A
doutrina da Predestinação na Igreja Assembleia de Deus.
Assembleia de Deus. (Foto: Reprodução)
Na Lição 6 da revista
de adultos da Escola Dominical (CPAD),
está sendo abordado um pertinente tema: A abrangência universal da salvação, com comentários
do Pr. Claiton Pommerening. Em virtude de estarmos experimentando uma
descoberta e um crescimento do interesse pela Teologia Arminiana Clássica em
nossas igrejas pentecostais brasileiras, gostaria de trazer um esclarecimento
sobre o tema PREDESTINAÇÃO, visto que o assunto foi citado de passagem no
quadro “Interagindo com o Professor” (página 41 da Lição do Professor, CPAD) de
modo não muito claro, deixando algumas brechas para mal-entendidos.
Neste quadro da Lição
está dito assim: “Não
podemos concordar com a predestinação…”, e aí não se faz qualquer distinção
teológica entre a predestinação defendida pelo Calvinismo e a predestinação
defendida pelo Arminianismo clássico, que é a linha soteriológica seguida pelas
Assembleias de Deus no Brasil.
Faltou a Lição
definir que predestinação é essa com a qual não podemos concordar (embora
leitores mais inteirados do assunto logo percebam a que predestinação se está
referindo), e ao mesmo tempo apresentar aquela predestinação com a qual devemos
concordar por ser bíblica. Pois, sim, a Bíblia fala de predestinação! Apenas
não podemos concordar com a predestinação INCONDICIONAL (defendida
pelo Calvinismo), mas podemos e devemos concordar com a predestinação CONDICIONAL (defendida
pelo Arminianismo). Explico a seguir.
1 – PREDESTINAÇÃO
INCONDICIONAL
Agostinho, bispo de
Hipona (na África), foi quem introduziu de modo inédito na Igreja, entre os
séculos IV e V, a teoria da predestinação incondicional, segundo a qual alguns
homens já estão predestinados à vida eterna, antes mesmo de qualquer previsão
de fé ou perseverança. Segundo aquele bispo, alguns pecadores receberão fé e
perseverarão nela porque estão predestinados para isso. Deus predeterminou que
eles tenham fé e perseverança. Daí vêm outros conceitos como o de graça irresistível – também
introduzido de modo inédito por Agostinho – e perseverança dos santos (embora
aqui, Agostinho mesmo defendia a possibilidade de alguns salvos virem a
declinar da fé, não estando eles contados entre aqueles que Deus predestinou
incondicional e irresistivelmente para o gozo eterno. Ou seja, para Agostinho,
nem a todos os salvos Deus concede a graça da Perseverança, mas apenas aos
eleitos).
O bispo de Hipona,
que é um dos mais eminentes teólogos cristãos do Ocidente, foi um dos antigos
Pais latinos da Igreja, de vasta cultura e conhecimento, mas que, todavia, não
dominava o grego, língua do Novo Testamento (1). Ele, que em sua juventude
seguiu os passos dos Pais que lhe antecederam, foi longe demais em sua
obsessiva luta contra o monge bretão, Pelágio, que negava o pecado original e
afirmava erradamente, dentre outras coisas, “que o homem poderia sim, cumprir a Lei
de Deus por sua própria força e capacidade; mas ainda com maior facilidade por
meio da graça de Cristo”(2).
Agostinho, tentando
superar Pelágio e demovê-lo de seu erro ao atribuir ao homem força inerente
para cumprir a Lei de Deus, acabou caindo em outro extremo tão errado quanto o
de Pelágio, senão pior! Campenhausen, um dos mais importantes historiadores do
século passado, comenta: “Essa preocupação [de Agostinho]
levou-o à afirmação da completa predestinação divina, em outras palavras, da
previsibilidade de Deus que como tal deve ser ao mesmo tempo uma
pré-determinação e uma pré-decisão” (3).
Nessa sua luta contra
Pelágio e em sua defesa da inédita teoria da predestinação incondicional e
individual, Agostinho
não tinha razão, mas tinha persuasão. Logo, tinha razão. Impunha sua própria
razão pela força do discurso! Campenhausen é certeiro como uma flecha: “Embora essa atitude o tenha tornado
teologicamente invencível, fez também com que, ao mesmo tempo, fosse levado
para muito longe dos dados imediatos da Bíblia, e até mesmo dos ensinos de
Paulo, o que prendeu-o a posições difíceis de defender. Na verdade, seus
oponentes o haviam levado para mais longe ainda: todavia, em seu próprio modo
de pensar, achava que não havia se colocado à frente deles ainda o suficiente,
e isso pode explicar muitas das fraquezas e do rigor da sua posição a que
finalmente chegou. Agostinho não desejava ser um inovador, porém, não havia até
então encontrado um precursor nas reivindicações pelas quais lutava” (4).
O teólogo anglicanob
John Kelly, ao tratar sobre aqueles que recebem a graça da salvação na
perspectiva de Agostinho, comenta: “Agostinho crê que Deus fez isso desde
a eternidade. O número dos eleitos”, segundo o bispo de Hipona, “está rigorosamente limitado, não
sendo maior nem menor do que é necessário para substituir os anjos
caídos. Desse modo, ele precisa distorcer [!] o texto que diz que ‘Deus deseja que
todos os homens sejam salvos’ (1Tm 2.4), interpretando que Ele
deseja a salvação de todos os eleitos, entre os quais estão representados
homens de todas as raças e tipos” (5).
É de Agostinho que
vem a interpretação calvinista comum – embora não unânime (6) – de que Deus não
quer exatamente que todos os homens sejam salvos, mas sim que todos os tipos de
homens sejam salvos. Nas palavras do teólogo J. Kelly, isto é “distorcer o
texto”. Mesmo o pregador calvinista Charles Spurgeon, estava de acordo de que
esta interpretação calvinista de “tipos de homens” é uma “explosão gramatical”,
como ele disse em seu sermão Salvation by knowing th truth (1880).
O teólogo alemão
Gustav Wiggers, considerando o ineditismo da teoria da predestinação
incondicional de Agostinho, chega a fazer a seguinte declaração: “Quanto à doutrina da Igreja, até onde
ela foi defendida até agora pelos símbolos, Agostinho poderia muito mais que
Pelágio, ser chamado de herege. A doutrina agostiniana em toda a sua extensão,
pelo menos na sua teoria da predestinação [incondicional], nunca foi
expressamente pronunciada ortodoxa, em qualquer sínodo, inclusive no efésio
[Primeiro Concílio Efésio, ano 431]” (7).
De modo geral, o
entendimento de Agostinho sobre predestinação é aceito pelos calvinistas, desde
o próprio Calvino, que, dentre muitas citações que poderíamos fazer aqui,
declarou as seguintes palavras: “Chamamos PREDESTINAÇÃO o eterno
decreto de Deus pelo qual houve por bem DETERMINAR O QUE ACERCA DE CADA HOMEM
QUIS QUE ACONTECESSE. Pois ele não quis criar a todos em igual condição; ao
contrário, preordenou a uns a vida eterna; a outros, a condenação eterna.
Portanto, como cada um FOI CRIADO PARA um ou outro desses dois
destinos, assim dizemos que um foi predestinado ou para a vida, ou PARA A
MORTE” (8).
Aí está declarada a
dupla predestinação de Calvino: os que foram predestinados para vida eterna e
os que foram predestinados para morte eterna. E a prova de que Calvino crê que
esta predestinação é incondicional – ou seja, independe de qualquer coisa que o
homem pense, diga ou faça – está em sua declaração: “os réprobos SÃO SUSCITADOS PARA ESTE
FIM, ou, seja, para que através deles a glória de Deus resplandeça. (…)
Portanto, se não podemos assinalar outra razão por que Deus usa de misericórdia
para com os seus, a não ser porque assim lhe apraz, tampouco disporemos de
outra razão por que rejeita e exclui aos demais, senão pelo uso deste mesmo
beneplácito” (9).
O teólogo calvinista
R.C. Sproul, um dos maiores representantes do calvinismo em nosso tempo, assim
resume a posição reformada calvinista sobre predestinação: “a visão reformada assevera que a
decisão final para salvação está com Deus e não com o homem. Ensina que desde a
eternidade Deus escolheu intervir nas vidas de algumas pessoas e trazê-las à fé
salvadora, e escolheu não fazer isso para as outras pessoas. Desde toda a
eternidade, sem nenhuma visão prévia de nosso comportamento humano, Deus
escolheu alguns para a eleição e outros para a reprovação (…) Na visão
reformada da predestinação, a escolha de Deus precede a escolha do homem”. (10)
Portanto, que fique claro: é com esta
predestinação calvinista, que tem seu precedente teológico em Agostinho de
Hipona, que não foi conhecido, defendido ou estabelecido em qualquer Sínodo ou
Concílio da Igreja em seus primeiros séculos… é contra esta teoria de
predestinação individual e incondicional que nós erguemos nossa voz de protesto
e rejeitamos peremptoriamente! Cremos que a salvação é uma dádiva da graça, mas
que deve ser recebida pela fé, sem a qual “é impossível agradar a Deus” (Hb
11.6), e que somente perseverando nessa fé é que o salvo terá garantida para si
a vida eterna, pois, como disse Jesus, “É perseverando que vocês obterão a
vida” (Lc 21.19), e que sem santificação “ninguém verá a Deus” (Hb 12.14),
sendo possível ao que foi santificado com o sangue da nova aliança, vir a pisar
neste sangue e profaná-lo (Hb 10.29), e o justo pode vir a recuar da fé e não
encontrar mais o prazer de Deus (Hb 10.38), e que Deus quer que todos sejam
salvos (1Tm 2.4) e que nenhum se perca (2Pe 3.9) e que Ele não tem prazer na
morte do ímpio, antes deseja que o ímpio se arrependa (Ez 18.23; 33.11), e que
há sim uma condição a ser cumprida pelo homem para que ele possa ser contado entre
os escolhidos de Deus para salvação (Jo 3.16; At 16.31). Por esta razão, não
podemos concordar com a predestinação de Agostinho ou de Calvino.
2 – PREDESTINAÇÃO
CONDICIONAL
Jacó Armínio, teólogo
holandês do século XVI, em sua famosa Declaração de Sentimentos, depois de
apresentar uma longa refutação à predestinação defendida pelos calvinistas,
apresenta seus próprios apontamentos sobre a doutrina da predestinação, e o faz
em acordo com os antigos Pais da Igreja, anteriores a Agostinho, tanto Pais
latinos quanto Pais gregos. É conforme estes postulados de Jacó Armínio que nós
cremos, porque acreditamos estarem não só em conformidade com o ensino geral
dos antigos Pais, mas em subordinação a própria Bíblia sagrada, que é nossa
regra de fé e prática.
Armínio, depois de
dizer que Jesus Cristo estabelecido como Salvador, Mediador e Rei é o primeiro
decreto de Deus concernente à nossa salvação, diz que “o segundo decreto preciso e absoluto
de Deus é aquele em que Ele decretou receber aqueles que se arrependerem em
Cristo, e, em Cristo, por causa dEle e por meio dEle, para efetivar a salvação
de tais penitentes e crentes que perseverarem até o fim, mas deixar em pecado,
e sob a ira, todas as pessoas impenitentes e incrédulas, condenando-as como
alheios a Cristo” (11).
Mais à frente,
Armínio expõe que este decreto de salvação condicionado ao arrependimento, tem
como embasamento a presciência de Deus, ou seja, Deus já
previu na eternidade quem e quantos exatamente – sua onisciência é perfeita! –
aceitariam a salvação pela fé e nela perseverariam até o fim, tanto quanto os
que persistiriam na incredulidade: “Deus decretou salvar e condenar
certas pessoas em particular. Este decreto tem o seu embasamento na presciência
de Deus, pela qual Ele sabe, desde toda a eternidade, que tais indivíduos, por
meio de sua graça preventiva, creriam, e por sua graça subsequente perseveraria
(…) e, do mesmo modo, pela sua presciência, Ele conhecia aqueles que não
creriam, nem perseverariam” (12).
Perceba que o ensino de Armínio difere
do de Agostinho (que foi adotado por Calvino no século XVI): para Agostinho, a
predestinação é incondicional – Deus predestina alguns apenas para serem salvos
e a estes dá irresistivelmente a graça da salvação e, a eles somente, dá a
dádiva da perseverança; para Armínio, a predestinação é condicional – Deus
predestina o que crê para salvação e aos que perseverarem em fé nesta salvação
recebida Ele dará necessariamente a vida eterna, como prometeu e decretou. Na
verdade, Armínio apenas está resgatando o antigo ensino dos Pais da igreja,
conforme os teólogos metodistas do século 19, James Strong e John McClintock,
bem descreveram:
“A doutrina unânime e inquestionável da
Igreja sobre este ponto [Predestinação] por mais de quatrocentos anos foi, até
onde se desenvolveu em distinção, exatamente idêntica àquela que deve sua forma
científica e nome a Armínio. (…) ‘Em relação à predestinação’, escreveu Wiggers
[1840], ‘os Pais antes de Agostinho diferem inteiramente dele… Eles fundaram a
predestinação sobre a presciência’ [de Deus] (…) Justino Martir, Irineu,
Clemente de Alexandria, Orígenes, Crisóstomo – em declarações claras e
decisivas – deram sua adesão à teoria da predestinação condicional, rejeitando
o oposto como falsa, perigosa e totalmente subversiva da glória de Deus (…)
durante mais de quatrocentos anos não se ouviu uma única voz, seja na Igreja
Oriental ou Ocidental, na advocacia da predestinação divina
incondicional” (13).
Como prova desta crença comum na
predestinação condicional baseada na presciência de Deus entre os Pais da
Igreja, vejamos como exemplo o que disse Irineu de Lião, ainda no segundo
século:
“E Deus que conhece todas as
coisas antecipadamente preparou para uns e outros morada conveniente:
aos que procuram a luz da incorruptibilidade e tendem a ela, dá com
bondade a luz que desejam; aos que a desprezam e se afastam fugindo
dela, que de certa maneira cegam-se a si mesmos, preparou obscuridade, como
convém, e aos que se subtraem à submissão a Deus, castigo apropriado.
A submissão à Deus é o descanso eterno
e os que fogem da luz terão lugar digno da sua fuga e os que fogem do descanso
eterno terão morada apropriada à sua fuga. Todos os bens se encontram em Deus e
os que fogem de Deus por sua própria vontade privam-se de todos os bens e,
privados de todos os bens que se encontram em Deus, justamente cairão sob o
justo juízo de Deus” (14)
Apesar de Irineu, um dos Pais gregos,
não usar neste trecho a expressão “predestinação condicional”, é justamente o
conceito dela que subjaz em sua fala: Deus concedendo um futuro a um e a outro
conforme a resposta do pecador à revelação divina.
Aos assembleianos é
preciso ainda dizer que a própria Declaração de Fé das Assembleias de
Deus rejeita a predestinação incondicional e reitera a crença na
predestinação condicional, nos seguintes termos:
“O Soberano Deus não predestinou
incondicionalmente pessoa alguma à condenação eterna, mas, sim, almeja que
todos, arrependendo-se, convertam-se de seus maus caminhos (…). A predestinação
genuinamente bíblica diz respeito apenas à salvação, sendo condicionada à fé em
Cristo Jesus, estando relacionada à presciência de Deus. Portanto a
predestinação dos salvos é precedida pelo conhecimento prévio de Deus daqueles
que, diante do chamado do Evangelho, recebem Cristo como o seu Salvador pessoal
e perseveram até o fim” (15).
Talvez a única
distinção entre o posicionamento agora oficial assembleiano e o posicionamento
do teólogo Jacó Armínio, com quais postulados a Assembleia de Deus está de
acordo, é que enquanto o teólogo holandês não via dificuldade em admitir a
predestinação para a condenação, mas condicionada à rejeição deliberada e
persistente, a Declaração de Fé das Assembleias de Deus parece evitar argumentar
assim, preferindo defender apenas a predestinação para a vida eterna. Todavia,
se atentarmos para as palavras de Jesus em João 3, não teremos dificuldade
alguma em admitir que há predestinação para condenação, tanto quanto para
salvação, mas
sempre condicionalmente (que isso fique claro!): “(…) para que todo
o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna (…) Quem nele crê não é
condenado, mas quem
não crê já está condenado, por não crer no nome do Filho Unigênito de Deus”
(v. 18) – veja que os destinos tanto do que vier a crer, quanto do que não vier
a crer já estão previamente estabelecidos: vida eterna para aquele, condenação
para este. É o que Paulo diz em Romanos: “E se Deus, querendo mostrar a sua ira
e tornar conhecido o seu poder, suportou com grande paciência os vasos de sua
ira, preparados para destruição” (Rm 9.22).
O vaso da ira,
suportado por Deus e preparado para destruição é aquele que “despreza as
riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade
de Deus o leva ao arrependimento” (Rm 2.4), e que “por causa da sua teimosia e
do seu coração obstinado, está acumulando ira contra si mesmo, para o dia da
ira de Deus, quando se revelará o seu justo julgamento” (Rm 2.5). Há uma
condição para predestinação da salvação: CRER, consentindo em seu coração com a
mensagem do Evangelho e o chamado da graça; como há uma condição para
predestinação da condenação: NÃO CRER, resistindo aos apelos benevolentes e
desprezando as oportunidades do Deus paciente. Armínio é contundente, e
concordo com sua afirmação: “os homens iníquos que perseverarem em seus
pecados necessariamente perecerão. Pois Deus, por meio de uma força
irresistível, os lançará nas profundezas do inferno” (16).
Os que possuem uma
Bíblia de Estudo Pentecostal poderão consultar as páginas 1808 e 1809 onde há
um subsídio sobre ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO. Entre outras coisas, está dito lá
que: “A
predestinação abrange o que acontecerá ao povo de Deus (todos os crentes
genuínos em Cristo)”; e ainda: “A predestinação, assim como a eleição, refere-se
ao corpo coletivo de Cristo (i.e., a verdadeira igreja), e abrange indivíduos
somente quando inclusos neste corpo mediante a fé viva em Jesus Cristo”.
Aqui fica demonstrado
o caráter coletivo da predestinação dos salvos: a Igreja predestinada.
Entretanto, esta predestinação coletiva não exclui a predestinação individual,
“quando inclusos neste corpo mediante a fé viva em Jesus”.
O teólogo Roger
Olson, coloca como mito a afirmação de que “o Arminianismo não acredita na
predestinação”. No capítulo 8 de seu livro Teologia Arminiana – mitos e realidades, Olson
esclarece: “A
Predestinação é um conceito bíblico; o Arminianismo clássico a interpreta de
maneira diferente dos calvinistas, mas sem negá-la. É o decreto soberano de
Deus em eleger os crentes em Jesus Cristo e inclui a presciência de Deus da fé
destes crentes” (17).
Dois textos bíblicos são singulares na
defesa da predestinação condicional e embasada na presciência divina. Nas
palavras de Paulo: “Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou
para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos” (Rm 8.29). Perceba: “aqueles que de antemão [Deus]
conheceu, também os predestinou…”. Esse conhecimento prévio engloba o
conhecimento da fé e da perseverança.
Nas palavras de Pedro: “escolhidos de
acordo com a pré-conhecimento de Deus Pai, pela obra santificadora do Espírito,
para a obediência a Jesus Cristo e a aspersão do seu sangue” (1Pe 1.2).
Perceba: “escolhidos de acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai…”,
pré-conhecimento este que leva em conta a fé aceita e exercitada livremente
pelo pecador, mediante ação da graça do Espírito de Deus. Se a fé prevista não
é levada em conta para predestinação, então não é verdade que “Deus amou o
mundo”, pois nesse caso, Deus teria amado apenas os predestinados. E também a
verdade não seria que “todo aquele que nele crê tenha vida eterna”, mas que
“apenas aquele que foi predestinado para vida eterna, creia nele”.
Portanto, que fique claro: nós cremos
sim em predestinação. Mas a que é condicional à fé e que é estabelecida segundo
a presciência de Deus das escolhas que fazemos em face da graça que Ele nos
dirige. Não é o homem que tem a última palavra em sua eternidade – como nos
acusam os calvinistas. É Deus quem já deu a primeira, e dará a mesma palavra
como última aos homens: “vida eterna ao que creu! E morte eterna ao infiel!”.
O homem só seria realmente dono de seu
destino, se ele pudesse alterar os desígnios soberanos de Deus, e alcançar a
vida eterna a despeito de sua permanência na incredulidade, ou se ele pudesse
ser condenado ao inferno a despeito de sua permanência na fé. Como é impossível
que Deus minta, e ele já estabeleceu o fim previamente para os que creem e para
os que não creem, então, assim será: “Quem crê nele não é condenado; mas quem
não crê já está condenado” (Jo 3.18).
Agora, quem vai crer ou deixar de crer,
cabe ao homem decidir (não sozinho, pois para isso terá o auxílio indispensável
da graça de Deus), como coube ao jovem rico decidir seguir a Cristo ou
continuar preso às riquezas (Mc 10.21.22), e como coube a Israel se deixar ser
acolhido por Cristo ou fugir de suas “asas de salvação” (Mt 23.37). As mãos de
Deus não estão encolhidas para salvação de ninguém! (Is 59.1). Todavia, a
salvação é uma dádiva da graça que deve ser recebida livremente (e só é
realmente livre, porque há a possibilidade de ser recusada), não uma ação da
força onipotente de Deus, contra a qual o homem não possa resistir.
Assim creem os pentecostais clássicos,
assim creram os wesleyanos, assim creram os Remonstrantes, assim creram muitos
pós-reformadores, reformadores e pré-reformadores, assim creram os Pais da
Igreja, assim ensinaram os apóstolos de Cristo e profetas do Senhor.
Assim creio eu!
Notas Bibliográficas:
1) Hans von
Campenhausen. Os
Pais da Igreja, 3. ed., CPAD, p. 369
(2) Jacó Armínio. As Obras de Armínio, vol. 1, CPAD, p. 235.
(3) Hans von Campenhausen. Op. cit., p. 384
(4) Hans von Campenhausen. Op. cit.
(5) J. N. D. Kelly. Doutrinas centrais da fé cristã, Vida Nova, p. 279. Grifo meu
(6) Eu disse “não unânime” porque há muito calvinistas que defendem que Deus de fato e verdade quer a salvação de todos os homens, não apenas de todos os “tipos de homens”. São os chamados “calvinistas de quatro pontos”, que creem que a redenção de Cristo foi feita por todos os homens, que a expiação é irrestritamente oferecida a todos os homens, mas especialmente aplicada aos eleitos, os que foram predestinados para recebê-la. Nomes como R. T. Kendall, F.F. Bruce, Millard Erickson, Lewis S. Chafer, Augustus H. Strong, dentre outros calvinistas, defendem a expiação ilimitada. Há inclusive uma antiga e longa discussão se o próprio João Calvino não teria também defendido a expiação ilimitada (ele diz: “É a vontade de Deus que busquemos a salvação de todos os homens, sem exceção, porque Cristo sofreu pelos pecados do mundo inteiro” – Gálatas, FIEL, p. 145). De minha parte, julgo por demais confuso que tais calvinistas creiam no modus operandi da graça como sendo irresistível (um dos pilares da TULIP calvinista, os cinco pontos essenciais de sua soteriologia) e ainda assim defendam uma expiação ilimitada, ou uma oferta generosa e sincera de salvação a todos os pecadores sem exceção. Pois bastaria questionarmos: se Deus realmente quer com sinceridade salvar a todos os pecadores, e se Cristo de fato morreu por todos eles, sendo a sua graça irresistível, como isso não desembocaria necessariamente na salvação de todos os pecadores? A combinação entre graça irresistível e expiação ilimitada é justamente o que defendem os universalistas, para os quais, todos os homens serão salvos irresistivelmente no final!
(7) Gustav Wiggers, An historical presentation of Augustine and Pelagianism, cap. 23.
(8) João Calvino. Institutas da Religião Cristã, vol. 3, cap. 21, seção 5. Os destaques são meus.
(9) João Calvino. Op. cit., seção 11
(10) R.C. Sproul. Eleitos de Deus, 2. ed., Cultura Cristã, p. 101
(11) Jacó Armínio. Op. cit., pp. 226,7
(12) Jacó Armínio. Op. cit., p. 227
(13) James Strong & John McClintock. The Cyclopedia of Biblical, Theological, and Ecclesiastical Literature, Haper and Brothers, NY: 1880. Verbete PREDESTINATION
(14) Irineu de Lião. Contra as heresias, Paulus, p. 510
(15) Declaração de Fé das Assembleias de Deus, CPAD, p. 110
(16) Jacó Armínio. Op. cit., p. 266
(17) Roger Olson. Teologia Arminiana – mitos e realidades, Reflexão, p. 233
(2) Jacó Armínio. As Obras de Armínio, vol. 1, CPAD, p. 235.
(3) Hans von Campenhausen. Op. cit., p. 384
(4) Hans von Campenhausen. Op. cit.
(5) J. N. D. Kelly. Doutrinas centrais da fé cristã, Vida Nova, p. 279. Grifo meu
(6) Eu disse “não unânime” porque há muito calvinistas que defendem que Deus de fato e verdade quer a salvação de todos os homens, não apenas de todos os “tipos de homens”. São os chamados “calvinistas de quatro pontos”, que creem que a redenção de Cristo foi feita por todos os homens, que a expiação é irrestritamente oferecida a todos os homens, mas especialmente aplicada aos eleitos, os que foram predestinados para recebê-la. Nomes como R. T. Kendall, F.F. Bruce, Millard Erickson, Lewis S. Chafer, Augustus H. Strong, dentre outros calvinistas, defendem a expiação ilimitada. Há inclusive uma antiga e longa discussão se o próprio João Calvino não teria também defendido a expiação ilimitada (ele diz: “É a vontade de Deus que busquemos a salvação de todos os homens, sem exceção, porque Cristo sofreu pelos pecados do mundo inteiro” – Gálatas, FIEL, p. 145). De minha parte, julgo por demais confuso que tais calvinistas creiam no modus operandi da graça como sendo irresistível (um dos pilares da TULIP calvinista, os cinco pontos essenciais de sua soteriologia) e ainda assim defendam uma expiação ilimitada, ou uma oferta generosa e sincera de salvação a todos os pecadores sem exceção. Pois bastaria questionarmos: se Deus realmente quer com sinceridade salvar a todos os pecadores, e se Cristo de fato morreu por todos eles, sendo a sua graça irresistível, como isso não desembocaria necessariamente na salvação de todos os pecadores? A combinação entre graça irresistível e expiação ilimitada é justamente o que defendem os universalistas, para os quais, todos os homens serão salvos irresistivelmente no final!
(7) Gustav Wiggers, An historical presentation of Augustine and Pelagianism, cap. 23.
(8) João Calvino. Institutas da Religião Cristã, vol. 3, cap. 21, seção 5. Os destaques são meus.
(9) João Calvino. Op. cit., seção 11
(10) R.C. Sproul. Eleitos de Deus, 2. ed., Cultura Cristã, p. 101
(11) Jacó Armínio. Op. cit., pp. 226,7
(12) Jacó Armínio. Op. cit., p. 227
(13) James Strong & John McClintock. The Cyclopedia of Biblical, Theological, and Ecclesiastical Literature, Haper and Brothers, NY: 1880. Verbete PREDESTINATION
(14) Irineu de Lião. Contra as heresias, Paulus, p. 510
(15) Declaração de Fé das Assembleias de Deus, CPAD, p. 110
(16) Jacó Armínio. Op. cit., p. 266
(17) Roger Olson. Teologia Arminiana – mitos e realidades, Reflexão, p. 233
Excelente !! Pena q o pr. Malafaia tenha faltado a essa aula !!😫
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