Este ano (2008), está sendo comemorado o centenário da morte de Machado de Assis.
Considerado o mais importante escritor da literatura brasileira. Inicialmente ligado ao romantismo, é em sua fase madura, que produz obras fundamentais como Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e Dom Casmurro (1900), além de contos, cujo realismo não se limita a representar com crueza e sarcasmo a sociedade de sua época, mas transforma, a condição periférica e mesquinha da realidade brasileira, numa imagem pessimista (embora bem humorada) da humanidade.
Ele publicou um conto no livro Histórias sem Data (1884), chamado de "A Igreja do Diabo". Os críticos literários tem este conto como uma fábula, marcada pela ironia. Vou repreduzir um trecho abaixo:
"Conta um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a idéia de fundar uma igreja. Embora os seus lucros fossem contínuos e grandes, sentia-se humilhado com o papel avulso que exercia desde séculos, sem organização, sem regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Vivia, por assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos. Nada fixo, nada regular. Por que não teria ele a sua igreja? Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de combater as outras religiões, e destruí-las de uma vez.
— Vá, pois, uma igreja, concluiu ele. Escritura contra Escritura, breviário contra breviário. Terei a minha missa, com vinho e pão à farta, as minhas prédicas, bulas, novenas e todo o demais aparelho eclesiástico. O meu credo será o núcleo universal dos espíritos, a minha igreja uma tenda de Abraão. E depois, enquanto as outras religiões se combatem e se dividem, a minha igreja será única; não acharei diante de mim, nem Maomé, nem Lutero. Há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo".
(A Igreja do Diabo, Machado de Assis)
Como se vê Machado de Assis continua atual. A religião está sujeita à crítica ferina do escritor. Neste conto Machado de Assis criticou todas as formas religiosas existentes no Brasil, bem como o modo de comercializar a fé através das vendas de conceito religioso. Porque todas as religiões vendem uma mesma ideologia, a salvação. Inclusive, com práticas proibitivas. Na visão de Machado a elite brasileira se afasta das práticas diversificadas de religiões por pura hipocrisia e preconceitos.
Impressionante Juber... às vezes penso que estou exagerando ou "pecando" quando me envergonho da igreja emergente, mas...
ResponderExcluirBendita a cultura que nos redime.
Estou te reencontrando depois de um longo inverno sem Internet. Agora está tudo bem aquí na floresta. Graças a Deus!
Abraços
Mamanunes,
ResponderExcluirFico feliz que esteja tudo bem aí. A gente acaba ficando dependente da internet mesmo. Quanto a cultura, ela é importante mesmo. Esse conto do Machado é de 1884, mas parece que foi escrito para os dias de hoje.
Obrigado pela participação.
Salve Salve brother Juber,
ResponderExcluirantes de qualquer coisa: vc roubou a igreja do diabo de mim!! rs...brincadeira irmão. Fiz uma análise teológica dessa história de Machado pelo viés da eclesiologia, mas ainda não tive tempo de arrumar um ou outro detalhe para o post.
Mas vou te contar, Machado para mim é um excelente 'teólogo', pois faz uma releitura muito boa das estruturas humanas chamando todos para uma profunda reflexão e práxis em contraponto a sua denuncia.
Sou um apaixonado por Machado. Veja o post do dia 30/7 intitulado: “Jesus e Dom Casmurro, uma releitura para os leprosos contemporâneos”
Abraço fraterno
Convidado pelo Anchieta, do seu blog, lhe convido também para participar de uma boa interatividade.
ResponderExcluirPara saber como participar acesse meu blog em http://lucimauroassembleiadedeus.blogspot.com/2008/12/antes-de-partir.html
Forte abraço, caro amigo.
Roberas,
ResponderExcluirOs escritos de Machado de Assis são de uma riqueza imensa. Ali se encontra de tudo, inclusive teologia como você disse. Sinceramente devo dizer, que não tinha conhecimento do seu post sobre ele, mas irei conferí-lo depois.
Abraço.
Lucimauro,
ResponderExcluirObrigado pela indicação. Esses interatividades entre blogs são positivas, pois estimulam os laços fraternos.
Graça e Paz.