salvos Deus concede a graça da Perseverança, mas apenas aos
eleitos).
O bispo de Hipona, que é um dos mais eminentes teólogos cristãos do
Ocidente, foi um dos antigos Pais latinos da Igreja, de vasta cultura e
conhecimento, mas que, todavia, não dominava o grego, língua do Novo Testamento
(1). Ele, que em sua juventude seguiu os passos dos Pais que lhe antecederam,
foi longe demais em sua obsessiva luta contra o monge bretão, Pelágio, que
negava o pecado original e afirmava erradamente, dentre outras coisas, “que
o homem poderia sim, cumprir a Lei de Deus por sua própria força e capacidade;
mas ainda com maior facilidade por meio da graça de Cristo” (2).
Agostinho, tentando superar Pelágio e demovê-lo de seu erro ao atribuir ao
homem força inerente para cumprir a Lei de Deus, acabou caindo em outro extremo
tão errado quanto o de Pelágio, senão pior! Campenhausen, um dos mais
importantes historiadores do século passado, comenta: “Essa preocupação
[de Agostinho] levou-o à afirmação da completa predestinação divina, em outras
palavras, da previsibilidade de Deus que como tal deve ser ao mesmo tempo uma
pré-determinação e uma pré-decisão” (3). Nessa sua luta contra Pelágio
e em sua defesa da inédita teoria da predestinação incondicional e
individual, Agostinho não tinha razão, mas tinha persuasão. Logo, tinha
razão. Impunha sua própria razão pela força do discurso! Campenhausen é
certeiro como uma flecha: “Embora essa atitude o tenha tornado
teologicamente invencível, fez também com que, ao mesmo tempo, fosse levado
para muito longe dos dados imediatos da Bíblia, e até mesmo dos ensinos de
Paulo, o que prendeu-o a posições difíceis de defender. Na verdade, seus
oponentes o haviam levado para mais longe ainda: todavia, em seu próprio modo
de pensar, achava que não havia se colocado à frente deles ainda o suficiente,
e isso pode explicar muitas das fraquezas e do rigor da sua posição a que
finalmente chegou. Agostinho não desejava ser um inovador, porém, não havia até
então encontrado um precursor nas reivindicações pelas quais lutava” (4).
O teólogo anglicanob John Kelly, ao tratar sobre aqueles que recebem a
graça da salvação na perspectiva de Agostinho, comenta: “Agostinho crê
que Deus fez isso desde a eternidade. O número dos eleitos”, segundo o
bispo de Hipona, “está rigorosamente limitado, não sendo maior nem menor do
que é necessário para substituir os anjos caídos. Desse modo, ele
precisa distorcer [!] o texto que diz que ‘Deus deseja
que todos os homens sejam salvos’ (1Tm 2.4), interpretando que
Ele deseja a salvação de todos os eleitos, entre os quais estão representados
homens de todas as raças e tipos” (5). É de Agostinho que vem a
interpretação calvinista comum – embora não unânime (6) – de que Deus não quer
exatamente que todos os homens sejam salvos, mas sim que todos os tipos de
homens sejam salvos. Nas palavras do teólogo J. Kelly, isto é “distorcer o
texto”. Mesmo o pregador calvinista Charles Spurgeon, estava de acordo de que
esta interpretação calvinista de “tipos de homens” é uma “explosão gramatical”,
como ele disse em seu sermão Salvation by knowing th truth(1880).
O teólogo alemão Gustav Wiggers, considerando o ineditismo da teoria da
predestinação incondicional de Agostinho, chega a fazer a seguinte
declaração: “Quanto à doutrina da Igreja, até onde ela foi defendida
até agora pelos símbolos, Agostinho poderia muito mais que Pelágio, ser chamado
de herege. A doutrina agostiniana em toda a sua extensão, pelo menos na sua
teoria da predestinação [incondicional], nunca foi expressamente pronunciada
ortodoxa, em qualquer sínodo, inclusive no efésio [Primeiro Concílio Efésio,
ano 431]” (7).
De modo geral, o entendimento de Agostinho sobre predestinação é aceito
pelos calvinistas, desde o próprio Calvino, que, dentre muitas citações que
poderíamos fazer aqui, declarou as seguintes palavras: “Chamamos
PREDESTINAÇÃO o eterno decreto de Deus pelo qual houve por bem DETERMINAR O QUE
ACERCA DE CADA HOMEM QUIS QUE ACONTECESSE. Pois ele não quis criar a todos em
igual condição; ao contrário, preordenou a uns a vida eterna; a outros, a
condenação eterna. Portanto, como cada um FOI CRIADO PARA um ou outro
desses dois destinos, assim dizemos que um foi predestinado ou para a vida, ou
PARA A MORTE” (8). Aí está declarada a dupla predestinação de
Calvino: os que foram predestinados para vida eterna e os que foram
predestinados para morte eterna. E a prova de que Calvino crê que esta
predestinação é incondicional – ou seja, independe de qualquer coisa que o
homem pense, diga ou faça – está em sua declaração: “os réprobos SÃO
SUSCITADOS PARA ESTE FIM, ou, seja, para que através deles a glória de Deus
resplandeça. (…) Portanto, se não podemos assinalar outra razão por que Deus
usa de misericórdia para com os seus, a não ser porque assim lhe apraz,
tampouco disporemos de outra razão por que rejeita e exclui aos demais, senão
pelo uso deste mesmo beneplácito” (9).
O teólogo calvinista R.C. Sproul, um dos maiores representantes do
calvinismo em nosso tempo, assim resume a posição reformada calvinista sobre
predestinação: “a visão reformada assevera que a decisão final para
salvação está com Deus e não com o homem. Ensina que desde a eternidade Deus
escolheu intervir nas vidas de algumas pessoas e trazê-las à fé salvadora, e
escolheu não fazer isso para as outras pessoas. Desde toda a eternidade, sem
nenhuma visão prévia de nosso comportamento humano, Deus escolheu alguns para a
eleição e outros para a reprovação (…) Na visão reformada da predestinação, a
escolha de Deus precede a escolha do homem”. (10)
Portanto, que fique claro: é com esta predestinação calvinista, que tem
seu precedente teológico em Agostinho de Hipona, que não foi conhecido,
defendido ou estabelecido em qualquer Sínodo ou Concílio da Igreja em seus
primeiros séculos… é contra esta teoria de predestinação individual e
incondicional que nós erguemos nossa voz de protesto e rejeitamos
peremptoriamente! Cremos que a salvação é uma dádiva da graça, mas que deve ser
recebida pela fé, sem a qual “é impossível agradar a Deus” (Hb 11.6), e que
somente perseverando nessa fé é que o salvo terá garantida para si a vida
eterna, pois, como disse Jesus, “É perseverando que vocês obterão a vida” (Lc
21.19), e que sem santificação “ninguém verá a Deus” (Hb 12.14), sendo possível
ao que foi santificado com o sangue da nova aliança, vir a pisar neste sangue e
profaná-lo (Hb 10.29), e o justo pode vir a recuar da fé e não encontrar mais o
prazer de Deus (Hb 10.38), e que Deus quer que todos sejam salvos (1Tm 2.4) e
que nenhum se perca (2Pe 3.9) e que Ele não tem prazer na morte do ímpio, antes
deseja que o ímpio se arrependa (Ez 18.23; 33.11), e que há sim uma condição a
ser cumprida pelo homem para que ele possa ser contado entre os escolhidos de
Deus para salvação (Jo 3.16; At 16.31). Por esta razão, não podemos concordar
com a predestinação de Agostinho ou de Calvino.
2 – PREDESTINAÇÃO CONDICIONAL
Jacó Armínio, teólogo holandês do século XVI, em sua famosa Declaração
de Sentimentos, depois de apresentar uma longa refutação à predestinação
defendida pelos calvinistas, apresenta seus próprios apontamentos sobre a
doutrina da predestinação, e o faz em acordo com os antigos Pais da Igreja,
anteriores a Agostinho, tanto Pais latinos quanto Pais gregos. É conforme estes
postulados de Jacó Armínio que nós cremos, porque acreditamos estarem não só em
conformidade com o ensino geral dos antigos Pais, mas em subordinação a própria
Bíblia sagrada, que é nossa regra de fé e prática.
Armínio, depois de dizer que Jesus Cristo estabelecido como Salvador,
Mediador e Rei é o primeiro decreto de Deus concernente à nossa salvação, diz
que “o segundo decreto preciso e absoluto de Deus é aquele em que Ele
decretou receber aqueles que se arrependerem em Cristo, e, em Cristo, por causa dEle e por meio dEle,
para efetivar a salvação de tais penitentes e crentes que perseverarem até o
fim, mas deixar em pecado, e sob a ira, todas as pessoas impenitentes e
incrédulas, condenando-as como alheios a Cristo” (11). Mais à frente,
Armínio expõe que este decreto de salvação condicionado ao arrependimento, tem
como embasamento a presciência de Deus, ou seja, Deus já previu na
eternidade quem e quantos exatamente – sua onisciência é perfeita! – aceitariam
a salvação pela fé e nela perseverariam até o fim, tanto quanto os que
persistiriam na incredulidade: “Deus decretou salvar e condenar certas
pessoas em particular. Este decreto tem o seu embasamento na presciência de
Deus, pela qual Ele sabe, desde toda a eternidade, que tais indivíduos, por
meio de sua graça preventiva, creriam, e por sua graça subsequente perseveraria
(…) e, do mesmo modo, pela sua presciência, Ele conhecia aqueles que não
creriam, nem perseverariam”(12).
Perceba que o ensino de Armínio difere do de Agostinho (que foi adotado
por Calvino no século XVI): para Agostinho, a predestinação é incondicional –
Deus predestina alguns apenas para serem salvos e a estes dá irresistivelmente
a graça da salvação e, a eles somente, dá a dádiva da perseverança; para
Armínio, a predestinação é condicional – Deus predestina o que crê para
salvação e aos que perseverarem em fé nesta salvação recebida Ele dará
necessariamente a vida eterna, como prometeu e decretou. Na verdade, Armínio
apenas está resgatando o antigo ensino dos Pais da igreja, conforme os teólogos
metodistas do século 19, James Strong e John McClintock, bem descreveram:
“A doutrina unânime e inquestionável da Igreja sobre este ponto [Predestinação]
por mais de quatrocentos anos foi, até onde se desenvolveu em distinção,
exatamente idêntica àquela que deve sua forma científica e nome a Armínio. (…)
‘Em relação à predestinação’, escreveu Wiggers [1840], ‘os Pais antes de
Agostinho diferem inteiramente dele… Eles fundaram a predestinação sobre a
presciência’ [de Deus] (…) Justino Martir, Irineu, Clemente de Alexandria,
Orígenes, Crisóstomo – em declarações claras e decisivas – deram sua adesão à
teoria da predestinação condicional, rejeitando o oposto como falsa, perigosa e
totalmente subversiva da glória de Deus (…) durante mais de quatrocentos anos
não se ouviu uma única voz, seja na Igreja Oriental ou Ocidental, na advocacia
da predestinação divina incondicional” (13).
Como prova desta crença comum na predestinação condicional baseada na
presciência de Deus entre os Pais da Igreja, vejamos como exemplo o que disse
Irineu de Lião, ainda no segundo século:
“E Deus que conhece todas as coisas antecipadamente preparou
para uns e outros morada conveniente: aos que procuram a luz da
incorruptibilidade e tendem a ela, dá com bondade a luz que desejam; aos
que a desprezam e se afastam fugindo dela, que de certa maneira cegam-se a si
mesmos, preparou obscuridade, como convém, e aos que se subtraem à
submissão a Deus, castigo apropriado. A submissão à Deus é o descanso eterno e
os que fogem da luz terão lugar digno da sua fuga e os que fogem do descanso
eterno terão morada apropriada à sua fuga. Todos os bens se encontram em Deus e
os que fogem de Deus por sua própria vontade privam-se de todos os bens e,
privados de todos os bens que se encontram em Deus, justamente cairão sob o
justo juízo de Deus” (14)
Apesar de Irineu, um dos Pais gregos, não usar neste trecho a expressão
“predestinação condicional”, é justamente o conceito dela que subjaz em sua
fala: Deus concedendo um futuro a um e a outro conforme a resposta do pecador à
revelação divina.
Aos assembleianos é preciso ainda dizer que a própria Declaração
de Fé das Assembleias de Deus rejeita a predestinação incondicional e
reitera a crença na predestinação condicional, nos seguintes termos:
“O Soberano Deus não predestinou incondicionalmente pessoa alguma à
condenação eterna, mas, sim, almeja que todos, arrependendo-se, convertam-se de
seus maus caminhos (…). A predestinação genuinamente bíblica diz respeito
apenas à salvação, sendo condicionada à fé em Cristo Jesus, estando relacionada
à presciência de Deus. Portanto a predestinação dos salvos é precedida pelo
conhecimento prévio de Deus daqueles que, diante do chamado do Evangelho,
recebem Cristo como o seu Salvador pessoal e perseveram até o fim” (15).
Talvez a única distinção entre o posicionamento agora oficial
assembleiano e o posicionamento do teólogo Jacó Armínio, com quais postulados a
Assembleia de Deus está de acordo, é que enquanto o teólogo holandês não via
dificuldade em admitir a predestinação para a condenação, mas condicionada à rejeição
deliberada e persistente, a Declaração de Fé das Assembleias de Deus parece
evitar argumentar assim, preferindo defender apenas a predestinação para a vida
eterna. Todavia, se atentarmos para as palavras de Jesus em João 3, não teremos
dificuldade alguma em admitir que há predestinação para condenação, tanto
quanto para salvação, mas sempre condicionalmente (que isso fique
claro!): “(…) para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida
eterna (…) Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está
condenado, por não crer no nome do Filho Unigênito de Deus” (v. 18) – veja
que os destinos tanto do que vier a crer, quanto do que não vier a crer já
estão previamente estabelecidos: vida eterna para aquele, condenação para este.
É o que Paulo diz em Romanos: “E se Deus, querendo mostrar a sua ira e tornar
conhecido o seu poder, suportou com grande paciência os vasos de sua ira,
preparados para destruição” (Rm 9.22).
O vaso da ira, suportado por Deus e preparado para destruição é aquele
que “despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não
reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento” (Rm 2.4), e que
“por causa da sua teimosia e do seu coração obstinado, está acumulando ira
contra si mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo
julgamento” (Rm 2.5). Há uma condição para predestinação da salvação: CRER,
consentindo em seu coração com a mensagem do Evangelho e o chamado da graça;
como há uma condição para predestinação da condenação: NÃO CRER, resistindo aos
apelos benevolentes e desprezando as oportunidades do Deus paciente. Armínio é
contundente, e concordo com sua afirmação:“os homens iníquos que
perseverarem em seus pecados necessariamente perecerão. Pois Deus, por meio de
uma força irresistível, os lançará nas profundezas do inferno” (16).
Os que possuem uma Bíblia de Estudo Pentecostal poderão consultar as
páginas 1808 e 1809 onde há um subsídio sobre ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO. Entre
outras coisas, está dito lá que: “A predestinação abrange o que acontecerá
ao povo de Deus (todos os crentes genuínos em Cristo)”; e ainda: “A
predestinação, assim como a eleição, refere-se ao corpo coletivo de Cristo
(i.e., a verdadeira igreja), e abrange indivíduos somente quando inclusos neste
corpo mediante a fé viva em Jesus Cristo”. Aqui fica demonstrado o caráter
coletivo da predestinação dos salvos: a Igreja predestinada. Entretanto, esta
predestinação coletiva não exclui a predestinação individual, “quando inclusos
neste corpo mediante a fé viva em Jesus”.
O teólogo Roger Olson, coloca como mito a afirmação de que “o
Arminianismo não acredita na predestinação”. No capítulo 8 de seu livro Teologia
Arminiana – mitos e realidades, Olson esclarece: “A Predestinação é
um conceito bíblico; o Arminianismo clássico a interpreta de maneira diferente
dos calvinistas, mas sem negá-la. É o decreto soberano de Deus em eleger os
crentes em Jesus Cristo e inclui a presciência de Deus da fé destes crentes” (17).
Dois textos bíblicos são singulares na defesa da predestinação condicional
e embasada na presciência divina. Nas palavras de Paulo: “Pois aqueles que de
antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29).
Perceba: “aqueles que de antemão [Deus] conheceu, também os predestinou…”. Esse
conhecimento prévio engloba o conhecimento da fé e da perseverança. Nas
palavras de Pedro: “escolhidos de acordo com a pré-conhecimento de Deus Pai,
pela obra santificadora do Espírito, para a obediência a Jesus Cristo e a
aspersão do seu sangue” (1Pe 1.2). Perceba: “escolhidos de acordo com o
pré-conhecimento de Deus Pai…”, pré-conhecimento este que leva em conta a fé
aceita e exercitada livremente pelo pecador, mediante ação da graça do Espírito
de Deus. Se a fé prevista não é levada em conta para predestinação, então não é
verdade que “Deus amou o mundo”, pois nesse caso, Deus teria amado apenas os
predestinados. E também a verdade não seria que “todo aquele que nele crê tenha
vida eterna”, mas que “apenas aquele que foi predestinado para vida eterna,
creia nele”.
Portanto, que fique claro: nós cremos sim em predestinação. Mas a que é
condicional à fé e que é estabelecida segundo a presciência de Deus das
escolhas que fazemos em face da graça que Ele nos dirige. Não é o homem que tem
a última palavra em sua eternidade – como nos acusam os calvinistas. É Deus
quem já deu a primeira, e dará a mesma palavra como última aos homens: “vida
eterna ao que creu! E morte eterna ao infiel!”. O homem só seria realmente dono
de seu destino, se ele pudesse alterar os desígnios soberanos de Deus, e
alcançar a vida eterna a despeito de sua permanência na incredulidade, ou se
ele pudesse ser condenado ao inferno a despeito de sua permanência na fé. Como
é impossível que Deus minta, e ele já estabeleceu o fim previamente para os que
creem e para os que não creem, então, assim será: “Quem crê nele não é
condenado; mas quem não crê já está condenado” (Jo 3.18). Agora, quem vai crer
ou deixar de crer, cabe ao homem decidir (não sozinho, pois para isso terá o
auxílio indispensável da graça de Deus), como coube ao jovem rico
decidir seguir a Cristo ou continuar preso às riquezas (Mc 10.21.22), e como
coube a Israel se deixar ser acolhido por Cristo ou fugir de suas “asas de
salvação” (Mt 23.37). As mãos de Deus não estão encolhidas para salvação de
ninguém! (Is 59.1). Todavia, a salvação é uma dádiva da graça que deve ser
recebida livremente (e só é realmente livre, porque há a possibilidade de ser
recusada), não uma ação da força onipotente de Deus, contra a qual o homem não
possa resistir.
Assim creem os pentecostais clássicos, assim creram os wesleyanos, assim
creram os Remonstrantes, assim creram muitos pós-reformadores, reformadores e
pré-reformadores, assim creram os Pais da Igreja, assim ensinaram os apóstolos
de Cristo e profetas do Senhor. Assim creio eu!
(1) Hans von Campenhausen. Os
Pais da Igreja, 3. ed., CPAD, p. 369
(2) Jacó Armínio. As Obras de Armínio, vol. 1, CPAD, p. 235.
(3) Hans von Campenhausen. Op. cit., p. 384
(4) Hans von Campenhausen. Op. cit.
(5) J. N. D. Kelly. Doutrinas centrais da fé cristã, Vida Nova, p. 279. Grifo meu
(6) Eu disse “não unânime” porque há muito calvinistas que defendem que Deus de fato e verdade quer a salvação de todos os homens, não apenas de todos os “tipos de homens”. São os chamados “calvinistas de quatro pontos”, que creem que a redenção de Cristo foi feita por todos os homens, que a expiação é irrestritamente oferecida a todos os homens, mas especialmente aplicada aos eleitos, os que foram predestinados para recebê-la. Nomes como R. T. Kendall, F.F. Bruce, Millard Erickson, Lewis S. Chafer, Augustus H. Strong, dentre outros calvinistas, defendem a expiação ilimitada. Há inclusive uma antiga e longa discussão se o próprio João Calvino não teria também defendido a expiação ilimitada (ele diz: “É a vontade de Deus que busquemos a salvação de todos os homens, sem exceção, porque Cristo sofreu pelos pecados do mundo inteiro” – Gálatas, FIEL, p. 145). De minha parte, julgo por demais confuso que tais calvinistas creiam no modus operandi da graça como sendo irresistível (um dos pilares da TULIP calvinista, os cinco pontos essenciais de sua soteriologia) e ainda assim defendam uma expiação ilimitada, ou uma oferta generosa e sincera de salvação a todos os pecadores sem exceção. Pois bastaria questionarmos: se Deus realmente quer com sinceridade salvar a todos os pecadores, e se Cristo de fato morreu por todos eles, sendo a sua graça irresistível, como isso não desembocaria necessariamente na salvação de todos os pecadores? A combinação entre graça irresistível e expiação ilimitada é justamente o que defendem os universalistas, para os quais, todos os homens serão salvos irresistivelmente no final!
(2) Jacó Armínio. As Obras de Armínio, vol. 1, CPAD, p. 235.
(3) Hans von Campenhausen. Op. cit., p. 384
(4) Hans von Campenhausen. Op. cit.
(5) J. N. D. Kelly. Doutrinas centrais da fé cristã, Vida Nova, p. 279. Grifo meu
(6) Eu disse “não unânime” porque há muito calvinistas que defendem que Deus de fato e verdade quer a salvação de todos os homens, não apenas de todos os “tipos de homens”. São os chamados “calvinistas de quatro pontos”, que creem que a redenção de Cristo foi feita por todos os homens, que a expiação é irrestritamente oferecida a todos os homens, mas especialmente aplicada aos eleitos, os que foram predestinados para recebê-la. Nomes como R. T. Kendall, F.F. Bruce, Millard Erickson, Lewis S. Chafer, Augustus H. Strong, dentre outros calvinistas, defendem a expiação ilimitada. Há inclusive uma antiga e longa discussão se o próprio João Calvino não teria também defendido a expiação ilimitada (ele diz: “É a vontade de Deus que busquemos a salvação de todos os homens, sem exceção, porque Cristo sofreu pelos pecados do mundo inteiro” – Gálatas, FIEL, p. 145). De minha parte, julgo por demais confuso que tais calvinistas creiam no modus operandi da graça como sendo irresistível (um dos pilares da TULIP calvinista, os cinco pontos essenciais de sua soteriologia) e ainda assim defendam uma expiação ilimitada, ou uma oferta generosa e sincera de salvação a todos os pecadores sem exceção. Pois bastaria questionarmos: se Deus realmente quer com sinceridade salvar a todos os pecadores, e se Cristo de fato morreu por todos eles, sendo a sua graça irresistível, como isso não desembocaria necessariamente na salvação de todos os pecadores? A combinação entre graça irresistível e expiação ilimitada é justamente o que defendem os universalistas, para os quais, todos os homens serão salvos irresistivelmente no final!
(7) Gustav Wiggers, An historical presentation of Augustine and
Pelagianism, cap. 23.
(8) João Calvino. Institutas da Religião Cristã, vol. 3, cap. 21, seção 5. Os destaques são meus.
(9) João Calvino. Op. cit., seção 11
(10) R.C. Sproul. Eleitos de Deus, 2. ed., Cultura Cristã, p. 101
(11) Jacó Armínio. Op. cit., pp. 226,7
(12) Jacó Armínio. Op. cit., p. 227
(13) James Strong & John McClintock. The Cyclopedia of Biblical, Theological, and Ecclesiastical Literature, Haper and Brothers, NY: 1880. Verbete PREDESTINATION
(14) Irineu de Lião. Contra as heresias, Paulus, p. 510
(15) Declaração de Fé das Assembleias de Deus, CPAD, p. 110
(16) Jacó Armínio. Op. cit., p. 266
(17) Roger Olson. Teologia Arminiana – mitos e realidades, Reflexão, p. 233
(8) João Calvino. Institutas da Religião Cristã, vol. 3, cap. 21, seção 5. Os destaques são meus.
(9) João Calvino. Op. cit., seção 11
(10) R.C. Sproul. Eleitos de Deus, 2. ed., Cultura Cristã, p. 101
(11) Jacó Armínio. Op. cit., pp. 226,7
(12) Jacó Armínio. Op. cit., p. 227
(13) James Strong & John McClintock. The Cyclopedia of Biblical, Theological, and Ecclesiastical Literature, Haper and Brothers, NY: 1880. Verbete PREDESTINATION
(14) Irineu de Lião. Contra as heresias, Paulus, p. 510
(15) Declaração de Fé das Assembleias de Deus, CPAD, p. 110
(16) Jacó Armínio. Op. cit., p. 266
(17) Roger Olson. Teologia Arminiana – mitos e realidades, Reflexão, p. 233
Fonte: Tiago Rosas. https://artigos.gospelprime.com.br/
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