segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

PORQUE SOU CRISTÃO, FICO NA IGREJA

O problema hoje não é apenas “democratizar” a Igreja. Quem analisar a fundo a atual insegurança de direção e de conceitos na Igreja verificará que ela ficou muito para trás, não só no tempo, mas também em sua própria missão. Consoante opinião de amigos e adversários - em muita coisa a Igreja não palmilhou as pegadas daquele ao qual recorre sem cessar. Daí o interesse pela pessoa de Jesus em contraste com o desinteresse pela Igreja. Onde quer que, em vez de serviço aos homens, a Igreja exerce poder sobre os homens, onde quer que suas instituições, doutrinas e leis se arvoram em meta em si, onde quer que os seus porta-vozes apresentam suas próprias opiniões e interesses como mandamentos e ordens de Deus: ali está sendo traído o mandato da Igreja; esta afasta-se de Deus e dos homens e entra em crise.
Que fazer? Rebelar-se? Reformar? Resignar-se? Amigos e inimigos teimam em lançar à conta de cada cristão engajado o fracasso da Igreja - lamentando ou acusando, com pesar ou sentimentos triunfais. Porém, mais interessante que o eterno repisar na chronique scandaleuse da Igreja, deveria ser a questão: por que um cristão engajado, um insider, sem ilusões, ao qual fosse difícil contar algo original em matéria de histórias escandalosas da Igreja, apesar de tudo, permanece na Igreja. Pergunta-se dos dois lados: do lado dos que estão fora, que acham esbanjamento de energias com uma instituição eclesiástica esclerosada, havendo muito mais chances fora dela. E pelos de dentro, convencidos de que uma crítica radical das condições e autoridades eclesiásticas não se coadunaria com a permanência na Igreja.
(…) Portanto, por que ficar na Igreja? Porque a fé nos infunde esperança de que o programa, a causa de Jesus Cristo, como sempre, continua sendo mais forte do que toda a confusão criada na Igreja e com a Igreja. E, por essa causa, vale a pena o decidido empenho na Igreja e o especial esforço no serviço da Igreja, apesar de tudo. Fico na igreja, não apesar de ser cristão: não me considero mais cristão do que a Igreja. Mas porque sou cristão, fico na Igreja.
- Hans Küng em Ser Cristão, 1976, Imago (pp. 452,455)

Fonte: www.sandrobaggio.blogspot.com/

21 comentários:

  1. Prezado Pr. Juber,

    Em primeiro lugar parabéns pelo excelente Blog. Sempre que posso passo por aqui para ler suas postagens.
    Excelente o seu texto e o que mais vejo nas nossas igrejas, é que muita gente confunde organização com burocracia, matando a espontaneidade. Fiquemos atentos a ambos os excessos!

    Paz do Senhor,

    Fernando Mário de Lucena

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  2. Fernando Mário,

    Sim tudo que é exagero, em excesso costuma não fazer bem. Obrigado pela visita e pela participação.

    Graça e Paz.

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  3. Hans Küng é um servo pra lá de sóbrio é o teólogo católico que toda instituição evangélica gostaria de ter em suas fileiras.

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  4. Roger,

    A tese de doutorado de Hans Küng, foi: "Justificação: A doutrina de Karl Barth e uma reflexão católica".
    Nos anos 60, foi nomeado professor de teologia na Universidade Eberhard Karls em Tübingen, Alemanha, juntamente com o seu colega Joseph Ratzinger (futuro Papa Bento XVI). Foi também consultor teológico para o Concílio Vaticano II.
    No final da década de 1960, Küng iniciou uma reflexão rejeitando o dogma da Infalibilidade Papal.
    Em consequência disso, em 18 de Dezembro de 1979, foi revogada a sua licensa pela Igreja Católica Apostólica Romana de oficialmente ensinar teologia em nome dela, mas permaneceu como sacerdote e professor em Tübingen até a sua aposentadoria em 1996.
    Küng defende o fim da obrigatoriedade do celibato clerical, maior participação laica e feminina na Igreja Católica, retorno da teologia baseada na mensagem da Bíblia.

    Roger, dá-se para ver pela pesquisa, que Küng, tem idéias protestantes, mas sinceramente não acredito que ele seja um teólogo que toda instituição evangélica gostaria de ter em suas fileiras, pelo fato de que muito líder instituicional não gosta de gente "que pensa" e sim apenas robôs que seguem suas ordens sem questionar.

    Abraço.

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  5. Mano, o que foi dito nesse texto foge ao contexto temporal. Religião não é nada atemporal. Talvez o tio Kung estivesse coberto de razão quando disse que por ser Cristão não saia da Igreja, mas hoje é diferente. A igreja tem deixado de ser a mesma vivida nas cartas de Paulo, como instituição. A humanização do que é divino impetrou tanto poder à religião que o amor a Cristo tem dado o lugar ao amor ao dinheiro dentro da igreja, ao poder na hierarquia da igreja e ao status. Não há testemunho. Não há evangelho na face de uma igreja. Não há prazer em assistir as reuniões nojentas que mais são desfile de moda e breguice, dependendo da denominação. O pensamento cativo se dividiu, e a cada dia surge novas e novas linhas de pensamento a-bíblicas. E o idealismo protestante é o mais ridículo e inerte, porque mistura o que deveria ser santo ao que não deveria ser profano. Confunde-se quem não está num templo de barro (ou até de ouro, não é?) à mundanos, unicamente pelo rótulo ou pela falta dele.
    Além do mais, esse texto é meio sem nexo, confuso; talves o estilo literário da época, mas definitivamente não consegue defender a ideia proposta no título, porque ser Cristão não tem nada haver com igreja. Igreja somos eu, você, o leitor que lê esse blog e professa o nome sobre todos os nomes de Cristo. O reunir de que Paulo fala não é necessariamente como aprendemos nos templos reerguidos, pois retrata mais a fraternidade, a amizade, o campanheirismo, a irmandade, o convívio social desinteressado (o que, diga-se de passagem, é o oposto do que se vê aumentando no modismo igrejeiro, onde reina a fofoca, a disseminação de contendas, o acúmulo de ressentimentos, os beijos e cumprimentos falsos, etc). Reunir como corpo de Cristo, como Igreja, está muito longe do que têm feito todos os Domingos por aí.
    É o amor se esfriando e se confundindo e a Bíblia se cumprindo...
    _
    Agora tenho mais um excelente blog para acompanhar...
    Parabéns pela diligência do evangelho nessa nova forma de comunicação (que nem é tão nova assim, rs)...
    Um abraço!
    Graça e abundante paz ao seu coração!

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  6. Lindoélio,

    Obrigado pelas palavras alusivas ao meu blog. Sobre o texto, há um podcast interessante do Ariovaldo Ramos que está no site irmão.com.
    Veja o que ele diz: “Igreja não é movimento de massas, igreja é comunhão dos santos. Igreja é comunhão de gente que se ama, que está querendo ser igual a Jesus, que está querendo, como comunidade, ser igual a Trindade ao ponto de manifestar a unidade que tem na Trindade entre nós. Isso é que é uma comunhão. Se isso está marcado, está debaixo de uma instituição como nome, CGC, endereço, ou se isso está se reunindo nas casas, se isso está se reunindo nas aldeias, se isso está acontecendo de condomínio em condomínio, não tem problema. Desde que essas marcas estejam presentes. Se essas marcas não estão presentes, você tem qualquer outra coisa, mas não o que o Novo Testamento chama de igreja.”

    Obrigado pela participação.

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  7. Pois é, Juber. Vejo que você entende o significado de Igreja de Cristo, e fico feliz! Pena que são poucos os que mantêm a sanidade em seus atos de fé; afinal de contas, precisamos ser totalmente cientes do que cremos, ou não estaremos crendo.
    Faça o favor de deixar sempre seus comentários no meu blog... Vai ser sempre uma honra partilhá-los!
    Um abraço!

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  8. Lindóelio,

    Pode deixar estarei deixando comentários lá.

    Graça e paz.

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  9. Juber,
    graça, paz e bem!

    As lutas que se travam na Igreja hoje são semelhantes às de outrora, portanto as elucubrações de Kung estão adequadas e trazem luz ao contexto eclesial hodierno. Se o/a cristão/ã estiver consciente e pronto, ele/a será discípulo/a de Cristo até mesmo em igrejas “descristianizadas”.

    Os/As supramencionados/as cristãos/ãs que têm os olhos e corações bons irão aos encontros da igreja independente dos desfiles de moda ou do festival de breguices – muito embora aquilo que é moda requintada ou moda brega seja fruto das convenções sociais e dos jogos de poder.

    Quando o/a homem/mulher abraça o discipulado cristão, se ele/a quiser, ele/a tem condições de congregar em uma Comunidade Cristã e não ceder às riquezas, ao poder, ao status, às novas linhas de pensamento a-bíblicas – é o Espírito Santo quem o fortalece. Em outros termos, há como ser protestante na igreja sem cair na superficialidade da Reforma Protestante.

    O/A discípulo/a de Cristo é aquele/a que, de modo humilde e perspicaz, vale-se da fraternidade, amizade, companheirismo, irmandade e do convívio para anunciar e testemunhar o Evangelho. Em meio à lama composta por fofocas, contendas, ressentimentos, cumprimentos falsos e traições, o/a cristão/ã dá o exemplo segundo Aquele a quem serve. Jesus entrava na lama apesar dos riscos, porque as vidas enlameadas são deveras importantes.

    Ser sal no saleiro é mais ou menos fácil. Ser sal nos ambientes em que Jesus freqüentou é a tarefa árdua do/a discípulo/a.

    Felicidades!

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  10. Graça e paz vos sejam multiplicadas.

    A vida de um cristão protestante deve ser por completa, diferente da vida de um cristão católico, mas entendo que, usar uma afirmação (PORQUE SOU CRISTÃO, FICO NA IGREJA) de um teólogo católico para justificar os meios protestantes, mostra que, a diferença que há entre católicos e protestantes, limita-se somente às imagens, uma vez que, o modo de vida dos ditos, evangélicos, não está longe do modo de vida dos católicos, pois hoje, se aceita quase tudo dentro das denominações protestantes...

    Fraternalmente.

    James.
    www.jesusmaioramor.blogspot.com

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  11. amigo Juber,

    gostei de sua ressalva, é verdade, as instituições evitam e renegam pessoas como Küng, como a própria igreja católica o limitou.

    Tomei conhecimento da obra de Küng quando vasculhava os livros de Tânia e achei o Credo, não devido ao autor. E fui lendo os primeiros capítulos e gostando muito.

    Depois o Lucas (do Elan Vital) me informou que havia um ótimo teólogo suiço que ele gostava muito, um tal de Hans Küng. E me lembrei do Credo. O Lucas me disse que ele tinha nascido em Sursee, cidade onde minha irmã morava.

    Poucos dias atrás vi na porta de um cinema que a universidade de Munique estava levando algumas palestras e discuções para o público e que Küng trataria do tema de religiões e tolerância. Pena, pois as palestras seriam proferidas em várias cidades e Küng estaria lá no norte.

    Enfim, estou lendo dele atualmente os Grandes Pensadores Cristãos. Ótima obra.

    Voltando ao tema do Blog, só é aceitável um cristão fora da igreja quando se retira para um MONAstério. Para a solidão para se dedicar de forma especial. Ou seja sai da instituição mas permanece nacomunão dos santos.

    Abrçs,

    Roger

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  12. Edemir,

    Sua opinião pode até soar utopista para quem se desiludiu por completo da igreja, mas concordo com você, também penso assim.

    Obrigado pela sua contribuição enrinquecedora, volte mais.

    Abraço.

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  13. Irmão James,

    Acredito que as semelhanças não excetuam nem as imagens hoje em dia. Porque enquanto os católicos têm imagens de gesso, os evangélicos também tem seus ídolos porém em altares psíquicos. Basta ver a idolatria em torno de algumas pessoas do meio.

    Graça e Paz.

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  14. Roger,

    Pois é, quase ouviu o Küng pessoalmente. Como você mora na Alemanha, acredito que terá outras oportunidades para ouví-lo. É um pensador que tem escritos interessantes, mesmo não concordando com tudo, algumas coisas podem perfeitamente ser aplicadas ao contexto protestante.

    Abraço.

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  15. Prezado Pastor,



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  16. Juber, a igreja é humana, então é falha. Não existe instituição humana perfeita. A diferença são os fins a que se destina. Certamente os fins não justificam os erros, mas nos chamam a constantemente rever os caminhos pelos quais a igreja se aventura. Esta constante revisão de si mesma trouxe franco impulso ao cristianismo, e o faz até hoje. M. Lutero foi um dos primeiros a questionar os erros e a propor a refundação da instituição, o que ele conseguiu, graças a Deus. A igreja, por ser humana, deixa-se levar pelos ventos da moda, dos tempos e dos costumes das sociedades nas quais está inserida. E não somente isso: deixa-se levar pela maldade humana e pela mentira, pelo egoísmo e por tantos valores contrários ao Espírito de Deus. O homem que está na igreja busca, quase sempre, o divino, e, em si mesmo, percebe o paradoxo de sentimentos e interesses. Esse paradoxo humano se reflete na instituição, e os ventos de mudança que sopram sobre cada homem sopram também sobre a reunião dos homens, a chamada igreja. A tensão que se verifica na igreja, opondo fé e ambição, por exemplo, está dentro de cada homem, em maior ou menor grau. Tudo o que se vê na igreja existe no humano, não é possível acreditar que a igreja move-se sozinha. É preciso ver que mesmo os que saem da igreja a fim de criticá-la acidamente com mais "propriedade" levam consigo os males que criticam - e, se não os que criticam, outros, certamente.

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  17. Maya,

    Você disse acertadamente que o homem busca o divino na igreja, mas esbarra nas falhas humanas, pois a igreja-instituição é humana. E é por causa deste paradoxo que muitos não o entendendo se frustam e saem da igreja, ou vão para lugar-nenhum ou ficam em busca do "modelo perfeito".

    Obrigado pela rica participação.

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  18. Ou percebem que o que está proposto pelas instituições religiosas protestantes, não é a que se relaciona com o divino e sim com o homem, e que, a comunhão entre irmãos não necessariamente se faz através de denominações protestantes, e sim, através do amor fraternal embora não pertença a nenhuma igreja/denominação, e que a comunhão é com o organismo, com o corpo de Cristo, e não com a organização, com o CNPJ, e, por fim, percebem que a verdadeira comunhão existe onde estiverem dois ou três reunidos em qualquer lugar, mas em nome do Senhor Jesus...

    Fraternalmente.
    James.
    www.jesusmaioramor.blogspot.com

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  19. Irmão James,

    É uma opção, mas não é a única. Pode-se adorar a Deus, em casa, na praia, na floresta, no deserto e até em um templo religioso, ou seja com ou sem instituição. Não importa se é no Monte Geresim (os samaritanos) ou no Templo de Jerusalém (os judeus), adoração é em espírito e em verdade. Jesus referindo-se ao Espírito Santo, disse que o Vento sopra onde quer. Deus é Deus, ele opera onde quer e como quer.

    Graça e Paz.

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