domingo, 27 de julho de 2008

SENHOR, AJUDA A MINHA FÉ

A Mensagem que eu quero compartilhar hoje está no livro de Marços 9:14-29. Uma das respostas que melhor define as tensões da vida cristã é a daquele pai cujo filho era possuído por um espírito maligno, que o impedia de falar, atirava-o ao chão e o oprimia a ponto de levá-lo a ranger os dentes, espumar a boca e enrijecer todo o corpo. O episódio está narrado no Novo Testamento. O pai havia solicitado aos discípulos de Jesus, que expulsassem o espírito do filho, mas eles não conseguiram. O Mestre, ouvindo o relato deste pai aflito, pede para que tragam o menino até ele. Quando chegou perto de Jesus, o espírito maligno provocou uma convulsão no garoto e o jogou ao chão. O pai, vendo aquela cena, completou seu relato dizendo que aquilo acontecia desde a infância do filho, e que muitas vezes este espírito tentou inclusive matá-lo.
Diante do quadro dramático, o pai fez seu apelo a Cristo: “Se podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos”. “Se podes?”, reagiu Jesus à pergunta, fazendo uma séria afirmação: “Tudo é possível àquele que crê”. Diante da afirmação de Jesus, o pai do garoto dá então, a seguinte resposta: “Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade”.
Esta resposta corajosa daquele homem revela uma tensão constante da experiência da fé. Para muitos, a vida cristã funciona com a prescisão da lógica contratual – basta que cada parte cumpra com suas obrigações que tudo sairá da forma esperada. Uma vez que Deus sempre cumpre com seus compromissos, resta-nos comprir com a nossa obrigação. Pensamos que, se vamos à igreja, contribuímos financeiramente para a obra, obedecemos aos mandamentos e fazemos tudo o os nossos mestres e conselheiros orientam, certamente a vida nos irá bem, sem tropeços ou surpresas. Porém, o fato é que nem sempre tudo acontece com a precisão da lógica. A vida é complexa, nossos desejos são muitas vezes confusos e obscuros. Alimentamo-nos de falsos ideais e facilmente nos entregamos às ilusões. O pecado é uma realidade dolorosa que corrompe os sonhos mais sinceros e puros.
Nossa cultura racional, funcional e pragmática não admite conflitos e angústias. Basta uma boa olhada nas livrarias que veremos uma grande quantidade de livros com receitas e fórmulas para casamentos felizes, filhos contentes e educados, ministérios eficazes e os infalíveis passos para o sucesso pessoal. A impressão é de que só tem problemas quem quer, ou quem ainda não adquiriu estes maravilhosos manuais que reduzem a vida a um esquema simplista e perverso. Aquele que não possui a fé mágica e a senha secreta para solucionar, num piscar de olhos, todos os dramas, corre o risco de sentir-se desqualificado para a vida espiritual.
A vida da fé envolve tensões e angústias. Ao contrário do que muitos tentam afirmar, insistindo numa fé que exorciza as crises humanas, dramas como o daquele pai do garoto possesso ou como o de Tomé, que duvidou da ressurreição, são mais freqüentes do que imaginamos. Miguel de Unamuno disse: “Aqueles que acreditam que crêem em Deus, mas sem paixão em seu coração, sem angústia mental, sem incertezas, sem dúvidas, e às vezes até mesmo sem desespero, crêem apenas na idéia de Deus, mas não no próprio Deus”.
Cremos e o ato de crermos envolve a capacidade de respondermos afirmativamente àquilo que nos é revelado nas Escrituras. Contudo, diante das complexidades, crises e conflitos da vida, respondemos como o pai do jovem endemoninhado: “Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade”. É preciso aceitar a incredulidade, o medo e as aflições como partes integrantes do processo de amadurecimento da fé. Jesus não nos deu fórmulas prontas, receitas infalíveis. Ele nos mostra o caminho e a verdade, nos ensina a andar por ele, nos oferece ajuda quando o fardo é pesado demais e deixa o exemplo para seguirmos seus passos. C.S. Lewis dizia que fé tem mais a ver com nossas emoções do que com nossa razão. Muitas vezes, cremos, mas temos medo; cremos, mas não estamos seguros quanto ao que desejamos. Cremos, mas achamos que não merecemos tamanha graça; cremos, mas ainda somos incrédulos. A distância entre nossas convicções e nossas emoções é o espaço onde a crise e as tensões da fé acontecem.
Jesus acolhe a incredulidade daquele pai aflito. Ajuda Tomé a superar sua dúvida. O que permitiu tanto ao pai, quanto a Tomé, crescer e superar as fronteiras da incredulidade, foi a capacidade honesta e sincera de reconhecer limitações e dificuldades. Eles não as esconderam sob o manto da falsa piedade, das afirmações vazias e desconectadas da vida. Para superas nossas próprias fronteiras e crescer em direção a Cristo, numa fé madura, bíblica e profundamente integrada à nossa humanidade, será preciso reconhecer nossas crises e aflições, pois são elas que nos tornam mais dependentes de Deus, que provacam as inquietações da alma, que nos empurram para o Senhor. E despertam em nós, fome e sede de Deus, porque nos fazem ver que ele, só ele, é capaz de satisfazer os anseios mais profundos e sinceros da alma.

16 comentários:

  1. Graça e Paz Juber!

    Elementar sua reflexão.
    É triste saber que supostos líderes não querem encarar suas incertezas e fragilidades, pois afinal, precisam manter suas reputações.
    É triste constatar que o mundo atual tenta fabricar super-heróis, pretensos semideuses, todos falsos e forjados pela cultura do narcisismo.

    No amor de Cristo,
    Junior

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  2. Júnior,

    Li um texto uma vez do Ricardo Gondim, onde ele dizia que viu muitas vezes, pregadores de cura, esconderem que estavam doentes, com medo de perderem o "status" de super-crentes que tinham. Quão diferentes são do Apóstolo Paulo, que em suas cartas, revelava muitas vezes sua fragilidade, ao mesmo tempo dizia que o poder de Deus habitava em vasos de barro.

    Grande abraço e obrigado pela sua participação.

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  3. Olá Juber !!

    Vim aqui através do Blog do Volney Faustini e te digo: Adorei esse lugar!!
    Deus te concedeu sabedoria e sagacidade para escrever, e eu imagino o sejas pregando !!
    Parabens!
    Estou add vc aos meus links de pensadores favoritos e o convido a conhecer meus blogs:

    www.alicenopaisdopensamento.blogspot.com

    e

    www.verdadesnuas.blogspot.com

    Será um grande prazer recebe-lo !

    Graça e Paz sobre ti.

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  4. Texto muito bom, Juber! Parabéns! Hoje vejo que o q antes me afligia não aflige mais, os desafios são mais agudos. Que Deus proverá eu sei, mas antes tinha medo, duvidava; a convivência de alguns anos me deu mais confiança. No entanto, de minha conversão até aqui coisas mais densas foram acontecendo em minha vida, e colocaram a minha fé à prova de modo mais profundo e progressivamente elevado. A cada desafio, cada muro, vejo que cresço em Deus, e me torno mais forte. Isso aumenta minha fé (pela graça dEle, que me mostra como seus caminhos são mais altos), me fortalece, me apazigua. É gratificante, pois Deus me surpreende mais e mais, e a vida com Ele foi a melhor escolha que fiz. Todos somos fracos sem Ele, não há homem que não fraqueje, que não sofra, mas para nossa sorte Ele sempre nos socorre.

    Abraços!

    : )

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  5. Alice,

    Obrigado pela visita e pela adição deste blog nos seus links e pelas palavras tão gentis. Visitei seus blogs e gostei muito. Estarei te adicionando aqui também.

    Graça e Paz sobre sua vida.

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  6. Maya,

    Usei essas palavras de exposição da Palavra, apenas porque acredito que as pessoas, embora confessem que vivem pela fé, na maioria das vezes vivem pela alma, pela emoção e pelas sensações e impressões. O que é desastroso no dia-a-dia.
    Viver pela fé é não viver por vista, por emoção, por sensação, por circunstância, por impressão, por alegrias ou por sucesso.
    Viver pela fé é ver o invisível apesar de todas as visibilidades negativas. É subjugar a alma ao espírito. É tirar a alma de seu estado de submissão natural aos poderes do Inconsciente e de suas pulsões, e, pela consciência que advém da certeza da fidelidade de Deus e de Seu Juramento de não se arrepender de nada concernente ao que Jesus fez — viver a vida que não se impressiona mais com nada disso. É sentir as águas invisíveis de um dilúvio de emoções nos afogando, e, mesmo assim, tratá-las como miragem e/ou como truques da subjetividade frágil e impressionável da alma. É, no pior dia, poder dizer: “Mais são os que estão conosco do que os que estão com eles”. É afirmar que a vitória que vence o mundo é a nossa fé. É cantar louvores entre lágrimas. É ver a Nova Jerusalém mesmo em dias de Apocalipse. É ver na morte, qualquer morte, apenas um portal para a Vida. É saber que nada pode nos separar do amor de Cristo: nem a vida, nem a morte, nem o pecado, nem o diabo, nem qualquer criatura, e nem qualquer poder ou ambiente de mal.

    Obrigado pela sua participação enriquecedora.

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  7. Que a Graça e a Paz de Cristo,
    presentes no teu coração - como transparece no teu texto - sejam
    contigo, Pr. Juber!

    Lendo os posts, penso que entendi o "Radical" do título do blog. É "radical" porque busca as raízes do Evangelho, distanciando-se da ilusão e da intransigência fundamentalista, li corretamente?

    Parabéns por este espaço!

    Abraço fraterno,
    Elias Aguiar

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  8. Elias,

    Você entendeu bem o "Radical" do título deste blog. A algum tempo atrás eu até achava interessante o termo fundamentalista, no sentido de resgatar o ensino dos "fundamentos" da Escritura. Mas como você disse acertadamente, eu hoje procuro me distanciar da intrasigência fundamentalista, que ignora o mais importante da ortodoxia e dos mandamentos que é o amor e a misericórdia.

    Obrigado pela visita e pelas palavras,

    Abraço.

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  9. Juber,
    graça, paz e bem!

    Eu gostei muito do seu espaço para reflexão. Voltarei outras vezes.

    Felicidades!

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  10. Edemir,

    Obrigado por sua participação nesse espaço. Gostei de conhecer seu blog também. Você é sempre vindo. Aguardo sua próxima visita.

    Graça e Paz.

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  11. Juber ,

    Graça sobre ti ,

    Fiquei muito emocionada com seu comentário no Verdades Nuas, tu realmente tocou meu coração e sei que DEus te usou pra isso. Obrigada mesmo.
    Peço permissão para enviar para alguns amigos e irmãos que se encontram na mesma situação que eu esse teu comentário, quem sabe Deus fala com eles assim como falou comigo !

    Obrigada mais uma vez !! e que Deus te de sempre em dobro o bem que fazes !!

    Não deixei de aparecer e comentar, descobri que suas palavras são santas !


    abraços

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  12. Alice,

    Fico contente que minhas palavras te ajudaram de alguma maneira. Pode enviar o texto e o comentário para outras pessoas. O que tenho observado, é que parece que cada vez mais aumenta o número de pessoas, que estão decepcionados com a "igreja". Assim, o que precisa ser ensinado ao povo é, confiar na Palavra, andar pela fé, afastar um “grilo” horrível de auto-exílio diante de Deus; crer, e acalmar o coração na fidelidade do Deus que é, e que não muda na Sua Graça e fidelidade para conosco.

    Obrigado pelas palavras motivadoras,

    Graça e Paz.

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  13. Pastor Jube,obrigado pela visita ao meu Blog. Permita-me fazer um breve comentário de teu texto, pois o mesmo me fez lembrar da batalha espiritual travada pelo apóstolo Paulo quando orava para que o seu espinho na carne lhe fosse tirado, ele diz: Pelo que orei três vezes...mas me foi dito: A minha graça te basta, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Eu fico aqui a pensar, como seríamos se não tivessemos as nossas fraquezas naturais, se fossemos auto suficientes, se não dependessemos de Deus para nos ajudar? Deus nos dá a limitação, para que nunca esqueçamos que sem Ele nada podemos fazer. Como é bom poder sempre dizer: Senhor, ajuda a minha fé!! Bom texto e edificante!!! Paz de Cristo!!! Depois passo por aqui para me edificar mais um pouco!!!

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  14. Paulo Henrique,

    Seu comentário, mostrou bem a nossa dependência de Deus e de sua Graça. Somos vasos de barro, como disse o apóstolo Paulo, para que a excelência do seu poder, em nós habite. Esse bendito favor imerecido é que nos faz aceitavéis a Deus e não as nossas justiças e obras.

    Obrigado pela visita, seja sempre bem vindo.

    Graça e Paz.

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  15. A vós, graça e paz da parte de Deus e de nosso Senhor Jesus Cristo, irmão Juber.

    Como nos deparamos com a fragilidade humana, mas, graças a Deus que não nos deixa enganados e nos ensina através das Sagradas Escrituras... "Disseram então os apóstolos ao Senhor: Acrescenta-nos a fé."

    Deus abençoe pelo vosso blog...

    Gostaríamos que o selo de nossa Comunidade Nacional de Blogueiros Cristãos - CNBC, também fosse apresentado neste rico espaço...

    Fraternalmente.
    James, CNBC
    www.jesusmaioramor.blogspot.com

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  16. Irmão James,

    Agradeço pela visita e pelas palavras. Obrigado pelo lembrete, estarei colocando o selo da Comunidade Cristã de Blogueiros Cristãos no blog.

    Graça e Paz.

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