Nos primeiros dias após o golpe, uma violenta repressão atingiu os setores
politicamente mais mobilizados à esquerda no espectro político, como por exemplo
o CGT, a União Nacional dos Estudantes (UNE), as Ligas Camponesas e grupos
católicos como a Juventude Universitária Católica (JUC) e a Ação Popular (AP).
Milhares de pessoas foram presas de modo irregular, e a ocorrência de casos de
tortura foi comum, especialmente no Nordeste. O líder comunista Gregório
Bezerra, por exemplo, foi amarrado e arrastado pelas ruas de Recife.
A junta baixou um "Ato Institucional" – uma invenção do governo militar que não
estava prevista na Constituição de 1946 nem possuía fundamentação jurídica. Seu
objetivo era justificar os atos de exceção que se seguiram. Ao longo do mês de
abril de 1964 foram abertos centenas de Inquéritos Policiais-Militares (IPMs).
Chefiados em sua maioria por coronéis, esses inquéritos tinham o objetivo de
apurar atividades consideradas subversivas. Milhares de pessoas foram atingidas
em seus direitos: parlamentares tiveram seus mandatos cassados, cidadãos tiveram
seus direitos políticos suspensos e funcionários públicos civis e militares
foram demitidos ou aposentados. Entre os cassados, encontravam-se personagens
que ocuparam posições de destaque na vida política nacional, como João Goulart,
Jânio Quadros, Miguel Arraes, Leonel Brizola e Luís Carlos Prestes.
Entretanto, o golpe militar foi saudado por
importantes setores da sociedade brasileira. Grande parte do empresariado, da
imprensa, dos proprietários rurais,
da Igreja católica, vários governadores de estados
importantes (como Carlos Lacerda, da Guanabara, Magalhães Pinto, de Minas
Gerais, e Ademar de Barros, de São Paulo) e amplos setores de classe média
pediram e estimularam a intervenção militar, como forma de pôr fim à ameaça de
esquerdização do governo e de controlar a crise econômica.
O golpe também foi recebido com alívio pelo governo
norte-americano, satisfeito de ver que o Brasil não seguia o mesmo caminho de
Cuba, onde a guerrilha liderada por Fidel Castro havia conseguido tomar o poder.
Os Estados Unidos acompanharam de perto a conspiração e o desenrolar dos
acontecimentos, principalmente através de seu embaixador no Brasil, Lincoln
Gordon, e do adido militar, Vernon Walters, e haviam decidido, através da
secreta "Operação Brother Sam", dar apoio logístico aos militares golpistas,
caso estes enfrentassem uma longa resistência por parte de forças leais a Jango.
Os militares envolvidos no golpe de 1964 justificaram
sua ação afirmando que o objetivo era restaurar a disciplina e a hierarquia nas
Forças Armadas e deter a "ameaça comunista" que, segundo eles, pairava sobre o
Brasil. Uma idéia fundamental para os golpistas era que a principal ameaça à
ordem capitalista e à segurança do país não viria de fora, através de uma guerra
tradicional contra exércitos estrangeiros; ela viria de dentro do próprio país,
através de brasileiros que atuariam como "inimigos internos" – para usar uma
expressão da época. Esses "inimigos internos" procurariam implantar o comunismo
no país pela via revolucionária, através da "subversão" da ordem existente – daí
serem chamados pelos militares de "subversivos". Diversos exemplos
internacionais, como as guerras revolucionárias ocorridas na Ásia, na África e
principalmente em Cuba, serviam para reforçar esses temores. Essa visão de mundo
estava na base da chamada "Doutrina de Segurança Nacional" e das teorias de
"guerra anti-subversiva" ou "anti-revolucionária" ensinadas nas escolas
superiores das Forças Armadas.
Os militares que assumiram o poder em 1964 acreditavam que o regime
democrático que vigorara no Brasil desde o fim da Segunda Guerra Mundial havia
se mostrado incapaz de deter a "ameaça comunista". Com o golpe, deu-se início à
implantação de um regime político marcado pelo "autoritarismo", isto é, um
regime político que privilegiava a autoridade do Estado em relação às
liberdades individuais, e o Poder Executivo em detrimento dos poderes
Legislativo e Judiciário.
A falta de resistência ao golpe de 1964 não deve ser
vista como resultado da derrota diante de uma bem articulada conspiração
militar. Foi clara a falta de organização e coordenação entre os militares
golpistas. Mais do que uma conspiração única, centralizada e estruturada, a
imagem mais fidedigna é a de "ilhas de conspiração", com grupos unidos
ideologicamente pela rejeição da política pré-1964, mas com baixo grau de
articulação entre si. Não havia um projeto de governo bem definido, além da
necessidade de se fazer uma "limpeza" nas instituições e recuperar a economia. O
que diferenciava os militares golpistas era a avaliação da profundidade
necessária à intervenção militar.
Desde o início havia uma nítida diferenciação entre,
de um lado, militares que clamavam por medidas mais radicais contra a
"subversão" e apoiavam uma permanência dos militares no poder por um longo
período e, de outro lado, aqueles que se filiavam à tradição de intervenções
militares "moderadoras" na política – como havia acontecido, por exemplo, em
1930, 1945 e 1954 – seguidas de um rápido retorno do poder aos civis. Os mais
radicais aglutinaram-se em torno do general Costa e Silva; os outros, do general
Humberto de Alencar Castelo Branco.
Articulações bem-sucedidas na área militar de um grupo
de oficiais pró-Castelo e o apoio dos principais líderes políticos civis
favoráveis ao golpe foram decisivos para que, no dia 15 de abril de 1964,
Castelo Branco assumisse a presidência da República, eleito, dias antes, por um
Congresso já bastante expurgado. O novo presidente assumiu o poder prometendo a
retomada do crescimento econômico e o retorno do país à "normalidade
democrática". Isto, no entanto, só ocorreria 21 anos mais tarde. É por isso que
1964 representa um marco e uma novidade na história política do Brasil:
diferentemente do que ocorreu em outras ocasiões, desta vez militares não apenas
deram um golpe de Estado, como permaneceram no poder. (Celso Castro)
Fonte: Texto elaborado por Celso Castro do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) é
a Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas. Endereço - https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/Golpe1964.
Meu Comentário: Com o agravamento da crise política, com denúncias e mais denúncias de corrupção no meio político, seja em nível federal, estadual ou municipal, e atingindo um número cada vez maior de partidos políticos, vejo crescer um sentimento de descrença com a política partidária e ao próprio regime democrático. É também nítido no país principalmente após as eleições de 2014, uma divisão no país e um clima de ódio.
Falar em alternância de poder dentro do sistema democrático é uma coisa, mas ultimamente ando ouvindo e lendo sobre gente defendendo a intervenção militar no Brasil, dizendo que é a única solução já que os partidos estão em sua maioria dominado pela corrupção. Aí depois fazem uma ressalva, que essa intervenção deveria ser provisória e tutelada pelo STF, convocando em seguida uma nova eleição.
Esse pensamento é um ledo engano, pois a história como mostra a postagem acima está aí para provar. Em 1964, muitos que apoiaram o golpe também quiseram derrubar o governo e pensavam que o poder voltaria logo para os civis. Carlos Lacerda, um dos apoiadores, queria ser candidato a presidente nas eleições de 1965, que não ocorreu. Juscelino que era senador por Goiás na época votou em Castelo Branco na eleição indireta no Congresso Nacional, também era candidato para a essa mesma eleição.
Resultado, ambos foram cassados juntos com os "comunistas". O regime que era para durar menos de dois anos durou 21 anos. Quando se solta um pitbull, é difícil colocar a coleira de novo.
O apóstolo Paulo diz em I Cor 10:11, se referindo aos cristãos que muitas coisas que ocorreram com os hebreus foi para aviso nosso. Que a história do próprio Brasil seja para nós um aviso para não repetirmos os mesmos erros!
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