segunda-feira, 28 de março de 2016

Os manifestos evangélicos e a crise política do Brasil

Neste mês, em face da crise política que atravessa o nosso país, alguns Conselhos de pastores tem lançado alguns manifestos. Até o momento foram três, mas outros devem aparecer por aí. O primeiro foi o Manifesto de Evangélicos pelo Estado de Direito, assinado por pastores como Ariovaldo Ramos, Ed René Kivitz, Carlos Queiroz e Paulo Cappeleti, entre outros. Todos ligados a Missão Integral da Igreja, que para seus opositores soa mais como uma versão evangélica da Teologia da Libertação. 

A gritaria contra foi grande. Foram chamados de esquerdistas, petistas, ainda foi dito sobre eles, de como poderiam apoiar um partido como o PT, que se deixaram levar pela ideologia, etc. 

O segundo manifesto foi o da Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil, que vai justamente contra a linha feita pelo manifesto anterior. Esse segundo o jornal Folha de São Paulo foi assinado por líderes de denominações como Sara Nossa Terra, Universal, Batista, Assembléia de Deus. O documento faz uma nota de apoio uma nota em defesa do juiz federal Sergio Moro, do combate à corrupção e da punição dos culpados. 

O terceiro foi o do Manifesto à Nação Brasileira do Conselho Apostólico Brasileiro. Fica claro que ele também vai contra o primeiro Manifesto e também que expressa seu conceito de Batalha Espiritual. Não é atoa que ele é assinado entre outros líderes pelas apóstolas Neuza Itioka e Valnice Millomens. 

Olhando a posição política dos  líderes evangélicos brasileiros vê-se o seguinte:

Bispo Rodovalho (Sara Nossa Terra) - Teve o mandato de deputado federal cassado pelo TSE em 2010 por infidelidade partidária.

Valnice Millomens - Entre outras coisas, já profetizou a vinda de Jesus para 2007, e depois a eleição de Marina Silva em 2014.

Edir Macedo/Crivela e a IURD – Demonizaram o Lula na Eleição de 1989. Devem ter feito uma sessão descarrego nele, porque depois de 2003, com o início do governo petista, entraram dentro de corpo e alma, conquistando cargos públicos, mais concessões midiáticas, e etc. Agora, depois de treze anos juntos, o presidente do partido que criaram, diz que eles precisam ouvir “o barulho das ruas” e estão de malas prontas fora do governo, provavelmente já esperando o próximo entrar para embarcar de novo.

Manoel Ferreira (CONAMAD) e José Wellington (CGADB) - Nas últimas eleições Ferreira ficou com Lula e Dilma e Wellington com Serra, já para Aécio parece que o apoio foi mais velado.  
 
Malafaia – Em2002, apoiou Lula e gravou depoimento para o programa eleitoral. Na gestão Lula, foi indicado para integrar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social como representante dos evangélicos. Disse que se afastou do PT durante a tramitação da PL 122 no Congresso que criminaliza a homofobia, e depois de tentativas do governo de tentar puni-lo por considerar seus programas na televisão como tendo conteúdo homofóbico. Em 2010, Malafaia inciou apoiando a Marina Silva, depois rompeu com ela e apoiou José Serra (PSDB), contra Dilma Rousseff. Em 2014, apoiou no primeiro turno o pastor Everaldo (PSC) e no segundo, Aécio Neves (PSDB). Agora convoca manifestações contra Dilma e sobe no trio elétrico junto com o deputado Jair Bolsonaro (PSC) que é pré-candidato a presidente na próxima eleição presidencial.

Marco Feliciano – Crítico do PT, sonha com a Presidência, mas na minha opinião é o elo mais fraco da corrente com Malafaia e Bolsonaro. Vai ter que se contentar em ser um apoiador bolsonarista, porque acredito que até 2018, nem vice ele vai ser.

Caio Fábio – Foi grande apoiador de Lula na década de 90, mas depois do Dossiê Cayman, passou a crítico de Lula, pois diz que o mesmo jogou no seu colo a responsabilidade pelo Dossiê Cayman de 1998. Nas eleições de 2010 e 2014 apoiou publicamente Marina Silva. Não tem mais a influência de antes, mas ainda é um formador de opinião.

Ariovaldo Ramos/Ed René e o pessoal da Teologia da Missão Integral – O Conselho de igrejas que criaram representa uma parcela menor dos evangélicos, pois há grandes denominações não fazem parte da mesma. Mas estão pontuando sua posição e mostrando sua voz, mesmo recebendo críticas de todo lado, depois que lançaram um manifesto, chamando eles de esquerdistas, apoiadores do PT e tal.
 
O que penso: Eu sei que vou contrariar muita gente, mas se fosse me dado a opção de escolher entre os três manifestos acima, eu prefiro assinar o manifesto do Ariovaldo e companhia do que entrar na onda de alguns pregadores midiáticos que se levantam contra o atual governo pelo simples fato de não terem alguns de seus pedidos atendidos, dentre os quais, concessões de canais de TV, cargos públicos, leis que beneficiam sua própria classe, etc.  E tem mais: se o primeiro manifesto é ideológico, os outros também são.

Não concordo com teólogos fundamentalistas de plantão destilando seu veneno para apoiar a derrubada de um governo, distorcendo a Bíblia a seu bel-prazer para impor sua agenda estilo “Maioria Moral” norte-americana sobre um estado laico. Não tenho vocação para ser massa de manobra e nenhum líder religioso tem procuração para pensar em meu lugar.

Não posso  concordar com uma tentativa para derrubar um governo que mal ou bem foi eleito por voto popular. Se me convencessem de que a corrupção só surgiu no país a partir do atual governo e que membros de partidos da oposição também não foram indiciados na operação lava-jato. A lista da Odebretch recentemente divulgada prova que as propinas envolvendo essa empresa estão documentadas em planilhas desde 1988 (governo Sarney).
 
Alguém pode dizer: Mas o Collor também foi eleito e sofreu o impeachment!
É verdade, com o próprio irmão denunciando o esquema PC que acontecia dentro do Palácio do Planalto. Agora, que eu saiba até o momento não houve consenso entre os juristas se realmente a Presidente cometeu os crimes que tipificam um impeachment.

Tudo indica que um Congresso no qual grande parte de seus integrantes estão arrolados em coisas nada éticas, alguns até já respondendo processos como réus e que vão julgar a Presidente. Quanta legitimidade!

Eu até acreditaria do patriotismo de toda esta gente não fosse o fato de que muitos que vociferam contra a corrupção não fossem os mesmos a sonegar impostos ao entrarem no país sem declarar o que compraram em sua viagem a Miami.

O que está ocorrendo é nada mais do que a tomada do poder por um partido que desde a redemocratização em 1985, não saiu do poder, seja como governo (Sarney) ou como participante do mesmo de todos até hoje. Agora um vice que tem 1% nas pesquisas de opinião deve assumir a presidência e fazer uma nova divisão do bolo.

Eu me proporia a fazer coro com a grande turba vestida de verde e amarelo se não tivesse a consciência de que o Brasil corre o risco de dar uma guinada à direita que resultaria no abandono de programas governamentais que contemplam os mais necessitados e que são responsáveis pela inserção de 36 milhões oriundas das classes mais baixas na classe média.

Sou mas favorável a tese da Marina Silva, de que se esperasse a decisão do TSE, caso comprovado ilícito na eleição de 2014, que a chapa inteira fosse cassada e se convocasse novas eleições.

Se eu tiver que marchar, não será contra um partido, mas contra a corrupção cuja metástase já comprometeu todo o tecido político e social deste país. Não será ao lado de Bolsonaros, Cunhas, Aécios, Felicianos e Malafaias, cuja mensagem é de ódio e não de paz.

Observação: O Pr. Geremias do Couto em seu comentário na postagem, informa sobre outro Manifesto, na verdade uma Declaração feita por ocasião do 10º Congresso de Teologia Vida Nova, nos dias 15 a 18 de março de 2016 em Águas de Lindoia/SP, onde pastores e teólogos e líderes evangélicos, como o próprio Pr. Geremias, Norma Braga, Renato Vargens, Franklin Ferreira, Russell Shedd e outros assinaram o documento. Eu não o mencionei porque até então não havia lido sobre o mesmo. Portanto, fazendo aqui  no blog uma correção, em vez de três Manifestos, são na verdade quatro até agora. O nome do último documento citado é Declaração sobre a Atual Conjuntura Sociopolítica da Nação.

Em um assunto como esse, dificilmente se consegue manter a neutralidade, e apesar da Declaração produzida no Congresso da Vida Nova, ter muitos nomes os quais tenho respeito e admiração,  minha posição pessoal não muda, se fosse para assinar um dos quatro, ainda fico com o primeiro que foi mencionado.
 








2 comentários:

  1. Acredito que o Manifesto com maior isenção pelo seu embasamento bíblico-teológico foi o produzido pelo Congresso Vida Nova, assinado por dezenas de pastores e líderes, entre os quais consta também a minha assinatura, que acabou não sendo citado na sua matéria. Ele saiu uma semana antes do Manifesto da TMI.

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  2. Pr. Geremias, obrigado pela contribuição ao lembrar o Manifesto produzido pelo Congresso Vida Nova. Não havia mencionado o mesmo, porque na correria não havia feito uma pesquisa mais ampla e não sabia da existência do mesmo. Mas fiz a devida correção através de uma observação no post.

    Um abraço.

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