A pastora evangélica Paula White na
Convenção do Partido Republicano de 2016.
Em agosto, o presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump,
levantou os olhos ao céu, abriu os braços no meio dos jardins da Casa Branca e
afirmou diante de uma multidão de jornalistas: “Eu sou o escolhido”. Dias
depois, esclareceu que o comentário messiânico era uma brincadeira. A verdade é
que o homem que afirma nunca ter pedido perdão a Deus tenta há anos se
aproximar do núcleo duro da religião
evangélica para manter as bases mais conservadoras em sua
tentativa de ser reeleito em 2020.
Para ajudá-lo nessa tarefa, está sendo
acompanhado de perto por Paula White, uma velha amiga e guia espiritual. Desde
que o republicano
assumiu a presidência, a pregadora que defende a “teologia da
prosperidade”–que equipara finanças e bem-estar à vontade de Deus– está ao seu
lado. Mas agora estará ainda mais.
Na semana passada, White foi
oficialmente nomeada conselheira da Iniciativa Fé e Oportunidade, cujo objetivo
é servir como alto-falante para os grupos
religiosos em programas governamentais dedicados a questões
como a defesa da liberdade religiosa e a luta contra a pobreza. Antes de ocupar
um lugar formal na Administração, White já havia apadrinhado reuniões entre
pastores conservadores e responsáveis da Casa Branca, garantindo que Washington
levasse em conta as bases mais conservadoras.
A pastora da Flórida, de 53 anos,
casada três vezes e que vive em uma grande mansão –compartilha com Trump estas
duas últimas características–, iniciou sua carreira na televisão em 2001. Um
ano depois, ao terminar seu sermão no programa Paula White Today,
recebeu um telefonema. Era o magnata imobiliário Donald Trump, que a
parabenizou e, como confessou White, recitou três de seus sermões quase à
perfeição. Coincidentemente, White estava em Nova York e Trump a convidou para
conhecer sua família. Ambos mantiveram contato e se viram novamente no final da
primeira temporada do reality show de Trump, The Apprentice. White
orou com a equipe do programa antes da gravação.
A amizade entre as duas estrelas de
reality show cresceu ao ponto de a pastora comprar um apartamento no edifício
502 da Park Avenue, de propriedade do magnata, que repete continuamente que seu
livro favorito é a Bíblia e que “ninguém a lê tanto” quanto ele (no entanto, é
incapaz de mencionar um versículo quando perguntado sobre qual mais gosta).
No dia em que o presidente prestou
juramento, em janeiro de 2017, o fez sobre duas Bíblias: uma própria e outra
usada por Abraham
Lincoln em 1861. Ao lado dele estava o ultraconservador Mike
Pence, que assumiu como vice-presidente. Naquele dia, Paula White se tornou a
primeira religiosa a oficiar a oração durante a cerimônia. Depois de sua
aparição pública ao lado dos políticos, seu apoio nas redes caiu
consideravelmente. “Vi como meus seguidores no Twitter caíam em 10.000, 20.000,
30.000...”, reconheceu ela ao The Washington Times. Agora tem
700.000 nessa rede social e três milhões no Facebook.
Em junho, em Orlando (Flórida), a assessora
espiritual mudou o tom usado na posse do presidente para adotar um mais
alarmista em um comício do republicano. “Que cada rede demoníaca que se alinhou
contra o chamamento do presidente Trump seja destruída em nome de Jesus”,
exclamou diante da multidão. “Declaro que o presidente Trump superará todas as
estratégias do inferno e todas as estratégias do inimigo”, acrescentou na
ocasião. Alguns cristãos consideram suas ideias heréticas e não faltam aqueles
que a chamam de figura populista
e até divisionista nessa fé.
White, como Trump, nem sempre foi
religiosa. Em seu livro de memórias, Something Greater, publicado
em outubro, narra a “visita divina” que Jesus lhe fez em 1986, quando estava
com a filha recém-nascida. Na visão, ela aparecia pregando em todos os
continentes. A imagem foi um impulso para se dedicar completamente à religião.
Desde então construiu um império, com programas de televisão, rádio, livros,
turnês pelo país e, desde 2014, como pastora principal de uma igreja evangélica
na Flórida.
Isso até que Jesus voltou a
falar com ela. Em maio, durante o sermão dominical, disse que o Senhor lhe
havia dito que não podia “perder este momento” para fazer coisas maiores. Então
ela abandonou seu posto de pastora na New Destiny Christian Center, em Apopka,
para abrir uma universidade e construir 3.000 novas igrejas. Mas os ambiciosos
planos de White foram interrompidos por um de seus seguidores: Trump.
O presidente
norte-americano, que tenta garantir
que os evangélicos permaneçam em suas fileiras, a chamou para
fazer isso na Casa Branca. White ainda não fez um comentário a esse respeito.
Suas redes estão focalizadas neste momento em promover seu novo livro antes que
o próprio Trump.
Qualquer semelhança no Brasil não é mera coincidência.
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