sexta-feira, 19 de junho de 2015

Reflexões sobre os 104 da igreja Assembléia de Deus no Brasil


 
A Igreja Evangélica Assembleia de Deus está fazendo 104 anos, e nesse período se tornou a maior denominação evangélica do Brasil. Juntamente com a Congregação Cristã do Brasil, foram as primeiras igrejas pentecostais brasileiras.
Nesses 104 anos, o mundo mudou, o Brasil mudou e as igrejas também mudaram. Algumas mudanças vieram para melhor e outras nem tanto. No início, não havia representação política, porque a igreja sob a ótica pré-milenista, dizia que Jesus voltaria logo, então tinham que ganhar almas, porque o Arrebatamento pré-tribulacionista logo ocorreria. A denominação considerada conservadora, durante anos proibiu o uso do aparelho de rádio entre os seus membros, ocorrendo o mesmo depois com a televisão.
Geralmente quando se refere a história da AD no Brasil, é comum ver a citação dos nomes dos líderes pioneiros do passado e é justo que isso seja feito. Mas gostaria também de lembrar que essa igreja, também deve muito do seu crescimento ao trabalho de muitos e muitos anônimos, pessoas simples, mas apaixonadas por Jesus, que pregavam a Palavra sem receber salário, apenas por amor ao Evangelho. Muitos se esmeraram em trabalhos como: colportores de literatura, distribuição de folhetos, visitação em casas, hospitais, presídios, evangelismo pessoal. Pregavam nos sertões, favelas, comunidades ribeirinhas, andando a pé, de bicicleta ou em barcos precários, atravessando rios, sendo verdadeiros “Ananias” que foram usados por Deus, se tornando “pais na fé” de muitos “Paulos”. Esses “anônimos”, apesar de não ter seus nomes escritos nos livros e enciclopédias que falam sobre a história da nossa denominação, foram verdadeiros heróis da fé, cujas obras são conhecidas diante de Deus.
Hoje, a igreja tem representação política, busca ter presença midiática, vem procurando flexibilizar alguns usos e costumes e contextualizar a linha litúrgica. A denominação é representada por duas Convenções: a CGADB E CONAMAD. Porém, deve-se lembrar que existem outros ministérios assembleianos que não estão filiados às duas grandes convenções nacionais citadas, como por exemplo, a igreja liderada pelo Pr. Silas Malafaia. Duas famílias, estão há anos na liderança das duas convenções. No caso da CGADB, a próxima eleição da mesa diretora será em 2017, mas a candidatura posta é a do filho do atual presidente que está na liderança desde 1988, com exceção para o biênio de 1993/1995, quando ficou na 1ª Vice-Presidência.
No meio evangélico, há pudor (para não usar outros termos) em dar nomes aos bois. Às vezes, o motivo é um desejo de poupar as pessoas, ou provém de uma autocensura comunitária, que nos incapacita de enxergar aquilo que, desfigura nosso rosto público. Dizem que não é de “bom tom” dizer certas coisas. Mas algumas devem ser ditas para que avancemos como comunidade, em direção à maturidade. Chegou o momento de questionar estilos de liderança personalistas e um modelo de intermediação evangélica com a esfera pública. Ao dizer isso, não me refiro apenas a Assembléia de Deus mas sim, a toda Igreja Evangélica Brasileira.
Em termos de olhar histórico, digno de nota foram as menções ao que o sociólogo Gideon Alencar, autor do livro “Matriz Pentecostal Brasileira”, chama de "mito fundante", quando fala do incessamento dos dois primeiros pioneiros da AD depois de mortos, sendo que em vida, Gunnar Vingrem foi voto vencido junto ao seus colegas de ministério, suecos e brasileiros, principalmente quanto a posição da mulher no ministério, que no caso em questão se referia a Frida Virgren. 
Já Daniel Berg, depois de 1912 até o Jubileu de Ouro da AD em 1961 (dois anos antes de sua morte), quando recebeu uma placa comemorativa, havia sido relegado ao ostracismo. Até então o mesmo estava esquecido pela liderança da igreja, nunca foi lembrado para ser ordenado a alguma função ministerial, direção de igrejas. Vivia de forma muito modesta como colportor de Bíblias.
Frida Virgren é outra que foi "esquecida" pela história oficial da AD. Só recentemente sua memória  foi resgatada. Fica aqui a pergunta: Por quê será?
Das setes igrejas da Ásia, apenas duas não receberam advertências de Jesus, as outras sempre tinham um elogio e uma exortação:”Arrepende-te”. No caso da igreja Assembleia de Deus, do nosso falho ponto de vista humano, diria que apesar das críticas que tem que serem feitas, deve-se reconhecer que esta denominação centenária, muito contribuiu para a evangelização e crescimento dos evangélicos nesse país e até em outros.

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