quarta-feira, 3 de outubro de 2018

A igreja e o poder político

A igreja em nosso país tem a tendência de desenvolver uma relação ambígua com o poder político. O poder constituído não sabe existir como tal ao lado de qualquer outra entidade ou realidade que, crescendo, possa constituir para ele ameça. 

Quando isso acontece, o Estado lutar contra ela, ou então a absorve. No nosso caso, aqui no Brasil, historicamente o poder constituído não tentou nos enfrentar. O que ele fez foi assimilar-nos, absorver-nos, e nós num certo sentido, permitimos que isso acontecesse. 

Quando eles sentiram que tínhamos uma teologia que nos ensinara uma atitude de quieta subserviência a qualquer tipo de poder constituído, uma compreensão do mundo que nos fazia viver em guetos fechados e relativamente bem organizados, e que éramos em quantidade suficiente para fazermos diferença em pleitos políticos, e que ao manipular-nos, poderiam alterar as coisas; então, em lugar de nos rejeitarem, eles nos assimilaram.

Hoje a grandeza numérica da igreja evangélica brasileira tornou-se um de seus maiores inimigos. Essa grandeza acaba sendo problema, quando é alienada, sem cabeça, sem ética, e que favorece toda e qualquer perspectiva de manipulação. 

Vivemos então um momento em que muitos de nós nos sentimos deslumbrados com as oportunidades, os privilégios, os acenos, as portas abertas, as coisas que para a igreja evangélica são franqueadas. E isso pode ser um elemento que pode ou nos tem corrompido.

A tal ponto que ficamos a questionar se essa entrada no mundo político, a princípio ingênua, afoita e descomprometida com o reino, não estará hoje sendo pior que  nossa alienação no passado.

Refletindo a esse respeito, o escritor e pensador Jacques Ellul diz no seu livro "A Subversão do Cristianismo", que a tendência do cristianismo como instituição tem sido a do adesismo ideológico. E mais, Ellul diz que os teólogos sempre foram capazes de encontrar suficiente base "bíblica" para justificar tais atrelamentos. Por exemplo, quando sob monarquias enfatiza-se o Cristo-Rei. Sob repúblicas democráticas se evoca o argumento do povo eleito de Deus e que o próprio Senhor associa a sí mesmo à vontade e às aspirações dos povos. Debaixo de regimes totalitários de direita ou esquerda, lembra-se o fato de que o Estado é ministro de Deus para o bem.

Por mais duro que seja o comentário de Elull quem pode contestar sua veracidade? A situação é tal que Ellul segue adiante dizendo que no sexto século havia inclusive a idéia de que os atos de Deus na história eram todos mediatizados pelos Francos (a gesta Dei per Francos).  Foi também dessa forma que a igreja se tornou Nacional Socialista (Cristã Alemã) quando Hitler tomou o poder. tornou-se socialista em países socialistas. Tornou-se Libertacionista quando isso se tornou padrão em países da América Latina. O escândalo é que cada vez mais ela busca legitimar tanto a sua adaptação quanto a existência do Estado. E enquanto age assim é também instumento de propaganda.

Exemplos recentes mostram que o mesmo potencial "abençoador" de Estados e ideologias políticas está presente na igreja evangélica brasileira. Tanto faz se o grupo é de direita ou esquerda. Nas eleições passadas de 2002, 2006, 2010, 2014, a gente viu líderes denominacionais e partidos a eles ligadas apoiando nesse período, Garotinho, Lula, Serra, Alckmin, Marina, Aécio, Dilma, e agora Bolsonaro.

A gente como igreja  tem que tomar muito cuidado com o dinheiro que vem da mesa dos reis da terra. Ouço frequentemente  alguns irmãos bem "espirituais" dizerem: "Ah, irmãos que benção! O governo tem uma verba reservada ao povo de Deus. Aleluia!" Este é um aleluia constantitiniano. Um aleluia que até o imperador dá com prazer, mas não é um aleluia que os profetas ousariam pronunciar.

A história nos ensina que até o século IV não havia  dinheiro para erigir grandes catedrais, a igreja cristã não sabia o que era isso. Não havia dinheiro para chegando dos impostos do Estado, verbas públicas para financiar  igreja, no entanto, havia graça, poder espiritual, paixão e integridade. No decorrer da história, esse dinheiro não tem chegado para nos fazer bem, mas para nos comprar e nos corromper, pois não temos sabido discernir que Deus é um Deus que age quase sempre em fraqueza em vez de ser com os recursos dos governantes da terra.

Muito cuidado irmãos porque muitas vezes na história Romanos 13, virou Apocalipse 13.




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