quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O VIRUS HN1 (GRIPE SUÍNA) E A “PESTE” DE CAMUS

A cidade onde eu moro tem mais de 600 mil habitantes, desde terça-feira, as aulas na rede pública e privada estão suspensas por tempo indeterminado. Os ônibus e táxis estão sendo equipados com álcool gel, para os passageiros. Os shows, festas civis e religiosas estão suspensas. As igrejas vão limitar suas atividades. Cidades no Paraná e Santa Catarina, também estão adotando medidas semelhantes. Uma ficção literária que muito me impressionou foi “A Peste”, do escritor argelino-francês Albert Camus. O livro é uma metáfora escrita para denunciar os malefícios que os nazistas provocaram quando invadiram a França na II Guerra Mundial. É descrição da impotência do homem diante de uma epidemia incontrolável. O cenário é Oran, cidade da Argélia, onde o escritor nasceu e onde, de um dia para outro, as pessoas começaram a morrer atacadas por um mal desconhecido supostamente transmitido por ratos. Era a peste — epidemia incontrolável, devastadora. A população assustada entrou em pânico. O prefeito, acusado de inoperante pela oposição, convocou uma Comissão de Alto Nível, que decidiu fechar escolas, proibir que as pessoas se reunissem, fechou bares, cancelou festas populares e ordenou toque de recolher à noite. O piedoso bispo proibiu missas nas igrejas e recomendou aos fiéis que ouvissem a “voz do pastor”, diariamente, pela rádio da diocese. Os hospitais e postos de saúde receberam centenas de pessoas assustadas que chegavam de todos os cantos em busca de tratamento para dor de cabeça. A peste, como que impulsionada por espíritos malignos, matou centenas de cristãos, possivelmente pecadores que se desviaram do reto caminho da fé. O mal da peste entrou em Oran sem pedir licença aos representantes de Deus e dos homens que tinham poder no século e matou argelinos e franceses.
Os soldados de brigada militar francesa que protegiam a cidade de Oran, na Argélia, eram considerados diferentes dos alemães que ocuparam a França. Por ordem do comandante, movimentaram-se para ajudar a combater o inimigo invisível. A invasão francesa na Argélia era diferente da ocupação alemã na França? Coisas de geopolítica!
A peste chegou de surpresa. Pessoas ricas e pobres da periferia morriam do mesmo jeito. Os médicos, impotentes diante do mal da peste, declaram-se incapazes de obrar milagres e pediram auxílio ao bispo, que recomendou aos fiéis que orassem ao onipotente. Os santos protetores entraram em férias coletivas e a peste deitou e rolou em Oran.
Igualdade absoluta, diante da peste, todos de Oran se igualaram na desgraça. As autoridades descobriram que também eram seres humanos e, portanto, deveriam apelar ao Poder Superior oculto no céu. Em termos de escritores existencialistas, estou mais para Soren Kiekegaard, mas “A Peste”, de Albert Camus — Prêmio Nobel de Literatura —, é um livro impressionante.

2 comentários:

  1. "Miséria é miséria, em qualquer canto. Riquezas são diferentes" - Titãs.
    ...é isso aí...

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  2. Rubinho,

    É, miséria é miséria em qualquer canto. Eu gostava daquele programa do Fantástico apresentado pela Regina Casé, "Central da Periferia", onde se via que os guetos eram parecidos seja na América Latina ou na África.

    Abraço.

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